terça-feira, 26 de maio de 2009

quinta-feira, 21 de maio de 2009

O funcionalismo de Radcliffe-Brown: Resumo da aula de 05.05.09


Autor: Robson Cunha

Alfred Reginald Radcliffe-Brown nasceu em Birmingham, Inglaterra, em 1881. De origem operária, iniciou seus estudos universitários em Oxford na área de ciências naturais, mas, influenciado por seus professores, especialmente Rivers, mudou-se para Cambridge para estudar Antropologia. Após a colação de grau, realizou trabalho de campo nas ilhas Andaman, no golfo de Bengala, a leste da Índia, e redigiu tese marcada pelo estilo difusionista, na época muito bem recebida nos meios acadêmicos. Contudo, logo após, afastou-se da orientação de seus mestres, notadamente Rivers.

Radcliffe-Brown veio a ser severo crítico daquilo que denominou de "a história conjetural" dos evolucionistas cujo método era o da abordagem dos costumes dos povos baseado simplesmente em conjeturas sobre o passado e não em observações diretas no presente. Dizia que esse caráter historicista do método evolucionista não podia dar resultados significativos para a compreensão da vida e da cultura humana, já que os arranjos contemporâneos existiam porque eram funcionais no presente e não como "sobreviventes" de épocas passadas. Para esse antropólogo, como para Malinowski, interessava o estudo do presente, do tempo sincrônico, e não havia espaço para especulações sobre ‘sociedades primitivas’ vistas sob o prisma do tempo diacrônico.

Radcliffe-Brown fundou uma abordagem teórica antropológica conhecida como estrutural-funcionalismo. Cada sociedade estudada era considerada como uma ‘totalidade’, como um organismo cujas partes eram integradas e funcionavam de um modo mecânico para manter a estabilidade social. Como estrutural-funcionalista, as preocupações de Radcliffe-Brown estavam ligadas à descoberta de princípios comuns entre as diversas estruturas sociais, o significado dos rituais e mitos e suas funções exercidas na manutenção da sociedade. A abordagem foi fortemente influenciada por Durkheim.

Radcliffe-Brown tomou conhecimento da obra de Durkheim através da leitura do livro Formas Elementares da Vida Religiosa, que o sensibilizou de tal forma que, na versão final de sua tese, o livro The Andaman Islanders, publicado em 1922, a sociologia durkheimiana estava definitivamente incorporada na sua maneira de pensar a Antropologia. Dois conceitos básicos, então, são utilizados em sua obra: significado e função social. Para compreender um determinado ritual é necessário, inicialmente, encontrar seu significado, isto é, os sentimentos que ele expressa e as razões que os nativos apontam, para em seguida identificar sua função social naquilo que é importante para assegurar a coesão social necessária para a existência do grupo.

A hipótese apresentada no trabalho, no geral, é análoga à hipotese sobre o papel das ‘representações coletivas’ de Durkheim. Para Radcliffe-Brown, os sistemas de sentimentos regulam a atuação dos indivíduos de acordo com as necessidades da sociedade; tais sentimentos, que não são intatos, são desenvolvidos e expressos no indivíduo pela ação da sociedade sobre eles. A sociedade mantêm-se coesa por força de uma estrutura de normas morais e regras civis regulatórias do comportamento que são independentes dos indivíduos que as reproduzem. Estas normas e regras atuam então como uma espécie de ‘consciência coletiva’. Desse modo, o indivíduo submete-se aos desígnios da sociedade e é o seu produto.

Assim, para Radcliffe-Brown os indivíduos são apenas a expressão da estrutura social. Aí reside a grande diferença que o separa de Malinowski, apesar de comungarem princípios funcionalistas (ou pelo menos compartilhar a rúbrica de ‘funcionalista’). Enquanto considera de mais relevante os princípios da estrutura social e os mecanismos de integração social, Malinowski detêm-se nas motivações humanas e define a função dos elementos culturais segundo as necessidades biológicas do indivíduo.

Radcliffe-Brown tinha ambições maiores no campo da Antropologia. Estava em busca de princípios gerais que norteassem uma ciência natural aplicada à sociedade, cujo objeto seriam os fenômenos da cultura, considerando as funções de suas instituições, costumes e crenças como parte de sistemas integrados. Contrariamente aos difusionistas de geração anterior, que comparavam elementos culturais isolados de regiões diversas, advogava o método comparativo de sistemas culturais totais, tipificados, entendendo que somente assim seria possível a descoberta de princípios ou leis universais que atuam em todas as sociedades humanas. Tais princípios, segundo ele, necessitavam da prova da pesquisa de campo para confirmação, rejeição ou modificação.

