terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Sobre Antropologia Interpretativa

Autor: Pedro

Resumo de Aula:

Concluindo alguns conceitos de Antropologia Interpretativa da aula anterior, inicia-se a aula com definições de literatura, linguagem e cultura. O tema da aula - a teoria interpretativa de cultura desenvolvido nos anos 60 por Clifford Geertz, considerado como um “guru” dessa forma de antropologia simbólica.

Começamos a nos aprofundar sobre o trabalho de Geertz, e suas pesquisas de campo, sobretudo em Bali. Para fazer esse tipo de estudo é necessário identificar os símbolos públicos e todos os seus significados, e ainda, procurar identificar estes através da "perspectiva do nativo". O capítulo discutido na aula - Um jogo absorvente: notas sobre a briga de galos balinesa - trata de importantes simbolos publicos em Bali na época que o casal Geertz residiu lá (anos 1950).

Discutimos a colocação de Geertz de que as “pessoas são tão convencidas com sua cultura, nascendo, vivendo e morrendo sem se questionar sobre essa ”. Essa percepção é relacionada com a noção de hermenêutica na citação:

“As pessoas criam uma correspondência sobre um mundo como parece ser e como deve ser.”

Geertz defende que a cultura tem duas faces: A primeira seria um sistema integrado de símbolos públicos, dentro dos quais os indivíduos habitam e os quais manipulam. (Adonias - aluno de CISO - comentou que tal definição se assemelha à idéia de Durkheim, onde o ser humano já nasce numa estrutura já estabelecida.) A segunda face da cultura, no entanto,´seria que simultaneamente esses sistemas habitam os indivíduos, ou seja, os símbolos públicos habitam os mesmos como matrizes geradoras de ação e pensamento, conduzindo uma pessoa a ver o mundo como inteligível e natural. Tal definição do Geertz se baseia na influência weberiana.

Geertz fala também que o homem é um animal suspenso em uma rede de significados, que ele mesmo tem tecido. Exemplifica esse ponto na sua análise da briga de galos em Bali, mostrando que a pessoa já nasce nesta rede de significado e acaba se habituando, tornando-a uma coisa natural.

Para relatar esses sistemas de símbolos, pensamos primeiramente em lógicas culturais, onde o antropólogo é o tradutor de seus significados, sendo a técnica, mas eficaz, abordada por Geertz, a descrição densa.

No decorrer da aula, ficou claro que o objeto de uma pesquisa que procura fazer uma descrição densa, (ao exemplo do estudo de campo que Geertz fez do 'ritual' da briga de galos em Bali), não precisa ser somente sobre ritual ou religião, mas, de uma forma abrangente, pode ser de outras atividades coletivas, como o futebol. O importante é procurar ver a lógica cultural, que está atrás do interesse individual.Para compreender o significado das rinhas para o povo balinês, é necessário entender a sua ordem social, a relação entre os participantes e as hierarquias estabelecidas. Para isso, precisa compreender o contexto histórico da organização hierarquica nas aldeias, que começou como castas (do Hinduísmo), o que resultou numa idéia de status, onde cada pessoa nasce com a sua posição já estabelecida.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

FUNCIONALISMO & FUNCIONALISMO ESTRUTURAL

Autoras: Nágela Weber e Simone Cerqueira

Ata da aula de 28.10.2010

A professora Cecília McCallum inicia a aula relembrando a anterior e nos diz que Malinowski, criador do Método Etnográfico, não é conhecido como um bom teórico, mas defendia uma teoria antropológica conhecida como funcionalismo. Há várias teorias funcionalistas na sociologia, na psicologia, porém, hoje, a nossa aula será sobre o funcionalismo de Malinowski e o funcionalismo-estruturalista que Radcliffe-Brown defendia. As duas abordagens são relacionadas, mas, ao mesmo tempo, têm suas diferenças. Para melhor entendimento a professora faz uma esquematização e utiliza-se de slides produzidos no semestre 2010.1 por Bruna Zagatto (estudante do mestrado), para demonstrar o que é semelhante e o que é diferente nas duas teorias.

Segundo a professora, a primeira coisa que se tem, a saber, sobre o desenvolvimento destas teorias é a conjuntura histórico-social da época e lembrou que Malinowski, durante a primeira Guerra Mundial teve seus movimentos limitados. Após o término da guerra ele voltou para Inglaterra e foi professor no LSE na Universidade de Londres onde desenvolveu uma escola ‘funcionalista’. As ideias dessa escola continuaram muito importantes para a antropologia até os anos 60. A relação entre a teoria funcionalista e o campo, o lugar de fazer a pesquisa, a forma de escrever as monografias etnográficas, também chamadas etnografia, foi fundamental, pois nesse período, só se fazia teoria atrvés de estudos específicos de determinados povos, uma abordagem onde a análise teórica era feita apenas na discussão de dados empíricos.

Nessa época, a conjuntura histórico-social também influenciou a antropologia. Tinha movimento de pessoas entre países, muitas vezes porque essas pessoas eram “mal vistas” nos seus países de origem. Os eventos e processos políticos da época evidenciaram a pior forma de racismo que se vai conhecer: O extermínio e perseguição de milhares de judeus. Dentre as categorias de pessoas mal-vistas eram muitos estudiosos, como por exemplo alguns dos quatro grandes antropólogos fundadores de várias escolas da antropologia moderna.
Cada um tinha características sociais diferentes.

* Radcliffe-Brown FUNCIONALISTA ESTRUTURAL , era operário inglês, que teve grande êxito, mas tinha que se provar o tempo todo, pois sofria de preconceito, direcionado naquela época contra pessoas de origem 'baixa'. por causa das diferenças culturais entre as classes.

* Malinowiski (era migrante polonês), FUNCIONALISTA.


* Marcel Mauss (1872-1950) da França era judeu da ESCOLA FRANCESA.


* Franz Boas (1858–1942), Estados Unidos (era alemão judeu), ANTRÓPOLOGO CULTURAL.

Voltando ao objeto da aula, a profª. Cecilia falou que o foco estava nas duas escolas britânicas: a de Oxford fundada por Radcliffe-Brown e de, Londres, centrada em Malinowiski.


Radcliffe-Brown levou suas idéias para todos os continentes: Ficou na Austrália por quatro anos, foi para África do Sul, veio para S. Paulo como professor visitante (mas nunca aprendeu a falar português), foi Professor de antropologia na Universidade de Chicago, EUA. Entre os seus sucessores mais ilustres, Evans-Pritchard, Fortes, Max Gluckman, Srinivas, antropólogo indiano.
Em Londres Malinowiski, que era aluno de Seligman, influenciou Raymond Firth, Audrey Richards, Edmund Leach e Issac Schapera, entre muitos outros. Muitos desses antropólogos trabalharam na África.


A professora diz que é difícil explicar a teoria da evolução das ideias antropológicas, sem fazê-la a partir da leitura da etnografia, mas isto deverá ser visto na Antropologia II e III. Dessa lista, cada um tem um modo diferente de escrever sobre suas pesquisas etnográficas e assim fazer teoria antropologia.

Diferenças entre o funcionalismo-estrutural e o funcionalismo

Funcionalismo-estrutural

Crítica severa à história conjetural dos evolucionistas.

Análise sincrônica (presente etnográfico)

Análise estrutural durkheimiana.

Indivíduo é produto da sociedade.

Estudos na África.

Estudos de parentesco e organização social e política


Funcionalismo

Crítica severa à história conjetural dos evolucionistas.

Análise sincrônica (presente etnográfico)

Etnografia detalhada.

Individualismo metodológico.

Estudos no Pacífico.

Estudos da religião, língua, práticas culturais, organização social.



A Profª explica que para Malinowski a família é uma instituição influenciada pelo contexto. Ou seja, as outras instituições ao seu redor a afetam e são também por ela afetadas. Consequentemente, em cada sociedade, a família tem aspectos singulares, talvez únicos. Assim, ele defendia que a família biológica é UNIVERSAL más é transformada em cada sociedade no ESPECÍFICO (a família Trobriandesa, a família Kaxinawá, Panará, etc.). As diferenças e semelhanças só podem ser reveladas através de estudos científicos. Eventualmente ele desenvolve o método etnográfico. O estudo científico de Malinowski determina que o pesquisador tem que conviver imerso no objeto de estudo, aprender a língua. A Teoria Funcionalista emerge também estritamente ligada ao Método Etnográfica. Um ponto importante no funcionalismo é que uma instituição qualquer - por exemplo, um tipo de casamento, ou o kula, ou um complexo xamânico - é vivenciada pelos indivíduos que a compõe. Para estudá-la, não basta ir conversar e fazer entrevistas; também é necessário ver como fazem na prática. Porque, como Malinowski ensinava, às vezes as pessoas dizem uma coisa e fazem outra. Ex. A ideologia do parentesco e a prática nos modos de se relacionar.


A Biologia tinha um lugar importante no Funcionalismo de Malinowski. Ele ensinava que o organismo humano, contextualizado na família (com seus traços universais, e com seus aspectos socialmente específicos) – era cheio de necessidades biológicas e interesses egoístas. A sociedade ao seu redor (o contexto maior) com todas as suas especificidades, era usado e explorado pelo indivíduo (ele exemplificava o argumento com os Trobriandeses). Para Malinowski,o organismo com suas necessidades era, no final das contas, a força-motor da sociedade.


De acordo com a Profª Cecilia McCallum o ibope de Malinowski não vem desta parte do seu pensamento. Em vez disso, a sua importância e aceitação deriva do método etnográfico e dos seus estudos etnográficos, que são clássicos.


A rejeição ou pouca aceitação da versão de teoria funcionalista arquitetado por Malinowski em Londres contrasta com a grande influência exercida por seu rival e contemporâneo em Oxford, Radcliffe-Brown.


Continuando a utilizar os slides de Zagatto, a Profª Cecilia começa a enfatizar as obras de Radcliffe-Brown. The Andaman Islanders (publicado 1910 e republicado em 1922). A primeira publicação tinha influência do difusionismo, de Haddon e Rivers. Radcliffe-Brown fez um estudo dos nativos de Andaman, examinando as características físicas, língua, cultura, tecnologia. A partir disso ele fez uma reconstrução hipotética da história, para explicar suas origens.


