terça-feira, 7 de abril de 2009

Difusionismo e Evolucionismo

AUTORAS: Marina Rute Pacheco & Dilaze Mirela Fonseca

A aula do dia 26 de março de 2009, respaldada no texto de Lucy Mair: ‘Como se desenvolveu a antropologia social’ foi dirigida pela professora Cecília McCallum. A partir da leitura do texto e da discussão em classe pudemos fazer uma síntese geral do que foi abordado.

A história da antropologia está indissociavelmente ligada à busca pelo conhecimento de nossa origem, isto é, das formas mais simples de organização social e de mentalidade até as formas mais complexas das nossas sociedades. No século XIX, a etnologia se aderiu à teoria do monogenismo enquanto a antropologia física defendia o poligenismo. Foi nesse período que surgiram dois linhas de pensamento teórico entre os etnólogos acerca da origem do ser humano: o evolucionismo e o difusionismo.

Evolucionismo cultural clássico
O evolucionismo foi influenciado pela teoria da seleção natural de Charles Darwin que se consistia na tentativa de explicar a diversidade de espécies de seres vivos através da evolução. No entanto, a teoria de evolução empregada pelos etnólogos deve mais a outro autor, o sociólogo e filósofo Herbert Spencer, cujo conceito de evolução difere em importantes aspectos daquela desenvolvida por Darwin. Mesmo assim, posteriormente, a abordagem Spenceriana ficou conhecido como ‘darwinismo social’.

Os étnologos evolucionistas consideravam a sociedade européia da época como o apogeu do processo evolucionário. Portanto, este pensamento estava inserido em uma visão etnocêntrica que coloca a organização sócio-políco-econômica européia como grau máximo de civilização. Entretanto, mesmo considerando esse pressuposto, a antropologia cultural da época não se tornou uma pseudociência racista.

A tese evolucionista apoiava o princípio da unidade psíquica da humanidade de Adolf Bastian, e defendia a existência de apenas uma espécie humana idêntica inicial (monogenismo), que se desenvolve tanto em suas formas tecno-econômicas como nos seus aspectos sociais e culturais. A evolução ocorre em ritmos desiguais, de acordo com as populações e localizações geográficas, passando pelas mesmas etapas, para alcançar o nível final de "civilização". Assim, a proposição básica era de que o desenvolvimento humano seguiu estágios. Em cada étapa a experiência humana acumulava, levando a formação cultural cada vez mais avançada. Esta ideia - de que a experiência humana acumula - foi inspirada no raciocínio empírico de John Locke e outros filósofos do ‘empirismo’ do Séc XVIII.

Dois argumentos davam suporte ao evolucionismo: movimento unilinear e o determinismo tecnológico ou social. Segundo a tese evolucionista, haveria um caminho só a ser trilhado por todas as sociedades, numa trajetória vista como obrigatória, seguindo uma única linha ascendente, de estágios mais simples aos mais complexos (do mais selvagem ao mais civilizado). O determinismo social e cultural defende que o indivíduo é determinado pelo meio sócio-cultural, portanto define o estagio de maior evolução de uma sociedade, pelo grau de complexidade de sua tecnologia; já o determinismo biológico defende que a biologia é que determina o indivíduo, implicitamente os sujeitos de pele mais alva seriam os mais evoluídos. Os evolucionistas culturais clássicos não pregaram esta postura abertamente, sendo os antropólogos físicos e os biólogos do Sec.XIX os maiores defensores desse ‘racismo cientîfico’.

Os tópicos de interesse dessa corrente teórica eram basicamente casamento, família e organização sócio-política; religião, magia e outros sistemas ideológicos; relação indivíduo-sociedade. Interessavam-se, portanto no estudo das tecnologias, idéias e formas de organização social.

