segunda-feira, 27 de abril de 2009

Resumo de capítulo 2 do Espetáculo das Raças de Lilia Schwarcz

Notas de Cecilia McCallum para a Aula de 2/4 sobre "A invenção de ‘raça’. Teorias raciais no século 19"


Balanço das diferentes teorias raciais sec.XIX. Marcadas pela noção de evolução social – mas havia diferentes escolas de pensamento.

Não havia um conceito de ‘raça’ no séc. XVIII. Falavam de ‘povos’ e ‘nações’. No entanto, distintas formas de pensar a diferença no Sec. XVIII – bases para duas posturas distintas no Sec. XIX.

Humanismo – Rousseau – ‘defesa da humanidade una’.
Buffon, De Pauw e outros – diferenças essenciais entre os homens.

1 - ENTRE EDENIZAÇÃO E DETRAÇÃO
Sec. XVIII povos selvagens – começarem a ser vistos como ‘primitivos’.
Para Rousseau, os seres humanos – aperfeiçoaveis. A perfectibilidade era marca da humanidade una. Mas o ‘estado de civilização’ deixava o ser humano cheio de vicios, infeliz. Levava a desigualdade entre homens. A liberdade e a igualdade – naturais.

Os bons selvagens mais do que nada = um modelo lógico – são contrapostos aos homens ocidentais. Moralmente superiores.

Contra esta visão – Segunda metade do Sec XVIII – maior conhecimento das Américas. Teorias sobre inferioridade. Anti-americanismo.
Infantilidade, Carência, debilidade dos animais e a terra e os homens - Buffon (1707-88)
Degeneração, espécies inferiores, os americanos não só imaturos mas decaídos, corrompidos - Cornelius de Pauw.

"Portanto, no contexto intelectual do século XVIII, novas perspectivas se destacam. De um lado, a visão humanista herdeira da evolução Francesa, que naturalizava a igualdade humana; de outro, uma reflexão, ainda tímida, sobre as diferenças básicas existentes entre os homens. A partir do século XIX, será a Segunda postura a mais influente, estabelecendo-se correlações rígidas entre patrimônio genético, aptidões intelectuais e inclinações morais" (Schwarcz 1993:46-47)

2 - NATURALIZANDO AS DIFERENÇAS
A emergência da "raça" - A noção de "raça" emergiu nos finais do Sec XVIII / começo do Séc. XIX. Para Schwarcz, citando Stocking, quem introduziu o termo foi Georges Cuvier. Más S.J. Gould menciona Lineu (fundador do moderno sistema de classificação cientifica das espécies: " Na primeira definição formal das raças humanas, em termos taxonômicas modernos, Lineu mesclou traços do caráter com anatomia (Sistema Naturae, 1758). O Homo sapiens afer (o negro africano), afirmava ele, é "comandado pelo capricho"; o Homo sapiens europaeus é "comandado pelos costumes". (Gould 2003:21)]

O importante é que surgiu uma nova atitude à diferença – não mais o de ‘narrar’ – agora de "classificar, ordenar" – e hierarquizar.

ESSENCIALISMO: Embora Schwarcz atribui a Cuvier a invenção "da idéia da existência de heranças físicas permanentes entre os vários grupos humanos" (p.47)., outros veiem essa idéia como bem mais antiga. Gould cita Plato e Socrates como articuladores da noção de que diferentes grupos humanos ( no caso, classes na Grécia antiga – aristocratas, auxiliares, artesãs) tem essências distintas.

"Raça" – a noção fazia parte dos debates sobe o igualitarianismo. Representava uma noção chave para os que se opunhavam às revoluções.

PENSANDO NA ORIGEM: MONOGENISMO X POLIGENISMO
Debate – modelo igualitário contra doutrinas raciais
Pensado em termos de: a origem da humanidade e o problema da relação entre cultura (civilização) e natureza (meninos-lobos)

A visão monogenista – dominante até meados do Séc. XIX – humanidade una
Gradiente – humanos desde os mais próximos ao Eden, aos menos próximos e mais degenerados.

A visão poligenista – contestava o dogma monogenista da Igreja. Dominava a partir dos meados do Sec.XIX. Crescente sofisticação das ciências biológicas. Crença em vários centros de criação, correspondentes às diferenças raciais observadas. Raças humanas = "espécies diferentes". O selvagem não podia ser aperfeiçoado. Igualdade era impossível.

Frenologia – estudo dos traços fisionómicas – teoria ligava estes a capacidades intelectuais e qualidades morais.
Antropometria - tomando medidas do corpo.
Craniologia – estudos quantitativos sobre o crânio.

Determinismo biológico destas novas ciências como nova e poderosa "base" (suposta) na metodologia e rigor da ciência, dos estudos aparentemente empíricos. Ligação – comportamentos humanos – resultado de leis biológicas e naturais.

Cesare Lombroso – Antropologia Criminal. O comportamento criminoso – resultado de aspectos biológicos dos criminosos. Criminialidade – um fenômeno físico e hereditário (1876)

Nina Rodrigues - a antropologia brasileira – estrita ligação com a criminologia e a medicina legal. Problema do Brasil (esp. Bahia) a miscigenação. Raças não eram iguais – a mistura levava a piores problemas. O criminoso era sobretudo um doente – até curável for medidas fisiológicas. A lei tinha que ser aplicada de forma diferente dependendo da raça do criminis. Deveria focar o criminoso e não a crime.
Suas publicações:
As raças humanas e o responsabilidade penal no Brasil. 1894 .
Africanos no Brasil.1933.
Antropologia física desse tipo (poligenista) X. etnologia (monogenista) Guerra entre etnologia e antropologia – sociedades rivais e instituições distintas. "Imutabilidade dos tipos humanos" x "aprimoramento evolutivo das raças".

