sábado, 23 de outubro de 2010

As Formas Elementares da Vida Religiosa

Autores: RODGER RICHER SANTANA ROCHA & RENDEL PORTO

Resumo da 1ª aula - 9 às 10 horas - dia 21 de outubro de 2010:

Após avisos sobre a entrega do resumo V e a segunda chamada da prova realizada no dia 19/10/10, a professora Cecília dá início ao conteúdo trabalhando aspectos importantes sobre Durkheim e seu texto “ As Formas Elementares da Vida Religiosa” , o qual seria referência para a aula.

De princípio, fora demonstrada a importância da visão de Émile Durkheim mediante as relações sociais, visando entender a organização social; a sociedade. Esse prisma Durkheimiano serviu a Antropologia como fonte de grande influência. Se tomado, por exemplo, o Kula - estudado por Malinowski - percebe-se o caminho o qual conduz os antropólogos a entenderem as relações sociais que se estabelecem. Focando nessa perspectiva, a partir do livro “ As Formas Elementares da Vida Religiosa” , é possível verificar o foco central da Antropologia Social.




Com o intento de facilitar a compreensão, a profª Cecília faz uma retrospectiva sobre os principais conceitos presentes nas principais obras do escritor francês, partindo dos seguintes questionamentos: Quais foram os trabalhos que Durkheim fez antes de 1922 e quais foram as idéias que o influenciaram para compreender a religião? E qual era a relação que a Antropologia tinha com a religião?

Até então, na Antropologia, se estudava principalmente as religiões ditas “primitivas”, e as religiões da época clássica de Grécia e Roma antiga. No Século XIX poucos etnólogos se prontificavam a viajar para realizar estudos etnográficos, preferindo preparar grandes estudos de gabinete, os quais aplicavam uma abordagem evolucionista – ou seja tranado das origens imaginados da religião numa visão diacrônica. Na temática da evolução da religião supostamente primitiva, os evolucionistas estudaram o Totemismo (centrado na representação simbólica de determinado grupo social por algum emblema natural), Xamanismo, Fetichismo, etc.


Tornando a concentrar em uma retrospectiva sobre Durkheim, McCallum apresenta à turma as principais obras do mestre e seus conceitos fundamentais. Como preliminar para a disciussão sobre a abordagem que ele desenvolveu sobre religião, ela lembrou que o trabalho desse sociólogo francês se desenrolava no contexto da defesa do estado laico na França, onde muitos cidadãos eram veementem contra a presença da religião no estado.


Em 1893, Durkheim publica o livro “Da Divisão do Trabalho Social” . Em Suma, esta obra é uma exploração da diversidade e integração das diversas sociedades, analisando as funções sociais do trabalho nas sociedades e como estas contribuem para a coesão social.

Durkheim faz uma distinção entre dois tipos de solidariedade: Solidariedade Mecânica e Solidariedade Orgânica.

Solidariedade mecânica: A coesão se dá porque os indivíduos são similares, homogêneos. O processo de divisão do trabalho forma indivíduos que são cada vez mais capazes de perceber o quanto dependem dos outros. Tal solidariedade é característica das sociedades mais simples, onde os laços sociais são mais fortes, dessa maneira, uma maior coesão social. Algo mais parecido com a engrenagem de um relógio, onde cada peça depende inteiramente da outra. Pelos evolucionistas sociais do século XIX, estas são denominadas “sociedades primitivas”.

Solidariedade orgânica: A coesão se dá porque os indivíduos são diferentes, heterogêneos. Nesse tipo de solidariedade as relações sociais são mais complexas, e Durkheim trabalha justamente a complexificação das funções exercidas por um corpo social, no caso, as relações mantidas através de grupos, instituições, divergindo das sociedades mecânicas, onde as relações são mantidas através de indivíduos com outros indivíduos. Uma metáfora que traduz esse tipo de sociedade é vê-la como o organismo humano. Tal solidariedade é típica das culturas mais complexas, onde os laços sociais são mais fragilizados, também denominadas, pelos evolucionistas clássicos, “sociedades civilizadas”.

