quinta-feira, 2 de junho de 2011

DURKHEIM, Émile. Introdução. As Formas Elementares da Vida Religiosa. (1915).

Autora: Mª Nanci C. de O. Matos

Na aula do dia 17 de Maio de 2011, a Prof.ª Cecilia iniciou os assuntos do módulo 3, abordando a introdução do livro “As Formas Elementares da Vida Religiosa” de Émile Durkheim. Para uma melhor compreensão das ideias durkheimianas contidas neste livro, a Prof. Cecilia expôs um resumo sobre alguns pensamentos gerais de Durkheim. Nota-se que o entendimento das ideias durkheimianas é fundamental para compreender o desenvolvimento da antropologia moderna, principalmente o da antropologia social britânica.

Iniciamos com uma discussão sobre “Categorias universais do espirito humano”, o que nos remeteu a uma breve retrospectiva da História da Filosofia, mais precisamente com Aristóteles e Platão, por serem aqueles que principiaram as ideias sobre categorias. (Para se compreender um pouco mais sobre a História da Filosofia, a Prof.ª Cecilia sugeriu a leitura do livro “O Mundo de Sófia”). A discussão se prolonga, com o enfoque de como essas ideias de categoria migraram da Filosofia para a Antropologia através dos conceitos durkheimianos. Porém, a Prof.ª Cecilia, pretende esclarecer os conceitos de “espirito humano” e “categorias”, antes de aprofundar sobre estas ideias.

Espirito Humano: esta relacionado a Mente (unidade psíquica), em que todo indivíduo possui a mesma capacidade de raciocínio, o qual liga-se a ideia de Razão (capacidade de raciocinar logicamente).

Categorias: são os elementos, ou capacidades que o indivíduo utiliza para pensar e raciocinar de forma universal, seguindo uma lógica.

As “categorias universais do espirito humano” corresponde às ideias, que existem em todos os sistemas de pensamentos de qualquer sociedades e/ou culturas, com o objetivo de perceber o mundo que se ver ao redor. Alguns exemplos de categorias destacadas na aula foram:

→ Tempo

→ Espaço

→ Sexo

→ Pessoa

  • Outras definições de Categorias:

→ Do grego: Κατηγοριαι, kategoría (acusação, atributo).

→Para Aristóteles são: substância, quantidade, qualidade, relação, lugar, tempo, estado, hábito, ação e paixão.

→ Para kant são: as condições de possibilidade dos juízos sintéticos a priori em física.

→ Categoria social: Pluralidade de pessoas que são consideradas como uma unidade social.

→ Linguística: são as categorias gramaticais, classes pelas quais se expressam, quanto aos nomes, gênero, número, grau, caso, verbos, modo, tempo, número, pessoa, voz e aspeto.

Muitos teóricos entendem que estas categorias são universais; os antropologós que aceitam essa posição, como Durkheim, defendem que em outras sociedades existem instâncias empíricas diversas de como estas categorias universais são manifestadas no dia a dia. Assim, o tempo pode ser pensado de formas differentes em sociedades distintas: como linear, continuo, segmentado, cíclico etc; a mesma variação ocorre em relação às noções de sexo / gênero, que é analisada pelos antropológicos, como também em relação à noção de pessoa.

Estas categorias universais, portanto, foram postuladas de varias maneiras dentre a História da Filosofia; em cada região etnográfica os povos possuem concepções próprias de tempo, gênero, pessoa etc. (Como ilustração a profa. mencionou o relato de uma caso no livro auto-biográfico de F. Gabeira - “O crepúsculo do macho”, em que um europeu estranha a postura de dois brasileiros na Suécia, os quais marcam uma hora fixa para um encontro, sabendo que atrasariam, sem se preocupar a rigorosidade do horário do ponto de vista local)

Após uma visão geral destas concepções da Filosofia, é proposto uma reflexão sobre como Durkheim analisa as “categorias universais do espirito humano” na introdução do livro As Formas Elementares da Vida Religiosa (1915), que encontra-se em um trecho da pagina 37,

“Sabemos, desde há muito tempo, que os primeiros sistemas de representação que o homem produziu do mundo e de si mesmo são de origem religiosa. Não há religião que não seja, ao mesmo tempo, a cosmologia e especulação sobre o divino. Se a filosofia e as ciências nasceram da religião é porque a própria religião, no princípio, fazia as vezes de ciência e de filosofia. Mas o que foi menos observado é que ela não se limitou a enriquecer, com certo número de ideias, um espírito humano previamente formado; ela contribuiu para formá-lo. Os homens não lhe deveram apenas grande parte da matéria dos seus conhecimentos, mas também a forma pela qual esses conhecimentos são elaborados.” (DURKHEIM, 1915)

Porém, antes de discutir o texto do livro As Formas Elementares da Vida Religiosa, a Prof.ª Cecilia apresentou, em linhas gerais, teorias de Durkheim, que antecederam a publicação deste livro. Como no livro “A Divisão do Trabalho Social”(1893), em que é analisada as formas como as integração sociais são realizadas, demonstrando que a divisão do trabalho é a principal fonte de coesão, existindo duas formas de solidariedade:

→ Solidariedade Mecânica: É quando existe uma diferenciação simples entre os membros do grupo - entre os dois sexos - gerando uma homogeneidade e uniformidade social, utilizando como meio a consciência coletiva. Esta solidariedade prevalece naquelas sociedades ditas (na linguagem daquela época) "primitivas" ou "arcaicas", formada em torno da divisão sexual do trabalho social.

