A aula do dia 31 de março tinha como objetivo central apresentar aos discentes os antropólogos clássicos, Lewis Henry Morgan (1832 – 1917), Edward Burnett Tylor (1832 – 1917) e George Frazer (1854 – 1941), teóricos da corrente evolucionista, a partir da apresentação do livro "Evolucionismo Cultural: textos de Morgan, Tylor e Frazer", do doutor em antropologia social Celso Castro.
Segundo a docente é utilizado o termo "evolucionismo clássico", para diferenciar de uma outra perspectiva evolucionista que retornou a partir do século XX. O evolucionismo social clássico refere-se às teorias que analisa a sociedade a partir de estágios pré estabelecidos: havia um início num estado primitivo e com o passar do tempo tornavam-se civilizadas. Neste contexto estágio primitivo é associado ao comportamento mais animalesco, enquanto o civilizado é visto como a representação máxima do eixo cultural do continente europeu do século XIX.
Possivelmente, partindo de uma opção didática, antes de apresentar as contribuições de Morgan, a docente optou por trabalhar com os antropólogos Sir Henry Maine e John MacLennan. Enquanto o primeiro publicou uma obra sobre a origem da sociedade em que destacava a origem social a partir dos núcleos familiares – unidos por laços de parentesco – criticando assim a concepção de Contrato Social desenvolvida pelo filosofo suíço Jean Jaques Rousseau; o segundo efetuou um estudo destacando os estágios por qual passava a organização social, partindo sinteticamente por um momento de anarquia e promiscuidade, passando pela poliandria (uma mulher se relacionado com diversos homens, em geral, irmãos), para então chegar à matrilinearidade, então patrilinearidade para depois alcançar o status de civilização, que segundo os evolucionistas culturais clássicos, na esfera de parentesco, é representada pela família burguesa.
A partir da descrição destas duas formas distintas de analisar a sociedade foi apresentado o estudo realizando pelo antropólogo norte–americano Lewis Morgan. Filho de latifundiário, Morgan estudou direito no Union College, profissão que desenvolveu por algum tempo. [Segundo a docente a maioria dos evolucionistas eram advogados, sendo possível verificar tal formação a partir da escrita composta de termos jurídicos.] A aproximação com a antropologia iniciou-se com a vinculação do mesmo com uma associação de estudantes denominada "Ordem do Nó Górdio", que tinha como objetivo o estudo dos clássicos; segundo Celso Castro, "por sugestão de Morgan, a associação mudou seu nome para Grande Ordem dos Iroqueses, numa alusão aos índios desse grupo que viviam nas redondezas". (CASTRO, 2005, p. 9). Os iroqueses são um povo indígena conhecido por sua matrilinearidade. Na época do primeiro contato com os europeus os 5 tribos iroqueses estavam unidos numa "Confederacia" onde epersentantes das matrilenhagens eram escolhidas por mulheres e homens, forma de organização que perdurou até o Século XIX (e ainda hoje). Mais tarde, esta organização política levou alguns antropologos de chamar o sistema um estado baseado no parentesco).
A etnografia dos iroqueses ocupa um lugar de destaque na antropologia, por este grupo social ter providenciado um exemplo a primeira mão da importancia das relações de parentesco para organizar as sociedades consideradas 'primitivas'. Morgan se interessou e esta atitude lhe proporcionou uma pesquisa importantíssima em relação aos costumes e às regras sociais deste grupo indígena, fato que irá proporcionar o desenvolvimento de suas primeiras teorias em relação à organização social, tanto que ainda se discute a obra e o legado do autor.
Um dos objetos centrais do estudo de Morgan será o parentesco. Ao analisar os índios iroqueses o antropólogo percebeu que havia uma lógica que determinava as relações familiares. Em sua primeira obra "Sistema de consangüinidade e afinidade" publicada no ano de 1871, irá surgir classificações ainda utilizadas na contemporaneidade: por exemplo, 'primos cruzados' e 'primos paralelos'. Os primos cruzados são filhos de irmãos de sexo diferente. Em muitas sociedades que fazem esta distinção estão ligados por uma relação de afinidade, podendo casar-se no caso de primos de sexo oposto ou a se considerar cunhados potenciais no caso de primos do mesmo sexo. Já os primos paralelos são filhos de irmãos do mesmo sexo; estes passam a ser considerados irmãos consangüíneos e não podem casar ou se pensar como afins (ou seja, não são cunhados potenciais).
Segundo Morgan, esta pesquisa proporciona a identificação de dois sistemas de parentesco: o sistema classificatório e o sistema descritivo. O primeiro era característico das sociedades ditas ‘primitivas’, onde a classificação terminológica das relações familiares podia extrapolar a concepção de família que é geralmente associada aos sistemas judaica–cristãos de origem europeu (mãe, pai e filho). Nos sistemas classificatórios de parentesco, categorias de parentes que são vistos como distintas para os europeus e norte americanos, como irmão e primo ou tio materno e tio paterno, por exemplo, são considerados como uma categoria só. Por exemplo, a tia materna (irmã da mãe) classificada como 'mãe'; e um primo paralelo como irmão. Morgan descreveu 15 variantes desse ‘sistema de parentesco classificatório’, tabulando e apresentando os resultados das suas pesquisas na América do Norte e na Ásia. Já o sistema descritivo era relacionado às sociedades consideradas civilizadas. Nesse sistema, a classificação dos parentes seguia as relações ‘reais’ de parentesco, de um ponto de vista biológica, segundo Morgan. Nesse sentido, ao seu ver as categorias terminológicas de parentesco eram descritivas.
Assim, mesmo com as limitações da época que não conseguia efetuar o exercício da alteridade – compreender e respeitar o outro – caracterizando as sociedades a partir de uma perspectiva evolucionista, Morgan traz uma contribuição bastante importante para o estudo antropológico: demonstrar que nas sociedades ditas "primitivas" havia também um sistema de parentesco.
Devido ao pouco tempo não foi possível finalizar todo o conteúdo proposto para refletir as contribuições deixadas por Morgan, nem iniciar a explanação acerca dos antropólogos Edward Burnett Tylor e George Frazer, objetos de conhecimento desenvolvidos na próxima aula.
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