A idéia da morfologia e da fisiologia da sociedade, análoga aos órgãos biológicos, tornou-se quase como um dogma na Antropologia no metade do século XX.

Para Durkheim, a Sociologia é o estudo das interações sociais. e o papel das representações sociais nessas interaões.

Em 1895, Durkheim publica “As Regras do Método Sociológico”. A obra serve como um arcabouço teórico para a Sociologia – essa obra colhe frutos de sua importância até a atualidade. A regra fundamental do método consiste em considerar as relações sociais como fatos sociais. Uma regra essencial considera que os fatos sociais só podem ser explicados pelos mesmos.

Segundo a teoria Durkheimiana, não se pode fazer uma explicação social por meio de fundamentos biológicos, como, por exemplo, a teoria das raças, acrescentando que, também, não se pode fazer um reducionismo psicológico para se explicar um fato social.

Tudo o que foi dito se resume à idéia de que a sociedade é um fenômeno sui generis: a sociedade tem uma realidade própria (a sociedade existe fora de qualquer indivíduo, tem sua própria existência) e opõe-se à teoria econômica do século XIX, na Inglaterra, e à teoria econômica atual. A sociologia francesa opunha-se à teoria Econômica baseado no individualismo metodológico.

No livro “As Formas Elementares da Vida Religiosa” Durkheim vai desenvolver a sua teoria sobre o que é a sociedade sui generis.

Durkheim adota para a sua Sociologia uma visão racionalista, baseado na ótica Cartesiana (de Descartes, o filosofo francês). Esse aspecto da visão Durkheimiana é explorado em “ As Formas Elementares da Vida Religiosa” , no qual ele elege como objeto de estudo as representações coletivas religiosas. Ele focou o que ele chamou de “a origem da religião”, discutindo as religiões australianas, tidas como as mais “primitivas” existentes. Más, por “origem”, ele não queria dizer a mesma coisa que os evolucionistas.

Durkheim, divergindo dos evolucionistas, adota para seu estudo uma visão sincrônica sobre a religião, no qual ele tenta estabelecer os princípios fundamentais da mesma obtido pelo estudo do presente. Os evolucionistas por contraste, aplicavam uma visão diacrônica, ou seja, estudar o objeto com vista às mudanças presupostas ao longo do tempo. Para Durkheim, estudar uma religião primitiva era estudar a forma mais elementares de toda a vida religiosa: Levava a um entendimento de qualquer religião, não apenas aquela dos aborgines.

Então, o que é uma religião para Durkheim? È baseado em representações coletivas que compõem a consciência coletiva de um povo, representações essas que atribuem significados sagrados aos seus princípios morais. Segundo Durkheim, os princípios morais se tornarão sagrados como representações religiosas coletivas. Os princípios morais são racionais e inerentes à consciência coletiva, possuem uma forma lógica de ser - por exemplo, o totemismo. Tal fato denota um efeito de persuasão dos fatos morais. A consciência coletiva influencia os princípios morais, ratificando uma existência própria.

Durkheim diz que a sociologia não se fundamenta de um argumento tautológico, pois se refere a coisas distintas (sociedade e indivíduo). A consciência coletiva é social, e não se resume à soma das consciências individuais. É de outra ordem, separada, e superior.

Para Durkheim, o impacto emocional de participação em rituais leva à criação da consciência coletiva. Portanto, a origem da vida religiosa deriva do impacto do ritual social sobre o indivíduo. Colocado em outras palavras, a origem da religião é a sociedade. A vida religiosa tanto expressa simbolicamente a coletividade social, como faz com que exista. Religião não se trata de Deus ou qualquer entidade espiritual: trata de sociedade.

