sábado, 9 de maio de 2009

"Antropologia Cultural" e Franz Boas

Autora: Paula Danielle Matheus

Na aula do dia 07/05, a professora Cecilia discutiu as origens da escola boasiana de antropologia cultural e explanou sobre o texto de Celso Casto, "Antropologia cultural", que trata das concepções de Franz Boas, grande antropólogo considerado um dos fundadores da moderna antropologia.

Nascido na Prússia (atual Alemanha) em 1858 numa família judia, entrou para a universidade em 1877, porém como estudante de física. Insatisfeito, mais tarde tornou-se geógrafo, até descobrir sua afinidade com o meio etnográfico. Sua vida foi caracterizada por mudanças e não só nesse aspecto: nesse periodo da sua vida vivia numa ponte entre Berlim e Nova York, como também, nas constantes transições de empregos no mercado de trabalho.
O primeiro trabalho de Boas com aspectos antropológicos foi um estudo dos Esquimós (hoje conhecidos como Inuit ) da ilha de Baffin, no norte do Canadá, em meados do ano de 1883. Apesar de não ser correto considerar esse primeiro trabalho de Boas como uma passagem de sua posição de geógrafo para antropólogo, com certeza foi o primeiro passo. Passou um ano em Baffin, convivendo com a comunidade em diversas atividades do dia-a-dia, mas apesar disso, seu método era mais de um observador do que um pesquisador participante, até porque essa característica do método etnográfico só veio a se tornar chave da antropologia trinta anos depois, com Malinowski. Sua experiência com os Inuit gerou-lhe observações as quais o instigou a questionar e se opunhar a idéia de que a "boa sociedade" (a dos europeus) teria vantagem sobre as ditas sociedades "selvagens". Mais tarde, fez outra expedição, agora para estudar os Kwakiutl (Caracterizados pelo Potlach). Seu objetivo principal era estudar a língua e os mitos nativos, como também, reunir objetos para coleções museológicas. Nesse trabalho, ele desenvolveu mais seu método de pesquisa empírico, apesar de passar apenas poucos meses com os habitantes. Ele procurava intelectuais nativos – conhecidos como informantes chaves – para saber de tudo o que lhe interessava na vida daquele povo. Fazia longas entrevistas e anotava tudo que podia e, por conseguinte, não participava da vida nativa. Essa outra forma de abordagem foi realizada porque Boas não ia à suas expedições sozinho, mas sim em grupos de pessoas - geralmente seus alunos - e dessa forma o tempo gasto na pesquisa seria menor.
A vida de antropólogo de Franz Boas foi marcada pelas críticas tanto à doutrina evolucionista quanto à difusionista, porém sem considerá-las completamente erradas. Foi em cima das críticas em relação a Morgan e outros evolucionistas, que Boas começou a fazer seu trabalho. Ele era contra o evolucionismo, pois acreditava na multiculturalidade e não na unilinearidade; e era contra o difusionismo mais radical, acreditando naquele mais tênue - que ocorre entre sociedades reais, ou seja, difusão de traços culturais entre sociedades históricas separadas por pequenas distâncias físicas e geográficas.
Boas defendia a importância de se realizar pesquisas empíricas tomando a antropologia como ciência – assim como fez Malinowski e Radcliffe-Brown. Entretanto, não seria a pesquisa científica de acordo com a linha das ciências naturais e sim a das ciências humanas (dessa vez contrária a concepção de Radcliffe-Brown). A diferença entre as duas formas deriva da diferença entre os seus objetos; por serem 'cientificas', ambas adotam uma postura de objetividade; entretanto, as ciências naturais estudam os fatos reais (objetivos) da natureza, enquanto as ciências humanas estudam (de um modo objetivo) a subjetividade própria dos seres humanos. O objetivo das ciências naturais é chegar a generalizações; em contraste, nas ciências humanas só se pode alcançar descrições bem particulares, uma vez que generalizar teoricamente sobre culturas é totalmente equivocado, enquanto naõ existe uma base empírica etnográfica e histórica solida.
A fonte dos estudos de Boas não era a antropologia física e sim a cultural (na sua formação em alemanha abordava questões folcloristas), mesmo que tenha feito estudos sobre a craniologia. Acreditava que a etnologia deveria ser baseada na história dos povos. Muitas vezes se referem à escola boasiana com o termo "particularismo histórico" – uma forma de criticar Boas, pois se concentrar em ‘particularismos’ não possibilita a teorização sobre a humanidade e a cultura como um todo. Mesmo que esse ponto de vista tem algum valor, seria mais justo com Boas a denominação de "historicismo cultural". Ele queria entender a história, mas não chegar a ela cheio de pré-noções e pré-conceitos. Acreditava, também, que todo trabalho tem que ser feito, nada está pronto – É necessário ir a campo e procurar saber da cultura dos povos a partir dos informantes chaves, aos quais se perguntaria o passado daquela cultura – fazendo então as histórias culturais particulares. Queria uma história baseada nos fatos e era contra as grandes teorias históricas.
Um ponto forte do trabalho de Boas era ser contra o racismo científico e o etnocentrismo. Ele sempre tentou mostrar uma dissociação entre cultura e biologia. Mostrava que a genética não determinava o tamanho do crânio especificamente de acordo com cada povo: Isso era relativo e fez com que ele se tornasse contra os craniologistas do século XIX.
Boas ao longo da sua vida foi professor da Universidade de Columbia em Nova York. Em seus anos como docente conseguiu juntar um grupo de alunos afastados de preconceitos e com visão contra o racismo científico, o que ajudou muito à transmissão do seu trabalho e de seu posicionamento. Acreditava que esse grupo de estudantes deveria fazer uma antropologia de resgate, ou seja, ir a campo e pesquisar povos que estavam passando por um processo quase de extinção. Isso para Boas tinha caráter de urgência.
Dentre seus alunos espetaculares estavam Alfred Kroeber (1876 - 1960) e Robert Lowie (1883 – 1957). Outras alunas de Boas que se tornaram expoentes na antropologia norte americana foram Margaret Mead e Ruth Benedict. Elas fundaram a linha de pensamento boasiana chamada "Cultura e Personalidade", aproximando psicologia e cultura. Acreditava-se que para estudar a cultura teria que se olhar também como que cada indivíduo age na sociedade – teoria um tanto contra as concepções de Durkheim.
Em decorrência do sucesso desses trabalhos realizados em prol da existência de "cultura(s)" e não "cultura", e contra o racismo, que Boas se tornou o fundador da antropologia cultural norte-americana e que sua uma abordagem se tornou das mais bem aceitas e coerentes,. Seu legado nao está apenas presente nos seus escritos acerca de sua concepção de antropologia, e sim nos ensinamentos que transmitiu a seus alunos: os expoentes da antropologia norte-americana.

Um comentário:

  1. Nos últimos 20 anos tem se discutido o termo cultura na antropologia. Uma pesquisadora que trata muito bem como o termo vem sendo usado é Manuela de Cordeiro da cunha. vale a pena conferir

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