O sistema de parentesco era um dos elementos fundamentais de sua análise. Considerava-o, mesmo, o elemento fundamental para compreensão da organização social em sociedades de pequena escala, já que expressava um sistema jurídico de normas e regras que impõem direitos e deveres. A busca de princípios comuns, comparando as diferentes sociedades, tornou-se objeto de suas preocupações.

Ao lado do sistema de parentesco, o totemismo tomou parte importante em seus estudos, e foi objeto de pesquisas na sociedade dos aborígenes, durante pesquisa de campo na Austrália, entre 1910 e 1914. Concebia o totemismo como sendo "uma relação mágico-religiosa específica e permanente entre uma pessoa ou um grupo social, de um lado, e uma espécie ou certo número de espécies de objetos naturais de outro"(Melatti, p.16). Considerava sua importância enquanto fenômeno de um tipo geral, que apresentava diferentes formas em diferentes regiões, e preconizava a utilização do método comparativo na busca de princípios comuns. Para Radcliffe-Brown, a associação de determinadas espécies de animais e objetos a pessoas ou grupos não está nas características em si dessas espécies e sim na relação entre as características de uma espécie com as de outra. Para ele, as diferenças e igualdades encontradas nas características das espécies que estão ligadas a cada grupo são expressas nos rituais e mitos pela relação de oposição ente solidariedade e litígio. Esse entendimento tornou-se referencial para a Antropologia.


Referências
Melatti, Júlio Cezar. ‘Introdução’, In Radcliffe-Brown: Antropologia. Orgs. J.C Melatti & F. Fernandes. Coleção Grandes Cientistas Sociais, São Paulo, Ática, 1978. Pp.7-35
Eriksen, Thomas H. & Nielsen, Finn S. História da Antropologia. Petrópolis, RJ, Ed. Vozes, 2007.

sábado, 9 de maio de 2009

"Antropologia Cultural" e Franz Boas

Autora: Paula Danielle Matheus

Na aula do dia 07/05, a professora Cecilia discutiu as origens da escola boasiana de antropologia cultural e explanou sobre o texto de Celso Casto, "Antropologia cultural", que trata das concepções de Franz Boas, grande antropólogo considerado um dos fundadores da moderna antropologia.