O método científico usado na antropologia (etnologia) é a comparação de dados, retirados das sociedades e contextos sociais, classificados de acordo com o tipo (religioso, de parentesco, etc), determinado pelo pesquisador. Os dados coletados lhe serviriam para comparar as sociedades entre si, fixando-as num estágio específico, inscrevendo estas experiências numa abordagem linear, diacrônica, de modo a que todo costume representasse uma etapa numa escala evolutiva.

Não se pode generalizar e atribuir as características acima a todos os autores que foram adeptos a essa corrente. Apesar da maioria dos pensadores evolucionistas terem trabalhado em gabinetes, um dos mais conhecidos: Lewis H. Morgan realizou pesquisas com algumas tribos dos Estados Unidos. Morgan compreendeu que grande parte da complexidade da cultura nativa americana em pouco tempo seria destruída como conseqüência do fluxo de europeus, por isso considerava tarefa crucial documentar a cultura tradicional e a vida social desses nativos. Outros pensadores importantes para o evolucionismo cultural são: Edward Burnett Tylor, considerado o pai do conceito moderno de cultura; John Lubbock, primeiro a rejeitar a cronologia bíblica que dizia que o mundo teria uns meros 6 mil anos: introduziu os termos paleolítico e neolítico, Velha e Nova Idades da pedra, hoje reconhecidas como períodos-chave do passado pré-histórico. A partir do estudo desses pesquisadores podemos perceber a relação existente entre arqueologia e etnologia que resultou na quebra do historicismo universal.

Difusionismo
A antropologia difusionista veio em resposta ao evolucionismo e foi sua contemporânea. Foi caracterizada pela anti-unilinearidade, ou seja, não admitia a reta constante e ascendente cultural defendida pelos evolucionistas. Portanto, a cultura para o difusionismo era um mosaico de traços advindos de outras culturas precussoras com várias origens e histórias.

Privilegiava o entendimento da natureza da cultura, em termos de origem e extensão, de uma sociedade a outra. Para os difusionistas, o empréstimo cultural seria um mecanismo fundamental de evolução cultural. O difusionismo acreditava que as diferenças e semelhanças culturais eram consequência da tendência humana para imitar e a absorver traços culturais, como se a humanidade possuísse uma "unidade psíquica", tal como defendia Bastian.

Dentro do difusionismo existia duas correntes principais: uma britânica e outra alemã. Na escola Alemã, conduzida por Wilhelm Schmidt e Fritz Graebner, acreditava-se que os traços culturais difundiam-se em círculos para outras regiões e pessoas através de áreas culturais variadas. Esses círculos culturais eram chamados de 'Kulturkreise'. A escola alêmã foi a principal especialização, uma vez que o evolucionismo foi questionado por Herder, que foi inspirado pela unidade psíquica proposta por A. Bastian, trazendo a questão da singularidade e da geografia da herança cultural de cada povo.

Na versão britânica do Difusionismo existia apenas um centro cultural primordial (difusão heliocêntrica, alusão ao Deus Sol egípcio) que era o Egito Antigo, do qual todos os traços culturais derivaram. Os principais adeptos dessa teoria inglesa foram G. Elliot Smith e William J. Perry.

O difusionismo tem respaldo científico, a partir do momento que suas inferências são baseadas em achados arqueológicos e pesquisas etnográficas.

BIBLIOGRAFIA
ERIKSEN, Thomas .H. & Nielsen, Finn S. História da Antropologia. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007
LAPLANTINE, F. Aprender Antropologia. São Paulo: Brasiliense, 2003. [1988]

www.antropologia.com;
www.wikipedia.org.

Um comentário:

  1. Olá, gostei muito dos seus argumentos, só que achei que ficou faltando uma escola Difusionista que foi a que se expandiu para a América do norte, tendo como principal precursor o alemão Franz Boas.
    Assim surgindo a escola norte Americana, onde Boas no sentido de estender todas as culturas como unicas.
    Esta tese foi fundamental para o desenvolvimento do relativismo cultural e do culturalismo.

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