quinta-feira, 28 de abril de 2011

"ANTROPOLOGIA: ORIGEM E MÉTODOS" por Samuel Barros


( Notas feitas durante a aula da disciplina Antropologia I, ministrada pela professora Cecília McCallum, no semestre letivo 2011.1.)

1. A antropologia moderna desenvolveu uma visão ‘holista’ das sociedades e culturas humanas. Isso quer dizer que, ao pesquisar uma sociedade específica, ela estuda todas as esferas da vida do povo a partir do entendimento de que são integradas. Ou seja, a postura adotada é de procurar apreender uma sociedade ou uma cultura como um todo composto de partes inter-ligadas (holismo).

2. Quanto às bases teóricas da disciplina, faz-se necessário pontuar uma diferença entre a antropologia social, de base francesa e desenvolvida por antropólogos britânicos, e a antropologia cultural, de base germano-norte-americano. Nos EUA, a antropologia divide-se em quatro ramos (a abordagem de “quatro campos”):

- arqueologia

- lingüística

- antropologia física ou biológica

- antropologia cultural


3. Há uma dimensão de disputa na discussão da origem comum da humanidade. No entanto, respaldados pelos estudos antropológicos, é preciso sustentar o nascimento comum como meio de combater o entendimento recorrente em alguns meios de que existem diferentes raças humanas.

METODOLOGIA DA PESQUISA ETNOGRÁFICA

4. Em um momento anterior a Malinowski (que publicou o seu livro sobre os Trobriandeses em 1922) a antropologia era feita a partir dos gabinetes. Com ele, no entanto, desenvolve-se a pesquisa de campo e uma metodologia etnográfica.

5. Por metodologia, entendemos a junção entre lógica e método para o estudo de algo. É o desenvolvimento de uma estratégia lógica para o estudo de um determinado fenômeno. Pontua-se que nem toda metodologia é “cientifica”, como, por exemplo, a metodologia empregada pelos “antropólogos de gabinete” do século XIX, que Malinowski considerou falha.

6. A metodologia etnográfica tem como ferramenta, basicamente, a observação participante. Por observação participante, entende-se uma técnica de investigação usada nas ciências sociais, sobretudo na antropologia, através da qual o cientista, para observar com maior fidelidade e complexidade, participa das circunstâncias sociais que estuda. Trata-se, portanto, de uma técnica composta que oscila entre aproximação e distanciamento, entre uma visão aérea para entender as lógicas gerais das comunidades humanas (observação) e uma imersão na vida cotidiana para alcançar as chaves interpretativas, para entender as sociedades estudas, segundo os seus próprios sistemas de valores (participação). Para ser bem sucedido, por vezes, o antropólogo precisa aprender as normas de convivência, a distribuição do poder, a linguagem, o significado dos acontecimentos sociais, entre outras disposições para que o conhecimento adquirido seja o mais fiel possível aos fatos. Em resumo, considerando em separado o termo “observação” e “participante”, podemos estabelecer que “observação” tem uma dimensão mais objetiva, enquanto “participante” é mais subjetiva. Como exemplos, podemos citar o trabalho de Malinowski, ao pesquisar a lógica de trocas do Kula. Ao mesmo tempo em que ele fazia tabelas detalhadas sobre o fluxo de mercadorias e presentes, ele estava imerso na situação para ser capaz de entender aqueles povos pela sua própria lógica cultural. Não por acaso, os resultados de uma pesquisa que emprega a observação participante são mais ricos, quanto mais tempo o pesquisador permanecer em campo (longa duração).

7. O antropólogo precisa envolver-se com o objeto de estudo, mas, no entanto, é preciso pontuar que esta aproximação tem limites. Estes não são facilmente prescritos por regras gerais, mas antes é necessário avaliar o nível do envolvimento, em cada caso, a partir da lógica cultural. De modo geral, o antropólogo, em seu trabalho, não pode esquecer que cada sociedade humana tem uma determinada lógica cultural, ou seja, o modo como os sujeitos significam o seu tempo e espaço.

METODOLOGIA CIENTIFICA

8. Um conceito central para entender o que é uma metodologia cientifica é a Epistemologia, entendida como a Teoria do Saber ou a Lógica do Conhecimento. A primeira forma lógica de produção de conhecimento cientifica é a dedução. Por dedução entendemos a fixação de um pressuposto geral, de onde por operações lógicas se faz o teste da verdade das proposições especificas. Desse modo, uma metodologia dedutiva lança mão do teste de proposições hipotéticas, que seriam verificadas ou falsificadas durante o teste, para construir o conhecimento. Este é o paradigma epistemológico colocado por Descartes.

9. Malinowski, por sua vez, pregou o uso da indução como método científico. A indução é, basicamente, o processo de descobrir explicações gerais a partir do estudo dos casos particulares. O método de indução foi fundamentado como método científico pelos empiristas ingleses, entre os quais, Bacon e Locke. Malinowski é muito influenciado pelo empirismo.

10. No entanto, é preciso frisar que a antropologia pautada no método etnográfico usa tanto a dedução, como a indução. A indução na antropologia toma a forma de observações minuciosas e de participação na vida do povo estudado, enquanto a dedução na antropologia deve ser pautada na leitura cuidadosa e na análise crítica dos estudos etnográficos já publicados sobre o povo e sobre os temas em foco.