A segunda publicação não mais apresenta um caráter historicista, predominando a influência de Durkheim (ele a reescreveu após ler “As Formas Elementares da Vida Religiosa”). O enfoque é dado na organização social, sobretudo nos mitos e ritos.

No livro The Social Organizacion Of Australian Tribes publicado em 1931 ele faz análise de diferentes sistemas de parentesco, o estudo do totemismo e a Teoria dos pares de oposição (retomada posteriormente por Lèvi-Strauss).

Em 1957 publica A Natural Science of Society. Radcliffe-Brown defendia que a sociedade funciona segundo leis que podem ser isoladas. Queria fazer da antropologia social uma ciência nos moldes das ciências naturais. Como faz a ciência natural, quando trata de revelar as leis da naturezza, a antropologia social devia revelar as leis da sociedade. Para ele a sociedade é coesa por força de uma estrutura de regras jurídicas, estatutos sociais e normas morais, que circunscrevem e regulam o comportamento; as Instituições como o sistema de distribuição da terra, as regras para solucionar conflito, a divisão do trabalho, etc.,contribuem para a manutenção da estrutura social. Essa é a função e causa da existência desses sistemas. A estrutura social existe independentemente dos indivíduos que a reproduzem. As pessoas reais e suas relações são agenciamentos da estrutura. E, finalmente, o trabalho de campo deve buscar os princípios estruturais abstratos e os “mecanismos” de integração da sociedade (“mecanismos” = “representações coletivas” de Durkheim).


A professora encerrou dizendo que quando se estuda diferentes sistemas, estuda-se a função das instituições que estão inter relacionadas dentro de um determinado sistema. Uma coisa causa outra que desencadeia outra. Então, quando se faz trabalho de campo tem-se que buscar os princípios estruturais básicos, abstrai o que observa para chegar aos princípios básicos. São os mecanismos de integração da sociedade. O importante é que se revela aqui a influência da visão durkheimiana.


Referências Bibliográficas:

A organização social das tribos australianas (1931). Disponível em: Acesso em: 29 out.2010;

Alfred Reginald Radcliffe-Brown. Disponível em: . Acesso em 29 out.2010

Bronisław Malinowski. Disponível em:
<> Acesso em: 29 out.2010

MCCALLUM, Cecilia Anne. Funcionalismo e funcionalismo-estrutural. Gravação da aula de 28.10.2010

MELATTI, Júlio Cezar.”Introdução” In Radcliffe-Brown: Antropologia cultural. Orgs. J.C. Melatti & F. Fernandes. Coleção Grandes Cientistas Sociais, São Paulo. Ática. 1978. pp7-35.

ZAGATTO, Bruna. Introdução ao funcionalismo e estrutural-funcionalismo. 2009. Slides







Informaçoes Biográficas sobre os dois autores:







A.R.Radcliffe-Brown (1881 - 1955)

ALFRED REGINALD RADCLIFFE-BROWN - Antropólogo britânico nasceu em Birmingham, Warwick, Inglaterra, criador do estudo das sociedades humanas como ciência. Realizou suas primeiras pesquisas antropológicas (1906-1912) nas ilhas Andaman, a sudoeste da Indochina, e na Austrália ocidental, a fim de estudar os sistemas de parentesco e a organização familiar dos povos aborígine. Defendia a condição de ciência para a antropologia e para as demais disciplinas das sociedades humanas, ensinou antropologia na Cidade do Cabo, África do Sul, e em Sydney, Austrália, Chicago e Oxford, nos Estados Unidos. Foi professor-visitante das universidades de Yenching, São Paulo e Faruk I, em Alexandria, no Egito, onde também dirigiu o Instituto de Estudos Sociais e morreu em Londres. Em sua obra literária definiu o fenômeno social como um conjunto de sistemas permanentes de adaptação, fusão e integração de elementos. Como importante antropólogo funcionalista, pesquisou os nativos das ilhas Andaman, no golfo de Bengala e seus principais trabalhos versaram sobre organização social das tribos australianas, sistemas africanos de parentesco e casamento e a estrutura e função nas sociedades primitivas. Seus principais livros foram The Andaman Islanders (1922), The Social Organization of Australian Tribes (1931) e Structure and Function in Primitive Society (1952).



B. K. Malinowski (1884-1942)

BRONISLAW KASPER MALINOWSKI–Antropólogo, polonês, nasceu na Cracóvia, Polônia, em 7 de abril de 1884. Seu pai, um professor de filologia eslava na Jagellonian Universidade e um lingüista e folclorista de certa reputação, era descendente da nobreza polonesa. Sua mãe, Józefa Lacka era lingüista e de uma família proprietária de terras cultivadas. Ele estudou escola pública João Sobieskilica e, depois, na Universidade Jagiellonian onde descobriu Sir James Frazer através da obra The Golden Bough, um evento que aguçou sua curiosidade sobre os povos primitivos e culturas humanas e sobre a sociedade. Foi assim que começou a ampliar seu foco de sua paixão original de matemática e física para os campos da filosofia e da psicologia. Entretanto, apesar dos reveses criado por sua saúde, ele conseguiu obter seu doutorado em Filosofia, Física e Matemática em 1908, graduando-Sub auspiciis Imperatoris, a maior honraria do Império Austro-Húngaro. Depois, ele retomou estudo na Universidade de Leipzig, na Alemanha, com foco em físico-química, onde ele também veio sob a influência do filósofo / psicologia pioneiro de Wilhelm Wundt - que seria similar influência sociólogo francês Émile Durkheim . Em 1910, usando uma bolsa para treinar como um professor universitário, Malinowski viajou para Londres, pesquisou no Museu Britânico. Ele estudou na Escola de Economia de Londres, com Edvard Fronteira Oeste , e recebeu o seu doutoramento em 1913, e seu PhD em Ciência em 1916. Viajou para a Nova Guiné, Austrália, e várias partes da Melanésia. E foi nesse período que começou seu trabalho de assinatura entre os ilhéus de Trobriand, estudando o parentesco, o comércio, os efeitos práticos do ritual e da religião, assim como a intersecção entre ideais culturais e comportamentos reais por dia. Escreveu vários livros, dentre eles, A família entre os aborígines australianos (1913), Os nativos de Mailu (1915), As Ilhas Trobriand (1915), Argonautas do Pacífico Ocidental (1922), A Teoria Científica da Cultura (1922, Mito em Psicologia Primitivo (1926), Crime e costume na sociedade selvagem (1926), Sexo e Repressão na Sociedade Selvagem (1927), A vida sexual dos selvagens na Melanésia Norte-Ocidental (1929), Coral Gardens and their Magic (1935), Os Fundamentos da fé e da moral (1936).

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Os fundamentos da antropologia social. Abordando o fenômeno da reciprocidade 2.

Autoras: Rebecca Patas & Tatiane Fernandes

Retomando e aprofundando o assunto da aula anterior, sobre o texto de Marcel Mauss, a aula de 26/10/2010 deu ênfase ao potlatch. O primeiro tema abordado foi a metodologia da Mauss, que explica as dádivas, os rituais, os fatos por meio da lógica interna de cada sociedade, citando vários exemplos, reforçando esse sistema lógico diferenciado. Mauss divergia dos evolucionistas no que diz respeito à comparação: segundo o ‘método comparativo’ desses últimos, tudo se mistura, e os objetos, instituições, costumes e crenças são abordados de uma forma descontextualizada. Para Mauss, tinha que entendê-los dentro do contexto onde eram praticados e criados.

Malinowski também insistia no estudo desses fenômenos em contexto. Como ele, Mauss rejeitou a idéia de “economia natural”, - baseada no pressuposto de que os indivíduos desejam apenas satisfazer suas necessidades, apenas fazer o que querem. Assim, defende que todo o ser humano nasce social, não egocêntrico natural. É perceptível a influência durkheimiana no trabalho de Mauss.

Quando de contempla a troca como base de um tipo de economia (que é social e não ‘natural’), as prestações não se dão como simples escambo, são dádivas que implicam numa relação duradoura. Para melhor compreensão, há uma comparação com os dias atuais: o escambo, como o comércio, é uma troca que não gera ligações profundas; em contraste, presentes de aniversário ou as comidas e festividades oferecidas na forma de dádivas, como o caruru de São Cosme e Damião, geram um laço entre os que participam, inclusive, os próprios santos que são convidados para se alimentarem das oferendas. Estes também engajam em relações sociais com os vivos que estão cumprindo antigas promessas.

Uma "prestação total" é aquela que envolve e integra elementos multiplos da vida social, religiosa, política, econômica de uma pessoa ´moral - quer dizer, uma pessoa jurídica (como um clã) ou física - normalmente, uma pessoa que representa uma coletividade, como um clã. Uma "prestação total se da por toda a comunidade: ao dar ou receber presentes e outras oferendas, sua representante contrata por todos, por tudo que possui e por tudo que faz.

Um exemplo dessas prestações totais é o potlatch, ritual dos povos nativos do litoral pácifo do noroeste do continente norte-americano abordado no texto de Mauss, como os Kwakiutl, Tlingit, Haida e outros. O potlatch acontece no inverno, que diz respeito ao ciclo anual, época de recolhimento que gera excedente. É realizado pelo chefe do clã, que convida outro chefe e seus parentes. A tribo convidada chega de forma ritualística, e é recebida com presentes, cermonias e uma abundância de comida, durante dias ou até mais tempo.




A competição no potlatch, detalhe que lhe dá a classificação de “prestação total de tipo agonístico”, se dá quando o convidado tenta superar o anfitrião no seu potlach de retribuição. Há um exagero de gastos, que tende a aumentar, consumindo bens de todo o tipo. Os governos canadense e estadunidense proibiram o potlatch no fim do século XIX, por considerar o ritual uma perda "irracional" de recursos – lembrando que em cada potlatch se consumia mais que o anterior. Com a compreensão do significado do potlatch, a proibição desapareceu em 1934 nos EUA e em 1954 no Canadá. A queima e destruição desses bens é uma oferenda aos deuses, o sacrifício, baseado nessa extinção de riquezas.

A professora apresentou uns slides com imagens de casas Kwakiutl, Tlingit e Haida e também de pessoas dessas nações que participavam dos ciclos de prestações do potlatch. Também detalhou outras características do potlatch, explicando que é realizado para celebrar uma ocasião social, por exemplo, marcando um evento importante (nascimento de uma criança, a puberdade feminina, os ritos funerários e o comércio); tem a função de adquirir status para o chefe, que é a encarnação da coletividade; e tem diferentes níveis de importância.

