sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Pesquisa Antropológica. O Trabalho de Campo

Autores: Fábio Maia & Fernanda de Araújo.

A aula foi iniciada confirmando a exposição no dia 31/0/8/2010 de um filme com temática indígena que será base para seminários a serem apresentados pelos estudantes.

Sequencialmente foi relembrado à importância do método etnográfico, assunto já estudado em aulas anteriores. Ao comentar sobre a abordagem empregada nos cursos de antropologia em universidades brasileiras, e os fatores que levaram a professora a iniciar o programa do curso que desenvolve em antropologia I pelo estudo do método etnográfico, a professora enfatizou que a frase “a antropologia moderna” significa aquela em que se uso o método etnográfico. Ainda, mostrou a importância de se conhecer esse método de estudo para melhor entender como se alcança o resultado final da pesquisa em antropologia. A antropologia moderna busca explorar o estudo de diferentes culturas e povos através da observação e convivência com os mesmos. Durante a aula reforçou o trabalho pioneiro de Malinowski de sair do gabinete e realizar a antropologia tal qual ciência, e não se tirar conclusões para construção da analise sobre um determinado tema somente a partir de registros escritos por terceiros - como era feito pelos “antropólogos de gabinete” - e sim através da obtenção de dados durante a observação participante.


* Considerado um dos grandes nomes das ciências sociais brasileiras, da Matta é autor de diversas obras de referência na antropologia,sociologia e ciência política, como “Carnavais,malandros e heróis”, “ A casa e a rua” e “O que faz o Brasil,Brasil ?”

É levantada em sala a seguinte questão: a antropologia é ciência?


Ao explorar o significado e as implicações da frase “observação participante”, chega-se ao meio termo entre o objetivo e o subjetivo: ou melhor, chega-se a ver uma constante tensão. Essa tensão caracteriza as pesquisas etnográficas. A professora pede que por alguns instantes os alunos se imaginem imersas em uma outra cultura, e pergunta: quais seriam as nossas reações diante de costumes diferentes aos nossos? Respondendo a esses questionamentos teríamos um pouco a noção de até que ponto vai a imparcialidade do pesquisador.


Passa a ser trabalhado em sala o texto de Roberto da Matta sobre “o ofício do etnólogo” ou como ter “anthropological blues” que havia sido recomendado como leitura e atividade de resumo na aula anterior (ver programa postado anteriormente para a referência). A professora tocou em alguns dos pontos centrais trabalhados por esse famoso antropólogo brasileiro.


O primeiro ponto de observação que o autor destaca é da necessidade de se realizar uma pesquisa teórica e bibliográfica antes de partir para uma pesquisa de campo. A preparação do projeto de pesquisa através da revisão da literatura sobre o povo e o tema a ser investigada vai oferecer ao pesquisador inúmeras sugestões a serem aplicadas e desenvolvidas durante o momento físico de sua pesquisa, e auxiliá-lo na realização de um trabalho mais eficiente, pois certamente será essa bagagem intelectual que irá direcionar o pesquisador.


Para ilustrar esse ponto de Roberto da Matta, a professora discutiu um exemplo tirado da sua própria pesquisa de campo. Enfatizou de que forma o estudo de parentesco é importante para o entendimento estrutural da sociedade estudada, pois todo grupo social possui relações alicerçadas no parentesco. Para isso, à identificação dos termos de parentesco específcas àquela cultura é imprescindível. Nesse momento a docente cita como exemplo diagramado no quadro, as relações de parentesco dos índios “Kaxinawá” (auto-denominação Huni Kuin). Antes de partir para o camp, outro antropólogo havia estudado o tema. Nessa sociedade, a regra do casamento ou residência pós matrimonial é a “uxorilocal”, ou seja, o homem deve morar junto à família da mulher. Nessa sociedade, os costumeiros matrimônios através das “trocas de irmãos”, proporcionam o agrupamento da família, que é preservado nas seguintes gerações quando se procura repetir a troca. Desse modo, um irmão e uma irmã deve casar com um casal de irmãos de sexo cruzado, que são seus “primos cruzados” (ou seja, uma pessoa casa com o filho de um tio que é “irmão da mãe” e uma tia que é “irmã do pai”).


A professora respondeu em seguida a perguntas sobre os casamentos arranjados, homossexualidade e conduta moral indígena. Observou que apesar de não seguirem um código escrito de direitos e deveres, os Huni Kuin asseguram o controle social e moral da aldeia através das suas práticas culturais. A professora relatou diversas das suas experiências como antropóloga durante o seu convívio com os índios, citando as regras punitivas do grupo, onde o indivíduo que comete um erro, independente de sua idade e posição social, é reprimido verbalmente por todos da comunidade.


Retomada a questão da antropologia como ciência, o olhar de Roberto da Matta é analisado e discutido entre os alunos por inovar a questão do emocional presente no trabalho do pesquisador a partir do momento que o próprio defende a existência de “dois mundos” ou dois sistemas de significados. Nessa perspectiva, Da Matta coloca em questionamento as relações humanas dentro do trabalho do antropólogo, falando do erro de postura de alguns antropólogos que preferem omitir de forma inapropriada a subjetividade vivenciada em seu trabalho. Relembrou como Da Matta rubricou as varias fases de pesquisa, como a fase “teórico intelectual” de preparação e planejamento, onde o pesquisador organiza como será desenvolvido o seu trabalho e a fase final “presencial e existencial”, iniciada com Malinowski que observava os imponderáveis da vida social, para aproximar-se mais do objeto estudado.

É reafirmado que o antropólogo vai fazer a sua pesquisa de campo ciente que irá estudar pessoas que agem com lógica independente da nossa visão sobre as suas ações, pois as mesmas sempre contam com um significado para eles.

São debatidos rapidamente em sala os seguintes assuntos: complexidade das culturas e o relativismo cultural, através da discussão de um exemplo: A pena de morte por apedrejamento que foi imposta a uma mulher acudsada de adultério no Irã, e que é alvo dos noticiários televisivos. A docente sugeriu que ao reconhecer que há uma outra moralidade e uma lógica cultural atrás dessa pena, estamos adotando uma postura de “relativismo cultural”, ou seja, reconhecendo a diferença de abordagem e de opiniões, presente nas culturas.


A aula foi finalizada comentando-se sobre a transformação do familiar no exótico, onde o pesquisador deve tentar de forma “xamânica” se afastar do seu interior.







Considerado um dos grandes nomes das ciências sociais brasileiras, da Matta é autor de diversas obras de referência na antropologia,sociologia e ciência política, como “Carnavais,malandros e heróis”, “ A casa e a rua” e “O que faz o Brasil,Brasil ?”

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