Paul Broca – Societé Anthropologique de Paris (1859) – Paul Broca – anatomista e craniologista. Procurava identificar ‘raças puras’ através estudo dos cranios. Tese da imutabilidade das raças.
Samuel George Morton - - American School of Poligeny – Crania Americana – 1839; e Crania Aegypta – 1844.

Sociedades etnologicas de Londres, Paris, Nova Yok. Monogenistas, files a Rousseau.

A EVOLUÇÃO ENQUANTO PARADIGMA
1859 – A Origem das Especies – Darwin- Resultou na diluição das disputas. Evolucionismo ganhou. Origem comum da humanidade.

Mas os poligenistas afirmavam que a divisão entre tipos muito antigo. Heranças e aptidões diversas entre raças... Social-darwinismo cresceu. Interpretações que divergem da intenção do próprio autor. Muitos exemplos do uso de conceitos para fins próprios (geografia, psicologia, lingüística etc.) Os darwinistas sociais ressuscitaram as perspectivas poligenistas do inicio do século.

Vínculos do modelo poligenista com o imperialismo europeu – "seleção natural" explicava o domínio ocidental – e o justificava. (Schwarcz 1993:56)

Mistura de raças- Para poligenistas - entre os quais biólogos, médicos, antropologos fisicos etc. – era um fenômeno recente. Mestiços = degeneração – Broca argumentou que a mula é estéril, e o mulato também. Gobineau – argumentou o oposto – lamentava a extrema fertilidade dos misturados.

Para os poligenistas, a Seleção Natural = Degeneração Social. Deveria se opor ao hibiidismo, manter as raças separadas.

Minimizaram a importância da origen comum. Enfatizaram as "leis da natureza" como determinantes (idéia presentes em Darwin, mas não no sentido social e cultural dado pelos novos poligenistas com a sua teoria de ‘raças’).

Determinismo biológico central, portanto, às suas idéias.
"Uma só teoria fundamentava, desta forma, as diferentes interpretações das escolas, que disputavam a hegemonia na representação de sua época" Schwarcz 1993:57

ANTROPOLOGIA CULTURAL: A DESIGUALDADE EXPLICA A HIERARQUIA
Etnologia ou antropologia cultural – (o que já estudamos nas mais recentes aulas)
civilização e progresso – modelos universais, não específicos a uma só sociedade.
Estágios de evolução –
método comparativo.
Princípio otimista – uma só humanidade, progresso ao alcance de todos.

O DARWINISMO SOCIAL: A HUMANIDADE CINDIDA
Seção mais desenvolvida.
2 grandes escolas deterministas:
Determinismo geográfico – Ratzel e Buckle "o desenvolvimento cultural de uma nação totalmente condicionada pelo meio – condições físicas do país.
Determinismo racial – Também conhecido como ‘darwinismo social’ e ‘teoria das raças’.
prezava a preservação dos ‘tipos puros’ – compreendia a mestiçagem como causa de degeneração racial e social.

Os teóricos de raça ensinavam uma antropologia biológica respaldada em 3 proposições básicas:
Realidade das raças. (distintas, como Cavalos vs. Jegues)
Continuidade entre carateres fisicas e carateres morais - A divisão entre raças correspondia a uma divisão entre culturas -
O grupo ‘racio-cultural’ determina o comportamento do sujeito.
Levou a um ‘ideal político’ – a submissão ou até eliminação das ‘raças inferiores’.
Eugenia:
O que é? Fundador Francis Galton – 1869 – Hereditary Genius. –
Tese central: que a capacidade humana é função da hereditariedade e não da educação.
Tornou-se um movimento social e cientifico vigoroso a partir dos anos 1880. Fundou políticas sociais: Intervenções administrativas dos estados – não mais seleção natural, agora seleção social, direcionado por estados.

Oposição entre: O ocidente – da raça ariana – o progresso e civilização.
X
As terras onde ocorria a miscenigação – a degeneração e a ausência de cultura/civilização.

A perfectabildade – privilégio apenas das ‘raças civilizadas’ (não mais de toda humanidade’)
As diferenças – irreparáveis e definitivas – a igualdade, portanto, um problema ilusório. Os darwinistas sociais filiados aos centros de antropologia (biológia) – pensavam que não havia uma humanidade – senão raças humans distintas – especies diferentes.

Ela então trabalha com 4 desses autores poligenistas:
O conde Gobineau (1816-1882) talvez o mais citado "sacerdote do racismo" : Essai sur l’ínegalité des races humaines 1853. Pp. 63- 64. O resultado da mistura sempre um dano. Sub-raças não civilizaveis. Os mestiços sub-racas Decadentes e degeneradas...

Que papel jogava a miscigenação, portanto, na ‘teoria das raças’?
...."grande divisor entre as concepções monogenistas das escolas etnológicas e as interpretações poligenistas...[da] antropologia da época" (p.64.)

O modelo racial fez sucesso no Brasil – até os anos 30 do Século XX. Más foi bastante adaptado para um pais mestiço.
Referência
Gould, Stephen Jay. ‘Introdução’ In A Falsa Medida do Homem. SP: Martins Fontes, 2003. Pp. 3-14
Schwarcz, L.‘Uma história de diferenças e desigualdades: as doutrinas raciais do Século XIX’. In: O Espetáculo das Raças. São Paulo: Cia das Letras, 1993. Pp. 43-66.

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