Nascido na Prússia (atual Alemanha) em 1858 numa família judia, entrou para a universidade em 1877, porém como estudante de física. Insatisfeito, mais tarde tornou-se geógrafo, até descobrir sua afinidade com o meio etnográfico. Sua vida foi caracterizada por mudanças e não só nesse aspecto: nesse periodo da sua vida vivia numa ponte entre Berlim e Nova York, como também, nas constantes transições de empregos no mercado de trabalho.
O primeiro trabalho de Boas com aspectos antropológicos foi um estudo dos Esquimós (hoje conhecidos como Inuit ) da ilha de Baffin, no norte do Canadá, em meados do ano de 1883. Apesar de não ser correto considerar esse primeiro trabalho de Boas como uma passagem de sua posição de geógrafo para antropólogo, com certeza foi o primeiro passo. Passou um ano em Baffin, convivendo com a comunidade em diversas atividades do dia-a-dia, mas apesar disso, seu método era mais de um observador do que um pesquisador participante, até porque essa característica do método etnográfico só veio a se tornar chave da antropologia trinta anos depois, com Malinowski. Sua experiência com os Inuit gerou-lhe observações as quais o instigou a questionar e se opunhar a idéia de que a "boa sociedade" (a dos europeus) teria vantagem sobre as ditas sociedades "selvagens". Mais tarde, fez outra expedição, agora para estudar os Kwakiutl (Caracterizados pelo Potlach). Seu objetivo principal era estudar a língua e os mitos nativos, como também, reunir objetos para coleções museológicas. Nesse trabalho, ele desenvolveu mais seu método de pesquisa empírico, apesar de passar apenas poucos meses com os habitantes. Ele procurava intelectuais nativos – conhecidos como informantes chaves – para saber de tudo o que lhe interessava na vida daquele povo. Fazia longas entrevistas e anotava tudo que podia e, por conseguinte, não participava da vida nativa. Essa outra forma de abordagem foi realizada porque Boas não ia à suas expedições sozinho, mas sim em grupos de pessoas - geralmente seus alunos - e dessa forma o tempo gasto na pesquisa seria menor.
A vida de antropólogo de Franz Boas foi marcada pelas críticas tanto à doutrina evolucionista quanto à difusionista, porém sem considerá-las completamente erradas. Foi em cima das críticas em relação a Morgan e outros evolucionistas, que Boas começou a fazer seu trabalho. Ele era contra o evolucionismo, pois acreditava na multiculturalidade e não na unilinearidade; e era contra o difusionismo mais radical, acreditando naquele mais tênue - que ocorre entre sociedades reais, ou seja, difusão de traços culturais entre sociedades históricas separadas por pequenas distâncias físicas e geográficas.
Boas defendia a importância de se realizar pesquisas empíricas tomando a antropologia como ciência – assim como fez Malinowski e Radcliffe-Brown. Entretanto, não seria a pesquisa científica de acordo com a linha das ciências naturais e sim a das ciências humanas (dessa vez contrária a concepção de Radcliffe-Brown). A diferença entre as duas formas deriva da diferença entre os seus objetos; por serem 'cientificas', ambas adotam uma postura de objetividade; entretanto, as ciências naturais estudam os fatos reais (objetivos) da natureza, enquanto as ciências humanas estudam (de um modo objetivo) a subjetividade própria dos seres humanos. O objetivo das ciências naturais é chegar a generalizações; em contraste, nas ciências humanas só se pode alcançar descrições bem particulares, uma vez que generalizar teoricamente sobre culturas é totalmente equivocado, enquanto naõ existe uma base empírica etnográfica e histórica solida.
A fonte dos estudos de Boas não era a antropologia física e sim a cultural (na sua formação em alemanha abordava questões folcloristas), mesmo que tenha feito estudos sobre a craniologia. Acreditava que a etnologia deveria ser baseada na história dos povos. Muitas vezes se referem à escola boasiana com o termo "particularismo histórico" – uma forma de criticar Boas, pois se concentrar em ‘particularismos’ não possibilita a teorização sobre a humanidade e a cultura como um todo. Mesmo que esse ponto de vista tem algum valor, seria mais justo com Boas a denominação de "historicismo cultural". Ele queria entender a história, mas não chegar a ela cheio de pré-noções e pré-conceitos. Acreditava, também, que todo trabalho tem que ser feito, nada está pronto – É necessário ir a campo e procurar saber da cultura dos povos a partir dos informantes chaves, aos quais se perguntaria o passado daquela cultura – fazendo então as histórias culturais particulares. Queria uma história baseada nos fatos e era contra as grandes teorias históricas.
Um ponto forte do trabalho de Boas era ser contra o racismo científico e o etnocentrismo. Ele sempre tentou mostrar uma dissociação entre cultura e biologia. Mostrava que a genética não determinava o tamanho do crânio especificamente de acordo com cada povo: Isso era relativo e fez com que ele se tornasse contra os craniologistas do século XIX.
Boas ao longo da sua vida foi professor da Universidade de Columbia em Nova York. Em seus anos como docente conseguiu juntar um grupo de alunos afastados de preconceitos e com visão contra o racismo científico, o que ajudou muito à transmissão do seu trabalho e de seu posicionamento. Acreditava que esse grupo de estudantes deveria fazer uma antropologia de resgate, ou seja, ir a campo e pesquisar povos que estavam passando por um processo quase de extinção. Isso para Boas tinha caráter de urgência.
Dentre seus alunos espetaculares estavam Alfred Kroeber (1876 - 1960) e Robert Lowie (1883 – 1957). Outras alunas de Boas que se tornaram expoentes na antropologia norte americana foram Margaret Mead e Ruth Benedict. Elas fundaram a linha de pensamento boasiana chamada "Cultura e Personalidade", aproximando psicologia e cultura. Acreditava-se que para estudar a cultura teria que se olhar também como que cada indivíduo age na sociedade – teoria um tanto contra as concepções de Durkheim.
Em decorrência do sucesso desses trabalhos realizados em prol da existência de "cultura(s)" e não "cultura", e contra o racismo, que Boas se tornou o fundador da antropologia cultural norte-americana e que sua uma abordagem se tornou das mais bem aceitas e coerentes,. Seu legado nao está apenas presente nos seus escritos acerca de sua concepção de antropologia, e sim nos ensinamentos que transmitiu a seus alunos: os expoentes da antropologia norte-americana.

Engels e as Origens da Opressão da Mulher


Autoras: Élida Franco & Lorena Correia

Resumo da aula de antropologia – 16/04/09

A aula iniciou com a distinção entre diacrônica e sincrônica. Os antropólogos evolucionistas do século XIX se preocupavam com o tempo diacrônico que se caracteriza pelo fluir do tempo e, portanto, pelo processo histórico (cronologia). O seu interesse principal era desvendar as origens da ‘cultura’ ou ‘civilização’. Em contraposição, o tempo sincrônico consiste no momento presente, atual. Os antropólogos modernos, após Malinowski, têm estudado a sociedade e a cultura a partir de um interesse no que ocorre no presente, ou seja, a partir de um enfoque sincrônico. A sua principal preocupação era explicar o presente, e não o que ocorreu antes. A antropologia moderna deixou de se preocupar com as origens da cultura, preferindo explicar o presente,. (Entretanto, após os anos 1980, pensou-se que excluir a história e o passado da mira da antropologia era radical demais e a disciplina voltou a discutir a relação entre presente e passado).