No outro lado do oceáno Pacifico, também existe "prestações totais", mas não existe potlatch. Mauss discute os tonga, presentes que um clã da para outro segundo relaçoes de parentesco e casamento. Os ciclos de prestações em Samoa já não são competitivos, ou seja, são bem differentes daqueles do potlatch. Mauss construi o esquema da sua explicação sobre as prestações de tonga - e sobre as dádivas em geral - através de uma discussão da noção Maori de hau. A obrigação de retribuir um presente dado (taonga)entre os Maori de Nova Zelândia vem do hau, o espírito da natureza e dos animais, que está nesse presente e deseja retornar ao seu lugar original. Assim, aquele que recebeu esse bem deve retribuir com outro bem, sob pena de reter esse ciclo. Caso não retribuem o presente com um outros presente, a conseqüência será doença e morte.

A obrigação de dar e receber é importante para a manutenção da sociedade: a recusa destes presentes é a recusa das relações sociais, gerando conflito. O sacrifício é uma espécie de dádiva aos deuses, da onde também se espera essa reciprocidade. As dádivas aos homens e aos deuses, portanto, têm a finalidade de comprar a paz com uns e outros.

Referências Bibliográficas:

Mauss, Marcel. ‘Introdução: Da dádiva, e em particular da obrigação de retribuir os presentes’ e capítulo 1 ‘As dádivas trocadas e a obrigação de as retribuir (Polinésia)’ .In Ensaio sobre a Dádiva.

sábado, 23 de outubro de 2010

As Formas Elementares da Vida Religiosa

Autores: RODGER RICHER SANTANA ROCHA & RENDEL PORTO

Resumo da 1ª aula - 9 às 10 horas - dia 21 de outubro de 2010:

Após avisos sobre a entrega do resumo V e a segunda chamada da prova realizada no dia 19/10/10, a professora Cecília dá início ao conteúdo trabalhando aspectos importantes sobre Durkheim e seu texto “ As Formas Elementares da Vida Religiosa” , o qual seria referência para a aula.

De princípio, fora demonstrada a importância da visão de Émile Durkheim mediante as relações sociais, visando entender a organização social; a sociedade. Esse prisma Durkheimiano serviu a Antropologia como fonte de grande influência. Se tomado, por exemplo, o Kula - estudado por Malinowski - percebe-se o caminho o qual conduz os antropólogos a entenderem as relações sociais que se estabelecem. Focando nessa perspectiva, a partir do livro “ As Formas Elementares da Vida Religiosa” , é possível verificar o foco central da Antropologia Social.




Com o intento de facilitar a compreensão, a profª Cecília faz uma retrospectiva sobre os principais conceitos presentes nas principais obras do escritor francês, partindo dos seguintes questionamentos: Quais foram os trabalhos que Durkheim fez antes de 1922 e quais foram as idéias que o influenciaram para compreender a religião? E qual era a relação que a Antropologia tinha com a religião?

Até então, na Antropologia, se estudava principalmente as religiões ditas “primitivas”, e as religiões da época clássica de Grécia e Roma antiga. No Século XIX poucos etnólogos se prontificavam a viajar para realizar estudos etnográficos, preferindo preparar grandes estudos de gabinete, os quais aplicavam uma abordagem evolucionista – ou seja tranado das origens imaginados da religião numa visão diacrônica. Na temática da evolução da religião supostamente primitiva, os evolucionistas estudaram o Totemismo (centrado na representação simbólica de determinado grupo social por algum emblema natural), Xamanismo, Fetichismo, etc.


Tornando a concentrar em uma retrospectiva sobre Durkheim, McCallum apresenta à turma as principais obras do mestre e seus conceitos fundamentais. Como preliminar para a disciussão sobre a abordagem que ele desenvolveu sobre religião, ela lembrou que o trabalho desse sociólogo francês se desenrolava no contexto da defesa do estado laico na França, onde muitos cidadãos eram veementem contra a presença da religião no estado.


Em 1893, Durkheim publica o livro “Da Divisão do Trabalho Social” . Em Suma, esta obra é uma exploração da diversidade e integração das diversas sociedades, analisando as funções sociais do trabalho nas sociedades e como estas contribuem para a coesão social.

Durkheim faz uma distinção entre dois tipos de solidariedade: Solidariedade Mecânica e Solidariedade Orgânica.

Solidariedade mecânica: A coesão se dá porque os indivíduos são similares, homogêneos. O processo de divisão do trabalho forma indivíduos que são cada vez mais capazes de perceber o quanto dependem dos outros. Tal solidariedade é característica das sociedades mais simples, onde os laços sociais são mais fortes, dessa maneira, uma maior coesão social. Algo mais parecido com a engrenagem de um relógio, onde cada peça depende inteiramente da outra. Pelos evolucionistas sociais do século XIX, estas são denominadas “sociedades primitivas”.

Solidariedade orgânica: A coesão se dá porque os indivíduos são diferentes, heterogêneos. Nesse tipo de solidariedade as relações sociais são mais complexas, e Durkheim trabalha justamente a complexificação das funções exercidas por um corpo social, no caso, as relações mantidas através de grupos, instituições, divergindo das sociedades mecânicas, onde as relações são mantidas através de indivíduos com outros indivíduos. Uma metáfora que traduz esse tipo de sociedade é vê-la como o organismo humano. Tal solidariedade é típica das culturas mais complexas, onde os laços sociais são mais fragilizados, também denominadas, pelos evolucionistas clássicos, “sociedades civilizadas”.

A idéia da morfologia e da fisiologia da sociedade, análoga aos órgãos biológicos, tornou-se quase como um dogma na Antropologia no metade do século XX.

Para Durkheim, a Sociologia é o estudo das interações sociais. e o papel das representações sociais nessas interaões.

Em 1895, Durkheim publica “As Regras do Método Sociológico”. A obra serve como um arcabouço teórico para a Sociologia – essa obra colhe frutos de sua importância até a atualidade. A regra fundamental do método consiste em considerar as relações sociais como fatos sociais. Uma regra essencial considera que os fatos sociais só podem ser explicados pelos mesmos.

Segundo a teoria Durkheimiana, não se pode fazer uma explicação social por meio de fundamentos biológicos, como, por exemplo, a teoria das raças, acrescentando que, também, não se pode fazer um reducionismo psicológico para se explicar um fato social.

Tudo o que foi dito se resume à idéia de que a sociedade é um fenômeno sui generis: a sociedade tem uma realidade própria (a sociedade existe fora de qualquer indivíduo, tem sua própria existência) e opõe-se à teoria econômica do século XIX, na Inglaterra, e à teoria econômica atual. A sociologia francesa opunha-se à teoria Econômica baseado no individualismo metodológico.

No livro “As Formas Elementares da Vida Religiosa” Durkheim vai desenvolver a sua teoria sobre o que é a sociedade sui generis.

Durkheim adota para a sua Sociologia uma visão racionalista, baseado na ótica Cartesiana (de Descartes, o filosofo francês). Esse aspecto da visão Durkheimiana é explorado em “ As Formas Elementares da Vida Religiosa” , no qual ele elege como objeto de estudo as representações coletivas religiosas. Ele focou o que ele chamou de “a origem da religião”, discutindo as religiões australianas, tidas como as mais “primitivas” existentes. Más, por “origem”, ele não queria dizer a mesma coisa que os evolucionistas.

Durkheim, divergindo dos evolucionistas, adota para seu estudo uma visão sincrônica sobre a religião, no qual ele tenta estabelecer os princípios fundamentais da mesma obtido pelo estudo do presente. Os evolucionistas por contraste, aplicavam uma visão diacrônica, ou seja, estudar o objeto com vista às mudanças presupostas ao longo do tempo. Para Durkheim, estudar uma religião primitiva era estudar a forma mais elementares de toda a vida religiosa: Levava a um entendimento de qualquer religião, não apenas aquela dos aborgines.

Então, o que é uma religião para Durkheim? È baseado em representações coletivas que compõem a consciência coletiva de um povo, representações essas que atribuem significados sagrados aos seus princípios morais. Segundo Durkheim, os princípios morais se tornarão sagrados como representações religiosas coletivas. Os princípios morais são racionais e inerentes à consciência coletiva, possuem uma forma lógica de ser - por exemplo, o totemismo. Tal fato denota um efeito de persuasão dos fatos morais. A consciência coletiva influencia os princípios morais, ratificando uma existência própria.

Durkheim diz que a sociologia não se fundamenta de um argumento tautológico, pois se refere a coisas distintas (sociedade e indivíduo). A consciência coletiva é social, e não se resume à soma das consciências individuais. É de outra ordem, separada, e superior.

Para Durkheim, o impacto emocional de participação em rituais leva à criação da consciência coletiva. Portanto, a origem da vida religiosa deriva do impacto do ritual social sobre o indivíduo. Colocado em outras palavras, a origem da religião é a sociedade. A vida religiosa tanto expressa simbolicamente a coletividade social, como faz com que exista. Religião não se trata de Deus ou qualquer entidade espiritual: trata de sociedade.

No livro “ As Formas Elementares da Vida Religiosa” , Durkheim escreve principalmente sobre os Aborígenes, e recusa que as sociedades denominadas “ primitivas” não tenham religião, assim criticando a percepção evolucionista de que o totemismo e as outras formas são primitivas ou pré-religiosos apeans. Durkheim observa a religião na perspectiva do social. Segundo Durkheim, a sociedade não existe sem a consciência coletiva.

Na vida cotidiana, os Aborígenes pertencem a diferentes clãs. No momento em que os clãs voltam a se encontrar eles originam tais religiões. O momento da “ emoção” torna-se um momento social na concepção Durkheimiana. Para Durkheim, o sentimento de “ saudade” do rito em cada indivíduo vai produzir coesão social.

De acordo com Durkheim, a dicotomia entre sagrado e profano é muito importante.

A profª McCallum define o conceito de totem: que designa um símbolo sagrado e poderoso do social, e tal símbolo é representado através de algo da natureza que diz respeito aos sentimentos que são comuns a todos os indivíduos pertencentes a determinado grupo, e este sentimento produz coesão social.





O argumento de “ As Formas Elementares da Vida Religiosa” : os totens são os ícones mais poderosos que se verifica para a integração do grupo.