No livro “ As Formas Elementares da Vida Religiosa” , Durkheim escreve principalmente sobre os Aborígenes, e recusa que as sociedades denominadas “ primitivas” não tenham religião, assim criticando a percepção evolucionista de que o totemismo e as outras formas são primitivas ou pré-religiosos apeans. Durkheim observa a religião na perspectiva do social. Segundo Durkheim, a sociedade não existe sem a consciência coletiva.

Na vida cotidiana, os Aborígenes pertencem a diferentes clãs. No momento em que os clãs voltam a se encontrar eles originam tais religiões. O momento da “ emoção” torna-se um momento social na concepção Durkheimiana. Para Durkheim, o sentimento de “ saudade” do rito em cada indivíduo vai produzir coesão social.

De acordo com Durkheim, a dicotomia entre sagrado e profano é muito importante.

A profª McCallum define o conceito de totem: que designa um símbolo sagrado e poderoso do social, e tal símbolo é representado através de algo da natureza que diz respeito aos sentimentos que são comuns a todos os indivíduos pertencentes a determinado grupo, e este sentimento produz coesão social.





O argumento de “ As Formas Elementares da Vida Religiosa” : os totens são os ícones mais poderosos que se verifica para a integração do grupo.

Durkheim diz que a religião é derivada da consciência humana, e, por conseguinte, a religião vai formar as consciências humanas.

Neste capítulo Durkheim remete e retoma Aristóteles, que discorre sobre as categorias universais do conhecimento (tempo, espaço, número, e outros)

Por fim, a professora sugeriu que todos lessem o capítulo indicado!

REFERÊNCI A

Durkheim, Émile. ‘ Introdução’ . As Formas Elementares da Vida Religiosa. [1915]

domingo, 10 de outubro de 2010

A Dominação Masculina na teoria de Engels

Autoras: Lucila De Azevêdo & Jéssica Jesus

Resumo da aula do dia 05 de outubro

A aula começa com o questionamento sobre qual a origem da dominação masculina na perspectiva evolucionista. Friedrich Engels, evolucionista Marxista do Século XIX, procurou explicar essa dominação e exemplifou seu modelo com a cultura e sociedade dos Iroqueses.

Para Engels e Marx, a dominação masculina começa na época em que se cria a idéia e a prática de propriedade privada. A partir dessa teoria, no ‘Comunismo Primitivo’, a propriedade era comunal e as mulheres eram livres e produtivas e viviam em um regime de igualdade com os homens. Em termos produtivos, homens e mulheres eram iguais e também havia igualdade no domínio político. Nesse momento da evolução, segundo Engels, a sociedade era matrilinear, ou seja, as pessoas pertenciam aos clãs das suas mães. Não existia propriedade particular, apenas pertences individuais (objetos, roupas, ferramentas de fácil manufatura). Não havia herança de propriedade, ou seja, os objetos não passava de uma pessoa para outra após a morte do dono.

Baixo esse regime – que Engels e Marx chamavam "o modo de produção primitivo" - a família não era uma unidade econômica, sendo o clã a unidade ou instituição de maior significância econômica, isso porque a propriedade era comum, pertencendo ao clã e não aos indivíduos.

Tudo era de grande valor. Ter um filho era algo de grande importância. Desse modo, não só o papel das mulheres na produção econômica era valorizada, como também o seu papel na reprodução.

O argumento de Engels e Marx inspirou as feministas da década de 60 e 70 de século XX. Elas entendiam que, com o advento do capitalismo, a reprodução – vista como uma atividade feminina - havia sido culturalmente desvalorizada. Só em baixo do suposto ‘comunismo primitivo’ existia uma valorização desta atividade.