→ Solidariedade Orgânica: É quando os indivíduos tornam-se interdependentes, devido a alta divisão do trabalho, gerando uma heterogeneidade na sociedade, tipicamente existente nas sociedades capitalistas industriais. O que mantém o grupo coeso é exatamente a interdependência baseada nas diferenças e não mais a semelhança, como nas sociedades que possuem características da solidariedade mecânica. Nestas sociedades o Estado assumi o papel de controlar e determinar o andamento de todas as sub organizações sociais.

Durkheim estava focalizando à coerência entre as diferentes formas de coesão social, exatamente com o objetivo de fundamentar as suas teorias sociológicas, o que leva a uma busca da continuidade com o passado e preocupação com o presente. Diferente dos evolucionistas, que baseavam-se em uma analise de tempo histórico hipotético, utilizando o método comparativo na busca da explicação da origem dos elementos da 'civilização', seguindo uma linha linear até os dias atuais, Durkheim preocupava-se com o presente.

Entender a diferença entre estes dois enfoques temporais é fundamental para compreender a ruptura metodológica entre a antropologia moderna e a abordagem evolucionista do século XIX. Estes dois enfoques são utilizados : (1) no evolucionismo, quando o pesquisador analisa a evolução social do objeto pesquisado ao longo do tempo, utiliza uma estrategia metodologica pautada no que pode ser denominado de “Tempo Diacrônico”. (2) na antropologia moderna, se enfatiza o “Tempo Sincrônico”, defendido por Durkheim, que analisa o objeto “parado no tempo”, ou seja, como esta organizada a coesão social, de determinada sociedade, naquele momento histórico presente.

Em sociedades que possuem a solidariedade orgânica a realidade social é expandida, devido o auto controle que o Estado estabelece sobre os indivíduos. Assim, hoje as relações sociais suplantam as relações individuais como determinante da vida social, por isto Durkheim apresenta que é importante estudar religião em um contexto mais simples possível. Desta forma, percebe-se que para compreender o pensamento durkheimiana, é fundamental atentar à oposição estabelecida entre indivíduos e sociedade.

No livro “Regras do Método Sociológico”(1895), Durkheim, apresenta um esboço teorico da sociologia. Explica que os fatos sociais só devem ser explicados através à investigação de outros fatos sociais. Sendo desta maneira uma ideia que contrapõe as ideias biológicas e dos racistas científicos como forma de justificar os acontecimentos sociais. Os fatos sociais pertencem ao inconsciente coletivo e é a relação entre estes dois aspectos contidos nas representações coletivas, que definem a ideia de sociedade sui generis. Para propor esta definição de sociedade, Durkheim seguiu a linha filosófica racionalista (cartesiana).

→ Sociedade sui generis: Para Durkheim, a sociedade existe independente dos indivíduos, sendo um fenômeno único.

Antes de iniciar uma reflexão sobre “As formas elementares da vida religiosa”, trago uma ilustração do esquema teórico para melhorar a compreensão das ideias propostas por Durkheim sobre as interações sociais, que foram apresentadas pela Prof.ª Cecilia na aula.

(Encontrei este esquema no site: http://www.culturabrasil.pro.br/durkheim.htm, porém não encontrei referências de onde foi extraído)

Já no livro “As formas elementares da vida religiosa”(1912), Durkheim vai explorar as origens da religião, numa visão sincrônica, como um fenômeno que pertence a mente coletiva de um grupo. As formas elementares da vida religiosa são representações coletivas da consciência coletiva, que é atribuído significado sagrado a conceitos morais.

Os princípios morais possuem uma formatação logica e racional, quando estão integrados na consciência coletiva e adquirem, desta forma, realidade social além do indivíduo. Porém para que esta moral seja absorvida coletivamente é preciso conter um carácter sagrado. Ou seja, a consciência coletiva se torna um fato social, sendo a moral interiorizada no núcleo social. No entanto, este argumento pode ser acusado de possuir um carácter circular (tautológico), pois o fato social depende da consciência coletiva e assim sucessivamente. Durkheim, esclarece como contra-argumenta que é necessário distinguir entre o nível social e o nível individual, não podendo reduzir o nível social ao individual, porque a sociedade é sui generis.

Na sequencia da aula, inicia-se a reflexão sobre a origem da religião para Durkheim, que afirmava que a origem da consciência coletiva da sociedade esta relacionada ao momento de “eferverscência” causada pelos impactos emocionais dos rituais coletivos em um indivíduo. Sendo de fundamental importância para a compreensão destes princípios: a distinção entre o sagrado e o profano.

Toda sociedade possui símbolos que são representações da consciência coletiva - podem ser denominadas como "Totens". Estes Totens são símbolos de poder, que representam a união do grupo, alem de servir como identidade.

A aula é finalizada com uma reflexão sobre como se deve pensar as Religiões e sociedades ditas primitivas, apontando questionamento como: o que é sociedade? o que é religião? Observando que a religião nas sociedades mais simples não são apresentadas, por Durkheim, com uma forma de subsistência, nem devem ser analisada de forma etnocêntrica. É necessário a busca da lógica dos fatos sociais. Uma das estratégias para chegar a esse fim será de seguir Durkheim e perceber que a religião é uma expressão da coesão social.

Um comentário:

  1. Nanci, você não acha que o squema no link que você da confunde mais do que esclarce? Me parece muito complicado!!

    ResponderExcluir