Durkheim diz que a religião é derivada da consciência humana, e, por conseguinte, a religião vai formar as consciências humanas.

Neste capítulo Durkheim remete e retoma Aristóteles, que discorre sobre as categorias universais do conhecimento (tempo, espaço, número, e outros)

Por fim, a professora sugeriu que todos lessem o capítulo indicado!

REFERÊNCI A

Durkheim, Émile. ‘ Introdução’ . As Formas Elementares da Vida Religiosa. [1915]

domingo, 10 de outubro de 2010

A Dominação Masculina na teoria de Engels

Autoras: Lucila De Azevêdo & Jéssica Jesus

Resumo da aula do dia 05 de outubro

A aula começa com o questionamento sobre qual a origem da dominação masculina na perspectiva evolucionista. Friedrich Engels, evolucionista Marxista do Século XIX, procurou explicar essa dominação e exemplifou seu modelo com a cultura e sociedade dos Iroqueses.

Para Engels e Marx, a dominação masculina começa na época em que se cria a idéia e a prática de propriedade privada. A partir dessa teoria, no ‘Comunismo Primitivo’, a propriedade era comunal e as mulheres eram livres e produtivas e viviam em um regime de igualdade com os homens. Em termos produtivos, homens e mulheres eram iguais e também havia igualdade no domínio político. Nesse momento da evolução, segundo Engels, a sociedade era matrilinear, ou seja, as pessoas pertenciam aos clãs das suas mães. Não existia propriedade particular, apenas pertences individuais (objetos, roupas, ferramentas de fácil manufatura). Não havia herança de propriedade, ou seja, os objetos não passava de uma pessoa para outra após a morte do dono.

Baixo esse regime – que Engels e Marx chamavam "o modo de produção primitivo" - a família não era uma unidade econômica, sendo o clã a unidade ou instituição de maior significância econômica, isso porque a propriedade era comum, pertencendo ao clã e não aos indivíduos.

Tudo era de grande valor. Ter um filho era algo de grande importância. Desse modo, não só o papel das mulheres na produção econômica era valorizada, como também o seu papel na reprodução.

O argumento de Engels e Marx inspirou as feministas da década de 60 e 70 de século XX. Elas entendiam que, com o advento do capitalismo, a reprodução – vista como uma atividade feminina - havia sido culturalmente desvalorizada. Só em baixo do suposto ‘comunismo primitivo’ existia uma valorização desta atividade.

O modelo de Engels era de fato uma história imaginada ou conjetural. No entanto, Engels aproveitou do estudo etnográfico que Morgan havia feito dos Iroqueses para exemplificar o seu modelo teórico. A sociedade Iroquesa se organiza segundo um sistema de clãs matrileares. Morgan estudou esse sistema e também notou que as mulheres eram respeitadas e tinham um papel importante na escolha de representantes para o conselho das comunidades– a “Confederação Iroquesa”. Era a mulher que escolhia os homens que o iriam compor esse conselho. Para Engels, essa sociedade era um exemplo do modo de produção primitivo.

Más como acontecia a evolução de um estágio para outro, ou melhor (usando a terminologia marxista) de um modo de produção a outro?

Voltando à história imaginada contado nesse modelo da evolução social: Aos poucos, os homens, além de caçar, começaram a domesticar animais e, como só os homens faziam o trabalho braçal (tese não aceita pela maioria dos antropólogos, visto que contradiz os fatos relatados nos documentos históricos, , por exemplo sobre os iroqueses), eram os donos desses animais. Inicia-se, então, a propriedade particular que começa a ser passada hereditariamente apenas entre os homens. Com isso passam a existir diferenças de poder entre os sexos e também as famílias, visto que uns conseguem acumular mais que os outros. Surge, assim, a desigualdade sexual e social. Aliado à propriedade privada, aparece a necessidade de se reconhecer a paternidade criando-se assim uma sociedade patrilinear que reforça o poder patriarcal. Nesse domínio patriarcal, as crianças eram “propriedade” do chefe (homem) da família. O exemplo clássico desse tipo de sociedade na literatura evolucionista é a Romana, onde o poder patrius era legitimado na lei.

Que diferença fez a propriedade particular para o sistema econômico? No "modo de produção primitivo", o que é produzido tem, apenas, “valor de uso”: O que os indivíduos produzem, consumem para a sua subsistência. Não há sobras nem excedentes. A propriedade privada, por constraste, representava a possibilidade de se ter excedente; podia ser acumulado ou então trocado em comércio. Tinha – na teoria marxista – “valor de troca”.

Para os Marxistas a diferença entre o “valor de uso” e o “valor de troca” é fundamental para toda a história da evolução social até a invenção do sistema capitalista.

Voltando ao “modo de produção primitivo”, a transformação radical que ocorreu nas relações internas da família levou à transformação das relações sociais externas, em sociedade.

Para os antropólogos físicos do século XIX, seguidores da "Teoria das Raças", o determinismo biológico era o que levava a inferioridade da mulher em relação ao homem. Em vez de determinismo biológico, Engels adere ao determinismo material (e nisso ele e Marx seguem Morgan).

No seu capítulo do ‘Iroquois Women: an ethnohistoric note’ no livro editorado por Reiter, Toward an Anthropology of Women. (1975, Judith Brown questiona sobre a origem do alto status da mulher Iroquesa. Segundo Engels, se baseou na importância das mulheres na produtividade. Mas, Malinowski se utilizaria do exemplo de comunidades aborígenes australianas, onde a mulher é altamente produtiva, mas não detém nenhum status e poder, para refutar essa tese.

Para Brown, para que as mulheres obtenham alto status, a produtividade das mulheres deve estar aliada ao exercício do controle político da esfera econômica. As mulheres iroquesas controlavam a economia, pois a elas pertenciam a terra, as sementes, etc. Controlavam o trabalho produtivo e havia produção agricola em abundancia. A distribuição também era controlada pelas mulheres.



A imagem mostra mulheres Iroqueses trabalhando


Não se pode atribuir o sistema de poder feminino iroquês simplesmente à produtividade. O poder estava diretamente relacionado ao controle econômico e ao poder político.





Referencias Bibliográficas
Engels,

Brown, J.K. 1975. ‘Iroquois Women: an ethnohistoric note’. In Reiter, Rayna: Toward an Anthropology of Women. New York and London: Monthly Review Press. Pp.235-251.

Engels, F. A Origem da família, da propriedade privada e do Estado, Ed. Civilização Brasileira, RJ, 1974. [1884]

domingo, 19 de setembro de 2010

Antropologia Urbana: De Gilberto Velho & Roberto Da Matta a Don Kulick

AÚDIO DIGITADO DA AULA DO DIA O2 DE SETEMBRO DE 2010

AUTOR: Italo Paulo Guedes


A premissa básica da Antropologia é a objetividade. Ser neutro, científico. Isso é mais difícil quando se estudo a própria sociedade e cultura. Gilberto Velho coloca justamente isso: como ser objetivo quando se está no ambiente familiar? Achamos que conhecemos muito bem o nosso próprio mundo. Temos que, no estudo antropológico, conseguir alguma distância. A distância é natural quando você vai para um lugar desconhecido e tudo é estranho. Se já se estranha, antes de chegar, já há alguma distância. É mais fácil estudar alguém que é diferente.

Nós temos que criar artificialmente uma distância para estudar a sociedade. Gilberto Velho (1987), questiona o texto do antropólogo carioca Roberto DaMatta O ofício de Etnólogo, ou como ter ‘Anthropological Blues’ (1978), perguntando o que vem a ser realmente distância, essa diferença entre o que é familiar e o que é exótico. Ele dá um exemplo, dizendo que foi num congresso e encontrou pessoas de várias nacionalidades e encontrou muitos pontos em comum. Às vezes você encontra pessoas de culturas diferentes, Japão, Brasil, Inglaterra, mas são capazes de comunicar bem, e passar a noite juntas, curtindo as mesmas coisas.

Esse tipo de leitura crítica é normal na Antropologia.

Então, o que significa “distância”? Será essa diferença entre o familiar e o exótico? Isso é suficiente para determinar o que é distância? Que tipo de distância é? É geográfica? Ecológica? Social? Se é necessário uma distância social, uma pessoa da classe média alta tem que estudar uma pessoa da classe popular. Mas na verdade, se você pensa nessa tensão, nesse constante jogo entre ser objetivo e ser subjetivo, essa distância é um jogo entre identidade e diferença. Ter uma afinidade ou ter uma distância não obedece a critérios nem sociais, nem geográficos. Nesse processo, a comunicação é vital. Quando você quer resolver o problema de buscar objetividade, você deve pensar as formas de comunicação. Como você se relaciona com as pessoas que você está estudando.

A questão da separação entre o familiar e o exótico é artificial, segundo Gilberto Velho. Algo que tem que ser mantido de uma forma artificial para conseguir objetividade, mas ao mesmo tempo se você consegue se comunicar, você tem uma aproximação. Não é uma ida simples do familiar para o exótico e um regresso simples do exótico para o familiar original, no momento que você familiarizou com o exótico. É bem mais dinâmico do que isso. No processo de estranhamento, você vê coisas que são naturalizadas para os nativos. Esse processo é basicamente, via intelectual, via as idéias que guiam a sua investigação e emergem desta.

Assim, Gilberto Velho já dá algumas idéias que vão além do texto de Roberto DaMatta, que traz toda essa questão do exótico e do familiar. Quando ele olha as pessoas do apartamento dele ele pode categorizá-las. Ele conhece suas categorias sociais. Ele não sabe, no entanto, o ponto de vista das pessoas, como eles entendem a vida deles, o mundo ao redor deles, que poderiam até atribuir moralidades pra eles, aspectos morais. Além da expressão “ponto de vista”, um dos objetivos da observação participante, outra também muito usada é “ethos”, a forma em que um determinado povo aborda o mundo. Não é um estereótipo. Você vai conhecer o ethos de um povo através da pesquisa, que é desconhecido antes da pesquisa. Se pode presupor que um povo, mas também um grupo social, tenha um ‘ethos’, por exemplo, o ethos dos porteiros, dos pedreiros, etc. Gilberto Velho diz que uma cidade tem muitas descontinuidades e diferenças, o que leva à possibilidade de estranhamento, de choque cultural, de não reconhecer o outro como você. Ou seja, um afastamento ao invés de uma aproximação.

