domingo, 10 de outubro de 2010

A Dominação Masculina na teoria de Engels

Autoras: Lucila De Azevêdo & Jéssica Jesus

Resumo da aula do dia 05 de outubro

A aula começa com o questionamento sobre qual a origem da dominação masculina na perspectiva evolucionista. Friedrich Engels, evolucionista Marxista do Século XIX, procurou explicar essa dominação e exemplifou seu modelo com a cultura e sociedade dos Iroqueses.

Para Engels e Marx, a dominação masculina começa na época em que se cria a idéia e a prática de propriedade privada. A partir dessa teoria, no ‘Comunismo Primitivo’, a propriedade era comunal e as mulheres eram livres e produtivas e viviam em um regime de igualdade com os homens. Em termos produtivos, homens e mulheres eram iguais e também havia igualdade no domínio político. Nesse momento da evolução, segundo Engels, a sociedade era matrilinear, ou seja, as pessoas pertenciam aos clãs das suas mães. Não existia propriedade particular, apenas pertences individuais (objetos, roupas, ferramentas de fácil manufatura). Não havia herança de propriedade, ou seja, os objetos não passava de uma pessoa para outra após a morte do dono.

Baixo esse regime – que Engels e Marx chamavam "o modo de produção primitivo" - a família não era uma unidade econômica, sendo o clã a unidade ou instituição de maior significância econômica, isso porque a propriedade era comum, pertencendo ao clã e não aos indivíduos.

Tudo era de grande valor. Ter um filho era algo de grande importância. Desse modo, não só o papel das mulheres na produção econômica era valorizada, como também o seu papel na reprodução.

O argumento de Engels e Marx inspirou as feministas da década de 60 e 70 de século XX. Elas entendiam que, com o advento do capitalismo, a reprodução – vista como uma atividade feminina - havia sido culturalmente desvalorizada. Só em baixo do suposto ‘comunismo primitivo’ existia uma valorização desta atividade.

O modelo de Engels era de fato uma história imaginada ou conjetural. No entanto, Engels aproveitou do estudo etnográfico que Morgan havia feito dos Iroqueses para exemplificar o seu modelo teórico. A sociedade Iroquesa se organiza segundo um sistema de clãs matrileares. Morgan estudou esse sistema e também notou que as mulheres eram respeitadas e tinham um papel importante na escolha de representantes para o conselho das comunidades– a “Confederação Iroquesa”. Era a mulher que escolhia os homens que o iriam compor esse conselho. Para Engels, essa sociedade era um exemplo do modo de produção primitivo.

Más como acontecia a evolução de um estágio para outro, ou melhor (usando a terminologia marxista) de um modo de produção a outro?

Voltando à história imaginada contado nesse modelo da evolução social: Aos poucos, os homens, além de caçar, começaram a domesticar animais e, como só os homens faziam o trabalho braçal (tese não aceita pela maioria dos antropólogos, visto que contradiz os fatos relatados nos documentos históricos, , por exemplo sobre os iroqueses), eram os donos desses animais. Inicia-se, então, a propriedade particular que começa a ser passada hereditariamente apenas entre os homens. Com isso passam a existir diferenças de poder entre os sexos e também as famílias, visto que uns conseguem acumular mais que os outros. Surge, assim, a desigualdade sexual e social. Aliado à propriedade privada, aparece a necessidade de se reconhecer a paternidade criando-se assim uma sociedade patrilinear que reforça o poder patriarcal. Nesse domínio patriarcal, as crianças eram “propriedade” do chefe (homem) da família. O exemplo clássico desse tipo de sociedade na literatura evolucionista é a Romana, onde o poder patrius era legitimado na lei.

Que diferença fez a propriedade particular para o sistema econômico? No "modo de produção primitivo", o que é produzido tem, apenas, “valor de uso”: O que os indivíduos produzem, consumem para a sua subsistência. Não há sobras nem excedentes. A propriedade privada, por constraste, representava a possibilidade de se ter excedente; podia ser acumulado ou então trocado em comércio. Tinha – na teoria marxista – “valor de troca”.

Para os Marxistas a diferença entre o “valor de uso” e o “valor de troca” é fundamental para toda a história da evolução social até a invenção do sistema capitalista.

Voltando ao “modo de produção primitivo”, a transformação radical que ocorreu nas relações internas da família levou à transformação das relações sociais externas, em sociedade.

Para os antropólogos físicos do século XIX, seguidores da "Teoria das Raças", o determinismo biológico era o que levava a inferioridade da mulher em relação ao homem. Em vez de determinismo biológico, Engels adere ao determinismo material (e nisso ele e Marx seguem Morgan).

No seu capítulo do ‘Iroquois Women: an ethnohistoric note’ no livro editorado por Reiter, Toward an Anthropology of Women. (1975, Judith Brown questiona sobre a origem do alto status da mulher Iroquesa. Segundo Engels, se baseou na importância das mulheres na produtividade. Mas, Malinowski se utilizaria do exemplo de comunidades aborígenes australianas, onde a mulher é altamente produtiva, mas não detém nenhum status e poder, para refutar essa tese.

Para Brown, para que as mulheres obtenham alto status, a produtividade das mulheres deve estar aliada ao exercício do controle político da esfera econômica. As mulheres iroquesas controlavam a economia, pois a elas pertenciam a terra, as sementes, etc. Controlavam o trabalho produtivo e havia produção agricola em abundancia. A distribuição também era controlada pelas mulheres.



A imagem mostra mulheres Iroqueses trabalhando


Não se pode atribuir o sistema de poder feminino iroquês simplesmente à produtividade. O poder estava diretamente relacionado ao controle econômico e ao poder político.





Referencias Bibliográficas
Engels,

Brown, J.K. 1975. ‘Iroquois Women: an ethnohistoric note’. In Reiter, Rayna: Toward an Anthropology of Women. New York and London: Monthly Review Press. Pp.235-251.

Engels, F. A Origem da família, da propriedade privada e do Estado, Ed. Civilização Brasileira, RJ, 1974. [1884]

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