Nas décadas dos 1960 e 1970 algumas antropólogas feministas marxistas ocidentais - até mesmo no Brasil e na América Latina - enquanto se baseavam nesta abordagem sincrônica, se inspiraram com a teoria evolucionista de Marx e Engels sobre as origens da desigualdade sexual (Ver Sacks 1975). Para Engels, a família, a organização econômica e a política resultavam da evolução da sociedade, argumento que esse autor marxista desenvolveu no seu livro “A origem da Família, da propriedade Privada e do Estado” (1884).

Segundo a aula, na antropologia a família é entendida como composta de relações sociais entre pessoas. No senso comum, a propriedade é representada como uma relação entre pessoa e objeto. Entretanto, os antropólogos inspirados pela teoria marxista entendem que a propriedade privada é também uma relação social.
Marx foi o autor de uma teoria sobre a sociedade conhecida como ‘materialismo dialético’. Esta é teoria parte do pressuposto que a existência humana nas suas formas materiais determina a consciência humana.

Engels era amigo e colega de Marx, com quem ele havia discutido as questões trabalhadas no seu livro. Além disso, ele teve como base as anotações que Marx havia feita sobre o trabalho de Morgan, o livro “A sociedade antiga” (1877). Os dois criadores da teoria marxista conheciam as publicações dos evolucionistas culturais, inclusive, os debates sobre a primordialidade - ou não - da matrlinearidade. Baseado nestes autores, no seu livro Engels argumentou que nas sociedades primitivas as mulheres eram livres e que havia igualdade e paridade política entres os sexos. Os gens (que são definidas como um agrupamento de famílias, equivalente a clã) eram as unidades econômicas. Para Engels, nesta época antiga não existia a instituição da ‘família’ e a divisão social era fraca. A produção econômica era de subsistência e os povos eram auto-suficientes. Nesse tipo de 'economia de subsistência', os produtos só tinham valor de uso e não 'valor de troca'. Para exemplificar esse tipo de sociedade, Engels cita as comunidades iroquesas, onde as mulheres possuíam posição elevada.

Para Engels, a época era caracterizada pela igualdade entre os sexos. Como resultado do alto status atribuido às mulheres nessas sociedades, o parto era considerado um ato coletivo, social. A posição das mulheres derivava dos aspectos materiais da vida social. Não havia propriedade privada, apenas pertences particulares. Estes últimos eram ferramentas e pequenos artigos de uso, os quais não produziam excedentes que podiam ser trocado. Desta forma, não havia riqueza. Uma pessoa não ficava mais rica do que outra, porque ninguém produzia mais do que consumia. O surgimento da propriedade privada aconteceu quando os homens domesticaram os animais grandes e começaram a criá-los e reproduzí-los. Assim, havia sobras ou excedentes e este fato possibilitou a troca. Já que apenas o homem era responsável pelos cuidados com os animais, esse começou a enriquecer.

Segundo Engels, os donos dos animais também seriam donos das terras agrícolas e as pastagens onde os animais ficavam. Assim, surge a desigualdade entre homens e mulheres, pois estas não possuíam animais. Ocorria paralelamente que uns homens ficavam ricos e outros não. Desse modo, surgiu a desigualdade social.

Marx e Engels não eram os primeiros a associar o surgimento da desigualdade entre os seres humanos com a invenção da propiedade. Para Rousseau, o surgimento da propriedade privada acarretou na desigualdade social.

Na história contada por Engels, as mulheres tornaram-se propriedade do homem, ou seja, foram subjugadas ao poder masculino. Após disso, a mulher deixou de ser social e seu campo de atuação foi restringido aos afazeres domésticos. O parto antes social deixou de ser público, para ser confinado ao domínio privado. Não havia mais celebrações comunitárias em torno do evento. A mulher, então, era somente vista como reprodutora e progenitora dos herdeiros da riqueza acumulada pelo homem.

A tese defendida pelos antropólogos evolucionistas do séc. XIX de que existia o matriarcado na fase da barbárie em todas as sociedades ditas primitivas foi refutada. Hoje os antropólogos e etnólogos não acreditam que em algum momento da história a mulher teve domínio sobre o homem.

Referências:

Burnicore, Augusto C. “Engels e as origens da opressão da mulher”. In Revista Espaço Acadêmico No. 70 Março 2007. Ano VI
http://pt.wikiversity.org/wiki/Latim/

Sacks, Karen. 1975. ‘Engels Revisited: Women, the organization of production and private property’ In Toward an Anthropology of Women (ed. Rayna R. Reiter), NY/London: Monthly Review Press. Pp.211-234