A aula tratou em seguida de um texto sobre os travestis, que aborda o ethos dos travestis (Kulick 2008) . Como você pode tornar familiar a cultura das travestis? A professora falou, ‘Repare que cultura é uma expressão de algo que é criado historicamente, num momento específico. Então se existiam travestis como a gente conhece hoje, cem anos atrás, tinham uma cultura diferente. Essa cultura que inclui silicone para mudar o corpo foi algo que surgiu recentemente.

O quê que o antropólogo faz? Don Kulick descreve como nesse texto. Ele ficou oito meses no local, um casarão no Pelourinho. Tem muita discussão porque dizem que ele teria vantagem para estudar as travestis por não ser brasileiro. Na realidade, ele aprendeu tudo que ele sabe sobre o Brasil praticamente através dos travestis. Elas que foram as que mais ensinaram ele sobre o Brasil. Ele aprendeu o Brasil na perspectiva delas. Outro ponto que ele aborda é como eles percebem os transexuais. Isso é fruto da observação em um nível mais profundo do que essa descrição que ele faz. Esse é um ponto que ele vai tratar começando com a discussão sobre o quê que tinha sido produzido sobre as travestis na literatura antropológica.

Kulick, além de antropólogo, é também lingüista. Lendo o seu livro, vocês vão perceber que ele transcreve longos trechos de entrevista. Ele foi formada em uma linha da antropologia norte-americana, que é a Antropologia Lingüística. Além disso, ele leu constantemente, quando estava aqui, artigos de revistas, reportagens, comentários mais gerais sobre os travestis veiculados pelo meios de comunicação no Brasil. Para Kulick alguns estudos brasileiros ainda não tinham se afastado de certos preconceitos em relação às travestis: Preconceitos não no sentido pejorativo, mas conceitos que já existiam sobre os travestis quando escreveram. Ele atribui isso também ao fato de os pesquisadores não conviverem com os travestis durante a pesquisa de campo. Para muitos estudiosos as travestis são a ambigüidade em pessoa. Não sabem se são homens ou mulheres. Tem problemas psicológicos. Ele mostra como isso também está espalhado na imprensa. Kulick diz que, ao contrário, as travestis cristalizam a percepção a cultura brasileira sobre sexo e gênero. Definem com nitidez o quê que é esse jeito brasileiro, essa cultura brasileira. Então, ele defende que, na cultura brasileira, a identidade sexual de uma pessoa não está no corpo biológico, mas, está na posição que se toma no ato sexual. Do ponto de vista das Travestis (e, segundo Kulick, da cultura brasieira) é ato sexual que define o gênero.

Ele ficou famoso como o antropólogo que defendia que no Brasil só existiam dois gêneros: homem e não-homem.

Outro ponto importante colocado claramente por Gilberto Velho é que quando a gente fala de que, para estudar sua própria sociedade, você tem que tirar os estereótipos, você tem que estranhar o familiar. Você deve estar aberto a perceber as hierarquias. E muitas vezes as hierarquias sociais já trazem consigo os estereótipos. O antropólogo que quer estudar sua própria sociedade tem que estar o tempo todo se auto-criticando, criticando sua própria sociedade.

Referências Bibliográficas

DaMatta , Roberto. ‘O ofício de Etnólogo, ou como ter “Anthropological Blues”’ In Nunes, E. de Oliveira (org) A aventura sociológica. RJ: Zahar. 1978. Pp.24-35.
Kulick, Don. ‘Introdução’ In Travesti: prostituição, sexo, gênero e cultura no Brasil RJ: Editora Fiocruz. 2008. pp. 18-35
Velho, Gilberto. ‘Observando o familiar’. cap. 9 In Indivídualismo e Cultura. RJ: Jorge Zahar. 1987. Pp. 121-132

terça-feira, 14 de setembro de 2010

O Kula no "Argonautas do Pacífico Ocidental", de Bronislaw Malinowski

<Autoras: Cetilá Itas e Deise Santos

A aula ministrada pela professora Cecilia McCallum no dia 24/08/10 discutia o estudo etnográfico que Malinowski fez da instituição do Kula. Se baseou no capítulo introdutório do livro “Argonautas do Pácifico Ocidental” onde ele faz um resumo dos seus achados sobre esta instituição. O Kula é uma troca cerimonial de objetos, praticadas por homens que moram em um anel de Ilhas localizados ao norte e leste de Nova Guiné.


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Malinowski morou vários anos com os Trobriandeses, na ilha de Kiriwina, que pertence ao grupo de ilhas nesse anel conhecido como as Ilhas Trobriandeses. O objetivo da aula era ilustrar a discussão dos métodos de pesquisa etnográfica utilizados por Malinowski, discutidos em aula anterior. A professora pediu a um dos alunos para fazer um mapa das Ilhas Trobriandesas no quadro para facilitar entendimento durante a aula.










Para ver imagens do Kula e dos trobriandeses a professora sugeriu o documentário da BBC; “Tales From The Jungle”, que retrata a vida de Malinowski, o interesse pela antropologia e como se tronou antropólogo. Para assistir o vídeo podem acessar o site youtube no interne.



Ao iniciar a discussão sobre o Kula, discutiu-se quem são os trobriandeses e qual a tecnologia utilzada para o transporte marítimo quando Malinowski realizou o seu estudo (1914-1918). Os trobriandeses viajavam em alto mar utilizando canoas precárias para participarem nos rituais e cerimônias das trocas kula, em datas antecipadamente marcadas. Os rituais e cerimônias do kula eram acompanhados por transações paralelas, bem distintas, de fins comerciais, chamados de “gimwali”. O gimwali era escambo simples, enquanto o kula era com um jogo sofisticado, cheio de regras, de ceremonia e de magia. Os produtos trocados no gimwali variam de região para região, enquanto na troca ceremonial kula, que era desenvolvida entre dois parceiros, se trocava apenas dois tipos de objetos de valor simbólico. Cada tipo era ligado a uma rota a ser seguida, em direções opostas. Em uma destas rotas os longos colares de conchas vermelhas, denominados soulava, seguiam no sentido dos ponteiros do relógio; na outra rota, as braceletes de conchas brancas, denominados mwali, seguiam o sentido oposto. Malinowski conta que era interessante para cada integrante ter uma quantidade significativa de parceiros, pois isso lhe atribuía “poder”. Os objetos entregues aos seus parceiros poderiam não ser retribuídos no mesmo dia - talvez demorasse um dia, meses, ou anos. E por uma questão ética o parceiro deveria aguardar sem demais cobranças. Na instituição tinha regras que eram respeitadas pelos integrantes.

As mulheres não realizavam trocas durante as cerimônias de Kula, mas isso não queria dizer que não tinham poder próprio. A sociedade Trobriandesa é matrilineal. Quer dizer, ao nascer o filho pertence à linhagem da mulher, portanto a classificação social é matrilineal e não patrilineal...



Malinowski na condição de etnógrafo estava atento aos sentidos relacionados aos costumes. Para ela, a imparcialidade, observação minuciosa, e análise sobre os fatos verificáveis era imprescindível.. Ele tanto estudava do ponto de vista dos nativos (o êmico) quanto do ponto de vista do observador de fora (o ético). É importante ressaltar que o etnógrafo se depara com diversas declarações preconceituosas que se não analisadas com imparcialidade poderão interferir no desenvolvimento da sua pesquisa. O etnógrafo no inicio tem dificuldades de comunicação, pois há necessidade de aprender a língua dos nativos estudados. Algumas expressões não são passíveis de tradução. Malinowski aprendeu a falar língua trobriandes, para poder dar continuidade a sua pesquisa com o povo trobiandes. Ele insistia que era preciso se ambientalizar e ficar atento aos detalhes.

Ao retornar para a Europa Malinowski depois da pesquisa, o antropólogo comparou as jóias da coroa com os objetos de adorno muitas vezes gastos, feios e engordurados trocados entre os nativos das Ilhas trobriandesas – quer dizer os soulava e os mwali, tão apreciados e exataldos, com alto valor simbólico para os nativos. Assim Malinowski pode entender o significado das trocas ceremoniais em cada região. As jóias da coroa, que são entregues a cada nova geração dos familiares, possuem alto valor simbólico e sentimental, alem do valor simplesmente comercial. Desse modo, a semelhança entre os objetos de kula e os objetos herdados em famílias europeus pode ser ligada ao valor sentimental e simbólico que ambas possuem para os povos distintos.

O assunto foi encerrado falando sobre a função Kula e as formas de organização social. Chegou-se a conclusão de que essa relação é extremamente ligada ao pode e paz entre os povos e basea uma supra organização que conecta as doferentes ilhas do anel.




segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Aula de 9/9: Introdução à História da Antropologia

Autores: Heitor Maia e Jéssica Costa

No início da aula a professora Cecília McCallum sugeriu a leitura do livro “História da Antropologia” de Thomas Hylland Eriksen e Finn Sivert Nielsen, para melhor entendimento sobre o nascimento e desenvolvimento da Antropologia Social e Cultural.

Posteriormente a profª Cecília fala sobre o humanismo, que pode ser definido como um conjunto de ideais e princípios que valorizam as ações humanas e valores morais (respeito, justiça, honra, amor, liberdade, solidariedade, etc). Para os humanistas, os seres humanos são os responsáveis pela criação e desenvolvimento destes valores. Desta forma, o pensamento humanista entra em contradição com o pensamento religioso que afirma que Deus é o criador destes valores. Foi ressaltado em aula que o renascimento do século XV e XVI foi um movimento de um lado político e de outro religioso, tendo constante confronto entre cristianismo e o protestantismo. O contato com o outro ser e a questão da alteridade surgiu exatamente nessa época. Surge então a pergunta: “A Antropologia teria surgido com o movimento Humanista ou anteriormente na Grécia antiga com Heródoto?” A filosofia Humanista enxerga todos os homens como iguais. Já Heródoto foi o primeiro a descrever outros povos, porém, ele tinha uma postura preconceituosa e etnocêntrica em alguns de seus escritos etnográficos.

