sábado, 9 de maio de 2009

Engels e as Origens da Opressão da Mulher


Autoras: Élida Franco & Lorena Correia

Resumo da aula de antropologia – 16/04/09

A aula iniciou com a distinção entre diacrônica e sincrônica. Os antropólogos evolucionistas do século XIX se preocupavam com o tempo diacrônico que se caracteriza pelo fluir do tempo e, portanto, pelo processo histórico (cronologia). O seu interesse principal era desvendar as origens da ‘cultura’ ou ‘civilização’. Em contraposição, o tempo sincrônico consiste no momento presente, atual. Os antropólogos modernos, após Malinowski, têm estudado a sociedade e a cultura a partir de um interesse no que ocorre no presente, ou seja, a partir de um enfoque sincrônico. A sua principal preocupação era explicar o presente, e não o que ocorreu antes. A antropologia moderna deixou de se preocupar com as origens da cultura, preferindo explicar o presente,. (Entretanto, após os anos 1980, pensou-se que excluir a história e o passado da mira da antropologia era radical demais e a disciplina voltou a discutir a relação entre presente e passado).

Nas décadas dos 1960 e 1970 algumas antropólogas feministas marxistas ocidentais - até mesmo no Brasil e na América Latina - enquanto se baseavam nesta abordagem sincrônica, se inspiraram com a teoria evolucionista de Marx e Engels sobre as origens da desigualdade sexual (Ver Sacks 1975). Para Engels, a família, a organização econômica e a política resultavam da evolução da sociedade, argumento que esse autor marxista desenvolveu no seu livro “A origem da Família, da propriedade Privada e do Estado” (1884).

Segundo a aula, na antropologia a família é entendida como composta de relações sociais entre pessoas. No senso comum, a propriedade é representada como uma relação entre pessoa e objeto. Entretanto, os antropólogos inspirados pela teoria marxista entendem que a propriedade privada é também uma relação social.
Marx foi o autor de uma teoria sobre a sociedade conhecida como ‘materialismo dialético’. Esta é teoria parte do pressuposto que a existência humana nas suas formas materiais determina a consciência humana.

Engels era amigo e colega de Marx, com quem ele havia discutido as questões trabalhadas no seu livro. Além disso, ele teve como base as anotações que Marx havia feita sobre o trabalho de Morgan, o livro “A sociedade antiga” (1877). Os dois criadores da teoria marxista conheciam as publicações dos evolucionistas culturais, inclusive, os debates sobre a primordialidade - ou não - da matrlinearidade. Baseado nestes autores, no seu livro Engels argumentou que nas sociedades primitivas as mulheres eram livres e que havia igualdade e paridade política entres os sexos. Os gens (que são definidas como um agrupamento de famílias, equivalente a clã) eram as unidades econômicas. Para Engels, nesta época antiga não existia a instituição da ‘família’ e a divisão social era fraca. A produção econômica era de subsistência e os povos eram auto-suficientes. Nesse tipo de 'economia de subsistência', os produtos só tinham valor de uso e não 'valor de troca'. Para exemplificar esse tipo de sociedade, Engels cita as comunidades iroquesas, onde as mulheres possuíam posição elevada.

Para Engels, a época era caracterizada pela igualdade entre os sexos. Como resultado do alto status atribuido às mulheres nessas sociedades, o parto era considerado um ato coletivo, social. A posição das mulheres derivava dos aspectos materiais da vida social. Não havia propriedade privada, apenas pertences particulares. Estes últimos eram ferramentas e pequenos artigos de uso, os quais não produziam excedentes que podiam ser trocado. Desta forma, não havia riqueza. Uma pessoa não ficava mais rica do que outra, porque ninguém produzia mais do que consumia. O surgimento da propriedade privada aconteceu quando os homens domesticaram os animais grandes e começaram a criá-los e reproduzí-los. Assim, havia sobras ou excedentes e este fato possibilitou a troca. Já que apenas o homem era responsável pelos cuidados com os animais, esse começou a enriquecer.

Segundo Engels, os donos dos animais também seriam donos das terras agrícolas e as pastagens onde os animais ficavam. Assim, surge a desigualdade entre homens e mulheres, pois estas não possuíam animais. Ocorria paralelamente que uns homens ficavam ricos e outros não. Desse modo, surgiu a desigualdade social.

Marx e Engels não eram os primeiros a associar o surgimento da desigualdade entre os seres humanos com a invenção da propiedade. Para Rousseau, o surgimento da propriedade privada acarretou na desigualdade social.

Na história contada por Engels, as mulheres tornaram-se propriedade do homem, ou seja, foram subjugadas ao poder masculino. Após disso, a mulher deixou de ser social e seu campo de atuação foi restringido aos afazeres domésticos. O parto antes social deixou de ser público, para ser confinado ao domínio privado. Não havia mais celebrações comunitárias em torno do evento. A mulher, então, era somente vista como reprodutora e progenitora dos herdeiros da riqueza acumulada pelo homem.

A tese defendida pelos antropólogos evolucionistas do séc. XIX de que existia o matriarcado na fase da barbárie em todas as sociedades ditas primitivas foi refutada. Hoje os antropólogos e etnólogos não acreditam que em algum momento da história a mulher teve domínio sobre o homem.

Referências:

Burnicore, Augusto C. “Engels e as origens da opressão da mulher”. In Revista Espaço Acadêmico No. 70 Março 2007. Ano VI
http://pt.wikiversity.org/wiki/Latim/

Sacks, Karen. 1975. ‘Engels Revisited: Women, the organization of production and private property’ In Toward an Anthropology of Women (ed. Rayna R. Reiter), NY/London: Monthly Review Press. Pp.211-234

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