O modelo de Engels era de fato uma história imaginada ou conjetural. No entanto, Engels aproveitou do estudo etnográfico que Morgan havia feito dos Iroqueses para exemplificar o seu modelo teórico. A sociedade Iroquesa se organiza segundo um sistema de clãs matrileares. Morgan estudou esse sistema e também notou que as mulheres eram respeitadas e tinham um papel importante na escolha de representantes para o conselho das comunidades– a “Confederação Iroquesa”. Era a mulher que escolhia os homens que o iriam compor esse conselho. Para Engels, essa sociedade era um exemplo do modo de produção primitivo.

Más como acontecia a evolução de um estágio para outro, ou melhor (usando a terminologia marxista) de um modo de produção a outro?

Voltando à história imaginada contado nesse modelo da evolução social: Aos poucos, os homens, além de caçar, começaram a domesticar animais e, como só os homens faziam o trabalho braçal (tese não aceita pela maioria dos antropólogos, visto que contradiz os fatos relatados nos documentos históricos, , por exemplo sobre os iroqueses), eram os donos desses animais. Inicia-se, então, a propriedade particular que começa a ser passada hereditariamente apenas entre os homens. Com isso passam a existir diferenças de poder entre os sexos e também as famílias, visto que uns conseguem acumular mais que os outros. Surge, assim, a desigualdade sexual e social. Aliado à propriedade privada, aparece a necessidade de se reconhecer a paternidade criando-se assim uma sociedade patrilinear que reforça o poder patriarcal. Nesse domínio patriarcal, as crianças eram “propriedade” do chefe (homem) da família. O exemplo clássico desse tipo de sociedade na literatura evolucionista é a Romana, onde o poder patrius era legitimado na lei.

Que diferença fez a propriedade particular para o sistema econômico? No "modo de produção primitivo", o que é produzido tem, apenas, “valor de uso”: O que os indivíduos produzem, consumem para a sua subsistência. Não há sobras nem excedentes. A propriedade privada, por constraste, representava a possibilidade de se ter excedente; podia ser acumulado ou então trocado em comércio. Tinha – na teoria marxista – “valor de troca”.

Para os Marxistas a diferença entre o “valor de uso” e o “valor de troca” é fundamental para toda a história da evolução social até a invenção do sistema capitalista.

Voltando ao “modo de produção primitivo”, a transformação radical que ocorreu nas relações internas da família levou à transformação das relações sociais externas, em sociedade.

Para os antropólogos físicos do século XIX, seguidores da "Teoria das Raças", o determinismo biológico era o que levava a inferioridade da mulher em relação ao homem. Em vez de determinismo biológico, Engels adere ao determinismo material (e nisso ele e Marx seguem Morgan).

No seu capítulo do ‘Iroquois Women: an ethnohistoric note’ no livro editorado por Reiter, Toward an Anthropology of Women. (1975, Judith Brown questiona sobre a origem do alto status da mulher Iroquesa. Segundo Engels, se baseou na importância das mulheres na produtividade. Mas, Malinowski se utilizaria do exemplo de comunidades aborígenes australianas, onde a mulher é altamente produtiva, mas não detém nenhum status e poder, para refutar essa tese.

Para Brown, para que as mulheres obtenham alto status, a produtividade das mulheres deve estar aliada ao exercício do controle político da esfera econômica. As mulheres iroquesas controlavam a economia, pois a elas pertenciam a terra, as sementes, etc. Controlavam o trabalho produtivo e havia produção agricola em abundancia. A distribuição também era controlada pelas mulheres.



A imagem mostra mulheres Iroqueses trabalhando


Não se pode atribuir o sistema de poder feminino iroquês simplesmente à produtividade. O poder estava diretamente relacionado ao controle econômico e ao poder político.





Referencias Bibliográficas
Engels,

Brown, J.K. 1975. ‘Iroquois Women: an ethnohistoric note’. In Reiter, Rayna: Toward an Anthropology of Women. New York and London: Monthly Review Press. Pp.235-251.

Engels, F. A Origem da família, da propriedade privada e do Estado, Ed. Civilização Brasileira, RJ, 1974. [1884]