Segundo a professora, essa abordagem sobre o Humanismo ajudará futuramente na interpretação de um texto do antropólogo francês Lévi-Strauss, quem disse que a antropologia moderna (que muitos afirmam começou com Malinowski e o método etnográfico) é a mais perfeita Forma de humanismo (Lévi-Strauss 1973),

Nesse momento o foco da aula mudou para o desenvolvimento da Antropologia no século XIX. Nessa época, a palavra “Antropologia” significava o que hoje chamamos de Antropologia física ou biológica; e a palavra “Etnologia” significava o estudo dos traços culturais de outros povos. Na etnologia daquela época, se estudava principalmente os “outros” como se fossem povos pré-históricos (o caso dos povos indígenas das Américas, os aborigens da Australia e Papua, ou os Africanos, p.ex.) ou como arcaicos. A etnologia focava tanto o passado quanto o presente, sempre considerando os antigos e os povos não-ocidentias contemporâneos como mais primitivos e”inferiores” relativos aos ditos “civilizados” , que supostamente gozavam do grau máximo de civilização .

No decorrer da aula, a profª falou do texto “Introdução à Antropologia Social”, de Lucy Mair. O texto trata das idéias dos séculos XVII, XVIII e XIV e as impressões que os Europeus tinham sobre os povos indígenas das Américas. Ela citou também Rousseau que tinha uma visão positiva dos povos indígenas e criou a idéia do “bom selvagem”, baseada nas descrições dos viajantes. Esse filosofo do século XVIII construiu uma imagem de povos que viviam em uma espécie de paraíso, onde na existia pecado.




Jean-Jacques Rousseau (1712-1778). Célebre filósofo suíço, escritor e teórico político. Foi Uma das figuras marcantes do iluminismo francês, e é considerado um precursor do romantismo


Já Hobbes acreditava que no estado natural esses povos eram inferiores e bárbaros, e que representavam o estado natural de todo e qualquer ser humano. Esse filósofo escocês observou que a vida humana sem a intervenção do estado é curta e bruta. A profª também citou um filme como veiculando muito bem uma visão pessimista e Hobbesiana acerca da humanidade, denominado “A estrada” (The Road – com Viggo Morgensen, de 2009).

Para os etnólogos do século XIX, os povos que eles consideravam como “primitivos” podiam se desenvolver como ou europeus: podiam alcançar o mesmo grau de civilização através de educação e reformas. Lucy Mair também fala a respeito do geógrafo e etnólogo alemão Bastian, que muitos consideram o pai da Antropologia alemã, que no meio do século XIX criou o termo “Unidade psíquica da humanidade”. Como essa expressão ele queria dizer que todas as pessoas, mesmo de lugares afastados, possuíam a mesma capacidade mental.


Adolf Bastian: Autor da famosa frase: “Unidade psíquica da humanidade”, a qual dizia que todo ser humano é igual em capacidade mental.






Durante o século XIX essa teoria foi aceita pela maioria dos etnólogos, quem desenvolviam uma abordagem teórica conhecida como "Evolucionismo Cultural ou Social Clássico". Posteriormente, até o início do século XX, o evolucionismo cultural e social foi substituído pelo difusionismo.



Referencias Bibliográficas
Lévi Strauss, Claude. ‘Os três humanismos’ seção de cap. XV – Respostas a algumas investigações - In Antropologia Estrutural II. (3 páginas) [1973]

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Pesquisa Antropológica. O Trabalho de Campo

Autores: Fábio Maia & Fernanda de Araújo.

A aula foi iniciada confirmando a exposição no dia 31/0/8/2010 de um filme com temática indígena que será base para seminários a serem apresentados pelos estudantes.

Sequencialmente foi relembrado à importância do método etnográfico, assunto já estudado em aulas anteriores. Ao comentar sobre a abordagem empregada nos cursos de antropologia em universidades brasileiras, e os fatores que levaram a professora a iniciar o programa do curso que desenvolve em antropologia I pelo estudo do método etnográfico, a professora enfatizou que a frase “a antropologia moderna” significa aquela em que se uso o método etnográfico. Ainda, mostrou a importância de se conhecer esse método de estudo para melhor entender como se alcança o resultado final da pesquisa em antropologia. A antropologia moderna busca explorar o estudo de diferentes culturas e povos através da observação e convivência com os mesmos. Durante a aula reforçou o trabalho pioneiro de Malinowski de sair do gabinete e realizar a antropologia tal qual ciência, e não se tirar conclusões para construção da analise sobre um determinado tema somente a partir de registros escritos por terceiros - como era feito pelos “antropólogos de gabinete” - e sim através da obtenção de dados durante a observação participante.


* Considerado um dos grandes nomes das ciências sociais brasileiras, da Matta é autor de diversas obras de referência na antropologia,sociologia e ciência política, como “Carnavais,malandros e heróis”, “ A casa e a rua” e “O que faz o Brasil,Brasil ?”

É levantada em sala a seguinte questão: a antropologia é ciência?


Ao explorar o significado e as implicações da frase “observação participante”, chega-se ao meio termo entre o objetivo e o subjetivo: ou melhor, chega-se a ver uma constante tensão. Essa tensão caracteriza as pesquisas etnográficas. A professora pede que por alguns instantes os alunos se imaginem imersas em uma outra cultura, e pergunta: quais seriam as nossas reações diante de costumes diferentes aos nossos? Respondendo a esses questionamentos teríamos um pouco a noção de até que ponto vai a imparcialidade do pesquisador.


Passa a ser trabalhado em sala o texto de Roberto da Matta sobre “o ofício do etnólogo” ou como ter “anthropological blues” que havia sido recomendado como leitura e atividade de resumo na aula anterior (ver programa postado anteriormente para a referência). A professora tocou em alguns dos pontos centrais trabalhados por esse famoso antropólogo brasileiro.


O primeiro ponto de observação que o autor destaca é da necessidade de se realizar uma pesquisa teórica e bibliográfica antes de partir para uma pesquisa de campo. A preparação do projeto de pesquisa através da revisão da literatura sobre o povo e o tema a ser investigada vai oferecer ao pesquisador inúmeras sugestões a serem aplicadas e desenvolvidas durante o momento físico de sua pesquisa, e auxiliá-lo na realização de um trabalho mais eficiente, pois certamente será essa bagagem intelectual que irá direcionar o pesquisador.


Para ilustrar esse ponto de Roberto da Matta, a professora discutiu um exemplo tirado da sua própria pesquisa de campo. Enfatizou de que forma o estudo de parentesco é importante para o entendimento estrutural da sociedade estudada, pois todo grupo social possui relações alicerçadas no parentesco. Para isso, à identificação dos termos de parentesco específcas àquela cultura é imprescindível. Nesse momento a docente cita como exemplo diagramado no quadro, as relações de parentesco dos índios “Kaxinawá” (auto-denominação Huni Kuin). Antes de partir para o camp, outro antropólogo havia estudado o tema. Nessa sociedade, a regra do casamento ou residência pós matrimonial é a “uxorilocal”, ou seja, o homem deve morar junto à família da mulher. Nessa sociedade, os costumeiros matrimônios através das “trocas de irmãos”, proporcionam o agrupamento da família, que é preservado nas seguintes gerações quando se procura repetir a troca. Desse modo, um irmão e uma irmã deve casar com um casal de irmãos de sexo cruzado, que são seus “primos cruzados” (ou seja, uma pessoa casa com o filho de um tio que é “irmão da mãe” e uma tia que é “irmã do pai”).


A professora respondeu em seguida a perguntas sobre os casamentos arranjados, homossexualidade e conduta moral indígena. Observou que apesar de não seguirem um código escrito de direitos e deveres, os Huni Kuin asseguram o controle social e moral da aldeia através das suas práticas culturais. A professora relatou diversas das suas experiências como antropóloga durante o seu convívio com os índios, citando as regras punitivas do grupo, onde o indivíduo que comete um erro, independente de sua idade e posição social, é reprimido verbalmente por todos da comunidade.


Retomada a questão da antropologia como ciência, o olhar de Roberto da Matta é analisado e discutido entre os alunos por inovar a questão do emocional presente no trabalho do pesquisador a partir do momento que o próprio defende a existência de “dois mundos” ou dois sistemas de significados. Nessa perspectiva, Da Matta coloca em questionamento as relações humanas dentro do trabalho do antropólogo, falando do erro de postura de alguns antropólogos que preferem omitir de forma inapropriada a subjetividade vivenciada em seu trabalho. Relembrou como Da Matta rubricou as varias fases de pesquisa, como a fase “teórico intelectual” de preparação e planejamento, onde o pesquisador organiza como será desenvolvido o seu trabalho e a fase final “presencial e existencial”, iniciada com Malinowski que observava os imponderáveis da vida social, para aproximar-se mais do objeto estudado.

É reafirmado que o antropólogo vai fazer a sua pesquisa de campo ciente que irá estudar pessoas que agem com lógica independente da nossa visão sobre as suas ações, pois as mesmas sempre contam com um significado para eles.

São debatidos rapidamente em sala os seguintes assuntos: complexidade das culturas e o relativismo cultural, através da discussão de um exemplo: A pena de morte por apedrejamento que foi imposta a uma mulher acudsada de adultério no Irã, e que é alvo dos noticiários televisivos. A docente sugeriu que ao reconhecer que há uma outra moralidade e uma lógica cultural atrás dessa pena, estamos adotando uma postura de “relativismo cultural”, ou seja, reconhecendo a diferença de abordagem e de opiniões, presente nas culturas.


A aula foi finalizada comentando-se sobre a transformação do familiar no exótico, onde o pesquisador deve tentar de forma “xamânica” se afastar do seu interior.







Considerado um dos grandes nomes das ciências sociais brasileiras, da Matta é autor de diversas obras de referência na antropologia,sociologia e ciência política, como “Carnavais,malandros e heróis”, “ A casa e a rua” e “O que faz o Brasil,Brasil ?”

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Resumo de Aula 1: Falando sobre Antropologia e sobre "O Metodo Etnográfico"


DATA da Aula: 17 de agosto de 2010

Autores do Resumo: Adreyelle de Oliveira Santos & Adonias Oliveira Pereira.

A aula teve inicio com aviso de que na quinta feira, 19, haveria uma palestra com dois líderes indígenas. A seguir, houve a retomada de alguns assuntos da aula anterior. Neste momento, a profª Cecilia McCallum voltou a falar a respeito de alguns tipos de antropologia como as antropologias: física, cultural, social e a própria arqueologia. Na continuação da aula, o assunto a ser tratado foi o da existência das raças. Segundo a Profª Cecilia, há consenso na ciência de que existe somente uma raça: a raça humana, sendo esta a premissa básica da antropologia social e cultural.

