quinta-feira, 21 de maio de 2009

O funcionalismo de Radcliffe-Brown: Resumo da aula de 05.05.09


Autor: Robson Cunha

Alfred Reginald Radcliffe-Brown nasceu em Birmingham, Inglaterra, em 1881. De origem operária, iniciou seus estudos universitários em Oxford na área de ciências naturais, mas, influenciado por seus professores, especialmente Rivers, mudou-se para Cambridge para estudar Antropologia. Após a colação de grau, realizou trabalho de campo nas ilhas Andaman, no golfo de Bengala, a leste da Índia, e redigiu tese marcada pelo estilo difusionista, na época muito bem recebida nos meios acadêmicos. Contudo, logo após, afastou-se da orientação de seus mestres, notadamente Rivers.

Radcliffe-Brown veio a ser severo crítico daquilo que denominou de "a história conjetural" dos evolucionistas cujo método era o da abordagem dos costumes dos povos baseado simplesmente em conjeturas sobre o passado e não em observações diretas no presente. Dizia que esse caráter historicista do método evolucionista não podia dar resultados significativos para a compreensão da vida e da cultura humana, já que os arranjos contemporâneos existiam porque eram funcionais no presente e não como "sobreviventes" de épocas passadas. Para esse antropólogo, como para Malinowski, interessava o estudo do presente, do tempo sincrônico, e não havia espaço para especulações sobre ‘sociedades primitivas’ vistas sob o prisma do tempo diacrônico.

Radcliffe-Brown fundou uma abordagem teórica antropológica conhecida como estrutural-funcionalismo. Cada sociedade estudada era considerada como uma ‘totalidade’, como um organismo cujas partes eram integradas e funcionavam de um modo mecânico para manter a estabilidade social. Como estrutural-funcionalista, as preocupações de Radcliffe-Brown estavam ligadas à descoberta de princípios comuns entre as diversas estruturas sociais, o significado dos rituais e mitos e suas funções exercidas na manutenção da sociedade. A abordagem foi fortemente influenciada por Durkheim.

Radcliffe-Brown tomou conhecimento da obra de Durkheim através da leitura do livro Formas Elementares da Vida Religiosa, que o sensibilizou de tal forma que, na versão final de sua tese, o livro The Andaman Islanders, publicado em 1922, a sociologia durkheimiana estava definitivamente incorporada na sua maneira de pensar a Antropologia. Dois conceitos básicos, então, são utilizados em sua obra: significado e função social. Para compreender um determinado ritual é necessário, inicialmente, encontrar seu significado, isto é, os sentimentos que ele expressa e as razões que os nativos apontam, para em seguida identificar sua função social naquilo que é importante para assegurar a coesão social necessária para a existência do grupo.

A hipótese apresentada no trabalho, no geral, é análoga à hipotese sobre o papel das ‘representações coletivas’ de Durkheim. Para Radcliffe-Brown, os sistemas de sentimentos regulam a atuação dos indivíduos de acordo com as necessidades da sociedade; tais sentimentos, que não são intatos, são desenvolvidos e expressos no indivíduo pela ação da sociedade sobre eles. A sociedade mantêm-se coesa por força de uma estrutura de normas morais e regras civis regulatórias do comportamento que são independentes dos indivíduos que as reproduzem. Estas normas e regras atuam então como uma espécie de ‘consciência coletiva’. Desse modo, o indivíduo submete-se aos desígnios da sociedade e é o seu produto.

Assim, para Radcliffe-Brown os indivíduos são apenas a expressão da estrutura social. Aí reside a grande diferença que o separa de Malinowski, apesar de comungarem princípios funcionalistas (ou pelo menos compartilhar a rúbrica de ‘funcionalista’). Enquanto considera de mais relevante os princípios da estrutura social e os mecanismos de integração social, Malinowski detêm-se nas motivações humanas e define a função dos elementos culturais segundo as necessidades biológicas do indivíduo.

Radcliffe-Brown tinha ambições maiores no campo da Antropologia. Estava em busca de princípios gerais que norteassem uma ciência natural aplicada à sociedade, cujo objeto seriam os fenômenos da cultura, considerando as funções de suas instituições, costumes e crenças como parte de sistemas integrados. Contrariamente aos difusionistas de geração anterior, que comparavam elementos culturais isolados de regiões diversas, advogava o método comparativo de sistemas culturais totais, tipificados, entendendo que somente assim seria possível a descoberta de princípios ou leis universais que atuam em todas as sociedades humanas. Tais princípios, segundo ele, necessitavam da prova da pesquisa de campo para confirmação, rejeição ou modificação.

O sistema de parentesco era um dos elementos fundamentais de sua análise. Considerava-o, mesmo, o elemento fundamental para compreensão da organização social em sociedades de pequena escala, já que expressava um sistema jurídico de normas e regras que impõem direitos e deveres. A busca de princípios comuns, comparando as diferentes sociedades, tornou-se objeto de suas preocupações.

Ao lado do sistema de parentesco, o totemismo tomou parte importante em seus estudos, e foi objeto de pesquisas na sociedade dos aborígenes, durante pesquisa de campo na Austrália, entre 1910 e 1914. Concebia o totemismo como sendo "uma relação mágico-religiosa específica e permanente entre uma pessoa ou um grupo social, de um lado, e uma espécie ou certo número de espécies de objetos naturais de outro"(Melatti, p.16). Considerava sua importância enquanto fenômeno de um tipo geral, que apresentava diferentes formas em diferentes regiões, e preconizava a utilização do método comparativo na busca de princípios comuns. Para Radcliffe-Brown, a associação de determinadas espécies de animais e objetos a pessoas ou grupos não está nas características em si dessas espécies e sim na relação entre as características de uma espécie com as de outra. Para ele, as diferenças e igualdades encontradas nas características das espécies que estão ligadas a cada grupo são expressas nos rituais e mitos pela relação de oposição ente solidariedade e litígio. Esse entendimento tornou-se referencial para a Antropologia.


Referências
Melatti, Júlio Cezar. ‘Introdução’, In Radcliffe-Brown: Antropologia. Orgs. J.C Melatti & F. Fernandes. Coleção Grandes Cientistas Sociais, São Paulo, Ática, 1978. Pp.7-35
Eriksen, Thomas H. & Nielsen, Finn S. História da Antropologia. Petrópolis, RJ, Ed. Vozes, 2007.

2 comentários:

  1. Material de grande ajuda para nós estudantes de ciências sociais. Muito bom.

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  2. Escrito de forma clara e objetiva. Material de grande ajuda para estudantes de Psicologia também.
    Muito Bom (2) .

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