A negação dessa premissa pode trazer sérios danos à sociedade. Como exemplo clássico, foi ressaltado em aula o período do Nazismo que, fundamentado na existência da superioridade de raça, dizimou muitos povos. E que não lembra que tal destruição ocorreu pelo fato de Hitler considerar os arianos uma raça superior a todas as outras. Pois bem, as explicações sobre tal assunto serviram de introdução para o próximo tópico da aula: o surgimento da antropologia. Aqui foi visto que este surgimento esteve intimamente relacionado com momentos históricos em que havia exploração das diferenças entres os povos. Aliais, para a profª Cecillia a antropologia surgiu como resposta a esses momentos de matança e exploração. Foi nesse contexto que apareceu a idéia de pensar sobre o outro em relação a si mesmo.

Ainda abordando sobre o surgimento da antropologia, foi exposto que muitos tendem a sugerir Heródoto como o pai da mesma, sugestão esta rejeitada por parte dos antropólogos.

A aula seguiu com a análise do artigo “Novo olhar sobre a evolução humana”, contido no módulo da disciplina. Nesta análise, alguns alunos participaram mostrando as suas percepções do texto. Houve inclusive uma dúvida manifestada por um aluno sobre como explicar tanta diferença entre os povos já que todos surgiram na África. Como resposta foram usados partes do artigo que falavam sobre as migrações e mutações genéticas, sendo estas as razões da diversidade.

Encerrada a discussão sobre o artigo, foi iniciado o adiantamento da aula que seria dada na quinta feira que não poderá ser realizada devido à palestra com os líderes indígenas. Nesta aula, foi abordado a metodologia da antropologia moderna. De inicio a professora solicitou que dois voluntários desenhassem duas figuras no quadro. Neste ínterim, a profª Cecillia conceituou a expressão “antropologia moderna”. Após a explicação os alunos voluntários concluíram os seus desenhos. Um deles desenhou um senhor vitoriano sentado no gabinete lendo um livro e o outro uma pessoa andando. O primeiro desenho representou um modelo de pesquisa antiga: pesquisa de gabinete. Esta era realizada por etnólogos antigos que viam de longe os fatos através de livros de viajantes, cartas comerciais etc. Este era um método não científico. Já o segundo desenho representou uma nova forma de metodologia etnográfica criada por Malinowski. Este pesquisador Polonês, influenciado pelo livro “O Ramo Dourado” de Sir James Frazer (Ele mesmo um dos mais famosos etnólogos clássicos) ingressou no departamento de antropologia no LSE (London School of Economics) da Universidade de Londres em 1910. Foi dito que Malinowski no decorrer dos seus estudos observou a falta de um padrão de boa qualidade na metodologia antropológica, sendo que o mesmo tinha em mente que a pesquisa de gabinete dos etnólogos não era científica.

No prosseguimento da aula vimos que após alguns encontros com outros antropólogos, como àquels ligados à Universiadade de Cambridge, o Haddon e o Rivers, Malinowski descobriu que existia a pesquisa de campo. Malinowski então fez sua primeira excursão para Nova Guine, todavia, sem sucesso. Depois de algum tempo foi para as Ilhas Trobriandeses onde ficou por dois anos em total entre 1914 e 1918. Esta sua viagem ficou marcada como a primeira pesquisa de longa duração. Nesta pesquisa Malinowski aprendeu trobriandês com os próprios nativos e conheceu de perto seus problemas. Foi por meio dessas experiências que Malinowski criou o Método Científico Etnográfico, onde a observação participante era a principal característica.

Bronisław Kasper Malinowski: Uma das suas mais importantes contribuições à antropologia moderna foi o desenvolvimento de um novo método de investigação de campo.

Por fim, foram abordadas na aula as epistemologias da pesquisa científica. A primeira epistemologia exposta foi o método da dedução que é caracterizada pelo uso da lógica para raciocinar do geral para o particular. O filósofo disseminador desse método foi Descartes (1596/1650), também fundador do racionalismo. O segundo método analisado foi o da indução que é o processo de descobrir explicações gerais através do estudo e análise de fatos particulares. Os filósofos que disseminaram esse método foram Bacon (1561/1626) e Locke (1632/1704). Fomos informados também que hoje em dia as pesquisas são realizadas com a combinação de duas epistemologias. Foi Newton que juntou as duas; no entanto, esse cientista britânica achava a observação empírica mais importante.


Isaac Newton (1642-1727) físico e matemático inglês, em sua pesquisa, era adepto do empirismo inglês.


A aula encerrou com a seguinte pergunta: a antropologia é mesmo uma ciência? Foi pedido a cada aluno que fizesse uma análise sobre a questão ao longo do semestre.



















terça-feira, 17 de agosto de 2010

Próxima Aula - Quinta-Feira 19/08 - no auditório do CRH (na pavilhão de Aulas de São Lázaro




LÍDERES INDÍGENAS AMAZÔNICOS EM DIÁLOGO COM SÂO LÁZARO

LOCAL: FFCH/CAMPUS DE SÃO LÁZARO, AUDITÓRIO CRH

PROMOÇÃO: FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS / DEPARTAMENTO DE ANTROPOLOGIA / REVISTA CRH

DATA: 19 de agosto de 2010, 9:00-11:00


Programação

Agustinho Manduca Kaxinawá, ou Inka Muru Huni Kuin, e Osvaldo Kaxinawá, cujo nome indígena é Isaka Huni Kuin, farão uma breve exposição sobre o seu povo, os Huni Kuin do rio Jordão, e sobre o projeto de criação de uma Escola Xamanística, após o que responderão às questões suscitadas pelos estudantes. Eles serão apresentados pela Profa. Cecília McCallum, estudiosa da cultura Huni Kuin do Acre, através de uma breve fala e a apresentação de imagens.

Na sequência, ocorrerá o LANÇAMENTO DO CADERNO CRH VOL. 22 no.57


Quem são os Kaxinawá, Huni Kuin

Os Kaxinawá, que se autodenominam Huni Kuin, “Gente Verdadeira”, são falantes da família lingüística Pano Hãtxa Kuin, “língua verdadeira”. Eles habitam a floresta tropical desde o leste peruano até o Acre, constituindo a população indígena mais numerosa desse estado. Conquistaram o reconhecimento legal e a posse de várias áreas indígenas, nas quais a sua população está crescendo e fortalecendo a sua antiga civilização, através do estabelecimento da sua independência econômica e cultural, o fortalecimento da sua organização política e o engajamento com o estado nacional e a civilização não-indígena. Em todas as terras Kaxinawá do Acre há escolas funcionando com professores indígenas bilíngües, um agente de saúde e um agente agroflorestal.

Entre novembro e dezembro de 2009, dois representantes da Organização Não-Governamental, a AMEI - Associação de Arte, Meio Ambiente, Educação e Idosos de Salvador-BA - conheceram a aldeia São Joaquim, no Rio Jordão, desencadeando, assim, uma parceria na área de educação. Agostinho e Osvaldo Kaxinawá visitam Salvador através dessa parceria.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Programa - FCH 124: ANTROPOLOGIA I - Semestre 2010.2 - Professora Cecilia McCallum

Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas
Departamento de Antropologia

Ementa: O Curso está dividido em 4 módulos e aborda os seguintes temas:
A unidade humana e a diversidade social e cultural. O método etnográfico. Objeto e sujeito na antropologia. Aspectos históricos da formação do pensamento antropológico. Sociedade e Cultura. Alteridade na perspectiva antropológica. Universalismo, Humanismo, Etnocentrismo, Relativismo.

IMPORTANTE: Todos devem ler o texto indicado – marcado com ** no programa - ANTES da aula. As leituras recomendadas (LR) são opcionais.

PROGRAMA

Módulo 1: O que é a antropologia? A abordagem antropológica? Como se caracteriza o objeto (ou os objetos) desta disciplina? O módulo explora essas questões a partir de uma discussão do início da antropologia moderna, focalizando o método etnográfico, aplicado em pesquisas realizadas em contextos sociais e culturais contemporâneos diversos.

Data
12/8 Apresentação da Disciplina

17/8 A abordagem antropológica. Como se caracteriza ‘o objeto’ da disciplina? A unidade humana e a diversidade social e cultural.
Tattersal, Ian. ‘Partindo da África de novo?’ (pp.40-47) e Cann, R.L. & Wilson, A. C. ‘A recente gênese africana dos humanos’ (pp.56-63) In Scientific American, “Novo olhar sobre a evolução humana”, Edição Especial, no. 2. 2003. (LR)

19/8 Metodologia da antropologia moderna. O método etnográfico.
** Malinowski, Bronislaw. ‘Objetivo, método e alcance desta pesquisa’. In Argonautas do Pacífico Ocidental, [1922]. RESUMO -1

24/8 Kula e as Ilhas Trobiandeses
** Malinowski B. ‘Aspectos Essenciais da instituição kula’. In Malinowski. SP: Ática, (Coleção grandes cientistas sociais) pp.84-106.

26/8 Pesquisa Antropológica. O trabalho de campo. Etnografia. (Aula 5)
** DaMatta , Roberto. ‘O ofício de Etnólogo, ou como ter “Anthropological Blues”’ In Nunes, E. de Oliveira (org) A aventura sociológica. RJ: Zahar. 1978. Pp.24-35. RESUMO -2
(LR) Cardoso de Oliveira, Roberto. ‘O trabalho do antropólogo: olhar, ouvir, escrever.’ In: O Trabalho de Antropólogo. 2ª ed. Brasília: Paralelo 15; SP: Editora UNESP, 2000.

31/8 Pesquisa Antropológica (cont.) Estudando um povo indígena. Filme: Os Panará.
** Arnt, R., Pinto, L.F. & Pinto, R. 1998. ‘A história dos índios gigantes’ In Panará: a volta dos Índios Gigantes, pp.68-79 (caps1& 2). SP:Instituto socioambiental.
Ver também http://pib.socioambiental.org/pt/povo/panara

2/9 Pesquisa Antropológica em área urbana.
** Kulick, Don. ‘Introdução’ In Travesti: prostituição, sexo, gênero e cultura no Brasil RJ: Editora Fiocruz. 2008. pp. 18-35. (LR) & (LR) Velho, Gilberto. ‘Observando o familiar’. cap. 9 In Indivídualismo e Cultura. RJ: Jorge Zahar. 1987. Pp. 121-132.

7/9 FERIADO (Reposição de Aula 7 “Filme”) a se combinado

Módulo 2: Como surgiu a disciplina? Aqui discute-se o contexto histórico em que a disciplina surgiu, sobretudo, no Século 19, focando o desenvolvimento de teorias, ideologias e metodologias – ou seja, abordando o contexto social e cultural do surgimento de antropologia como ciência social.

9/9 Situando a antropologia moderna frente ao surgimento da disciplina. Panorama do Século XIX. Introdução a Evolucionismo Cultural. A escala evolutiva. (Aula 8)
** Mair, Lucy. ‘Como se desenvolveu a antropologia social’ capítulo 2, In Introdução à Antropologia Social. RJ: Zahar Editores. 1985. Pp. 24-37.

14/9 Evolucionismo Cultural 1
** Castro, Celso. ‘Apresentação’. In Evolucionismo cultural: Textos de Morgan, Tylor e Frazer (Org. C.Castro). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005. Pp.7-39. RESUMO- 3

21/9 Evolucionismo Cultural 2
** Morgan, Lewis Henry. ‘A sociedade antiga’ (Prefácio e Parte 1). In C. Celso (org.) Evolucionismo cultural, 2005. Pp. 41-65. [1877].

23/9 A invenção de ‘raça’. Teorias raciais no século 19.
** Schwarcz, Lilia.‘Uma história de diferenças e desigualdades: as doutrinas raciais do Século XIX’. In: O Espetáculo das Raças. São Paulo: Cia das Letras, 1993. Pp. 43-66. RESUMO -4

28/9 Antropologia e Ciência. Racismo científico no contexto do imperialismo e colonialismo ocidental do século 19 e 20; Nina Rodrigues e a antropologia criminal.
(LR) Gould, Stephen Jay. ‘Introdução’ In A Falsa Medida do Homem. SP: Martins Fontes, 2003. Pp. 3-14.

30/9 Natureza e Cultura no século 19. A invenção da diferença sexual.
** Rohden, Fabiola . 2003. ‘A construção da diferença sexual na medicina’. Cad. Saúde Pub. 19 (Sup.2)S201-212. Disponível no site: http://www.scielo.br

5/10 Evolução social e econômica: Marx, Engels e a divisão sexual do trabalho.
(LR) Buonicore, Augusto C. ‘Engels e as origens da opressão da mulher’. In Revista Espaço Acadêmico No. 70. Março 2007. Ano VI. (7 páginas)
Online http://www.espacoacademico.com.br/070/70esp_buonicore.htm

7/10 A Divisão Sexual de Trabalho e Desigualdade de Gênero: uma perspectiva etnográfica.
(LR) Brown, J.K. 1975. ‘Iroquois Women: an ethnohistoric note’. In Reiter, Rayna: Toward an Anthropology of Women. New York and London: Monthly Review Press. Pp.235-251.

12/10 FERIADO

14/10 PROVA 1: Avaliação individual escrita

Módulo 3: ‘Sociedade’ e ‘Cultura’ na antropologia do século 20. O módulo introduz conceitos e teorias chaves da antropologia social britânica e da antropologia cultural norte-americana.

19/10 Representações coletivas e a ciência da sociedade. Durkheim e as formas elementares. Tema: Totemismo. (Aula 17) ** Durkheim, Émile. ‘Introdução’. As Formas Elementares da Vida Religiosa. [1915]

21/10 Os fundamentos da antropologia social. Abordando o fenômeno da reciprocidade 1. Tema: sistema de troca de presentes. Etnografia – Os Maori de Nova Zelândia no Séc.18. Noção de hau; Organização social – hierarquia polinésia. Noção de mana.
** Mauss, Marcel. ‘Introdução: Da dádiva, e em particular da obrigação de retribuir os presentes’ e capítulo 1 ‘As dádivas trocadas e a obrigação de as retribuir (Polinésia)’ .In Ensaio sobre a Dádiva. Lisboa: Edições 70. 2008 [1924] RESUMO - 5

26/10 Os fundamentos da antropologia social. Abordando o fenômeno da reciprocidade 2. Discussão Etnográfica: Os povos indígenas da costa noroeste da América do Norte – Tema; o potlatch, reciprocidade, noção de ‘fato social total.’

28/10 Funcionalismo e funcionalismo estrutural 1. Radcliffe Brown e a noção de ‘estrutura social’. (Aula 20)
** Melatti, Júlio Cezar. ‘Introdução’ In Radcliffe-Brown: Antropologia. Orgs. J.C Melatti & F. Fernandes. Coleção Grandes Cientistas Sociais, São Paulo, Ática, 1978. Pp.7-35.

2/11 FERIADO - Reposição de Aula 21 “Funcionalismo e funcionalismo estrutural 2.”
a ser combinado

4/11 O culturalismo norte-americano: Boas
** Castro. Celso. ‘Apresentação’ In BOAS, F. Antropologia cultural. Org. Celso Castro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005. Pp.7-23. [2004]
(LR) Boas, F. ‘Os métodos da etnologia’. In BOAS, F. Antropologia cultural. Org. Celso Castro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005. Pp. 41-52. [1920]

9/11 O culturalismo norte americano: Mead e Benedict. Cultura e Personalidade. Desmontando o racismo cientifico. Pesquisa com uma ‘consciência social’.
(LR) Mead, Margaret. Adolescencia y cultura en Samoa. Buenos Aires: Ed. Paidos . (Coming of Age in Samoa, 1928)

11/11 Discussão Etnográfica: Samoa. Tema: Infância, adolescência e socialização

16/11 A noção antropológica de cultura a partir dos anos 60: Geertz.
** Geertz, Clifford. ‘Uma descrição densa: por uma teoria interpretativa da cultura’ capítulo 1 In C. Geertz. A interpretação das culturas. RJ: Editora Guanabara, 1989

18/11 A noção de cultura: (cont.). (Aula 26)

FILME e discussão. (Aula 27) horário a ser combinado

Módulo 4: Alteridade na Perspectiva antropológica. Etnocentrismo, racismo, orientalismo, relativismo cultural, humanismo, perspectivismo.

23/11 ** Geertz, Clifford. ‘Um jogo absorvente: notas sobre a briga de galos balinesa’ - capítulo 9 - In C. Geertz. A interpretação das culturas. LTC Editora, 1989. RESUMO -6


25/11 Etnocentrismo 1. O índio como o outro dos brasileiros hegemônicos?
** McCallum, C. ‘O Paiakã da 'Veja': mídia, modernismo e a imagem do índio no Brasil’. In Cadernos de Antropologia e Imagem, Vol.12 ‘A imagem do índio no Brasil’ No.1:19-38. 2002.

30/11 Etnocentrismo 2. O Outro dos europeus. Noções de Oriente e Ocidente e os seus usos.

1/12 Humanismo e antropologia.
** Lévi Strauss, Claude. ‘Os três humanismos’ seção de cap. XV – Respostas a algumas investigações - In Antropologia Estrutural II. (3 páginas) [1973]
- _____‘Raça e História’. Cap. XVIII In Antropologia Estrutural II. (LR)

7/12 Relativismo. (Aula 32)
** DaMatta, Roberto. ‘Segunda parte- Antropologia e História’ In Relativizando: Uma Introdução à Antropologia Social. Petrópolis: Vozes, 1983. Pp. 86-142.

9/12 PROVA 2: Avaliação individual escrita

14/12 PROVA FINAL


Informações, textos e noticias:

http://ANT1MCC.blogspot.com

Para ser incluído na lista, envia um e-mail para

CeciliAnne.McCallum@gmail.com


Livros Introdutórios Sugeridos
ERIKSEN, Thomas H. & F. S Nielsen. História da Antropologia. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.
KUPER, Adam. Antropólogos e Antropologia. Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1978.

Recomendado: MALINOWSKI, B. Argonautas do Pacífico Ocidental, SP: Abril, [1922].

Outros Livros Introdutórios
DAMATTA, Roberto. Relativizando: Uma Introdução à Antropologia Social. Petrópolis: Vozes, 1983.
GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. RJ: LTC, 1989
LAPLANTINE, F. Aprender Antropologia. São Paulo: Brasiliense, 2003. [1988]
LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 18ª edição. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004.
MELLO, Luís Gonzaga de. Antropologia Cultural: iniciação, teoria e temas. Petrópolis: Vozes, 1987.
ROCHA, Everardo. O que é Etnocentrismo. São Paulo-S.P. Editora brasiliense, 2002

SOBRE AVALIAÇÃO

IMPORTANTE:
1 - Quem não freqüenta 75% das aulas será reprovado.
2 - Nota Mínima = 7 - Quem não alcançar a nota mínima fará a PROVA FINAL

A avaliação será composta por um conjunto de avaliações, conforme segue:

1. Resumos de Leituras e Aulas & Seminários (peso 3.33)
(Para detalhes ver as informações sobre a Oficina de Leitura Crítica e Escrita Antropológica)

2. Prova Escrita 1 (peso 3.33).

3. Prova Escrita 2 (peso 3.33).


Oficina de Leitura Crítica e Escrita Antropológica

Os trabalhos realizados para esta Oficina valem 10 (peso 3.33 da nota final do curso), e as notas serão distribuídas assim: 6 para os resumos, 4 para os projetos.

A - Resumos dos 6 textos indicados no Programa.

É obrigatório a entrega do resumo do texto antes da aula sobre o texto. O resumo aprovado vale no máximo 1 ponto. O máximo que pode ser obtido para os resumos sendo 6 pontos. Resumos de baixa qualidade serão retornados sem receber um ponto.

B – Resumos das Aulas – Cada aluno entregará por e-mail um resumo detalhado de uma aula. O resumo aprovado vale 1 ponto.

C- Projetos: Análise de filmes sobre os temas tratados em sala de aula, - A turma será dividido em grupos de 3 ou 4 alunos. Cada grupo preparará um projeto (12 projetos, 4 para cada modulo). O projeto será composto de:

(1) 1 texto. (máximo 3 páginas)

(2) Uma apresentação para à sala - 1 seminário (datas a serem combinadas).

O texto deve ser entregue no dia da apresentação do seminário.

Os projetos valem 3 pontos