quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

A antropologia multifacetada de Clifford Geertz: Algumas considerações

Por Gerôncio Ferreira Macedo Júnior[1]

I – Introdução

Este texto tem caráter meramente descritivo, à medida que visa situar algumas noções elementares da antropologia de Clifford Geertz, traçando um paralelo entre o capítulo I da sua obra – A Interpretação das Culturas – e alguns apontamentos de classe.

Como veremos, a discussão sobre símbolos que se travou nas décadas de 60 e 70 teve em Clifford Geertz seu precursor, inaugurando a fase da antropologia simbólica, interpretativa ou hermenêutica.

II – A antropologia como rede de significados

Clifford Geertz (1926-2006) foi um antropólogo estadunidense que capitaneou o pensamento de que a antropologia deve ser considerada como uma ciência interpretativa. Para chegar a esta conclusão, Geertz parte do pressuposto de que a cultura, como “o todo mais complexo”(assim definida por Tylor), constitui-se em um ecletismo autofrustrado, de modo que a cultura tornou-se, metaforicamente, em um cacho de bananas, às quais o antropólogo pode, a qualquer tempo, escolher. Contra este pressuposto, Geertz propõe uma leitura diversa, um conceito semiótico, o qual delineará a antropologia como ciência hermenêutica, à busca de significados. Auto-explicativas são as palavras do autor: “É justamente uma explicação que eu procuro, ao construir expressões sociais enigmáticas na sua superfície”. (GEERTZ, 1978, pág.15)

A ciência, sob este prisma, deve ser analisada a partir de outro enfoque. Conforme salienta Geertz, para compreender uma ciência não se deve aceitar posicionamentos doutrinários, mas, pelo contrário, é preciso analisar como os praticantes desta ciência atuam ou agem. Na seara antropológica o método que nos identifica é etnográfico. Logo, o ‘fazer etnografia’ constitui-se em pressuposto para a compreensão epistemológica da antropologia. Mas não é a discussão acerca de qual o método mais propício a ser escolhido, muito menos a instrumentalização desse método, plasmada em transcrição de textos, ou investigação genealógica etc. Ao contrário, o que definirá a análise antropológica como forma de conhecimento é o tipo de esforço intelectual que se afigura em cada caso concreto. Nas palavras de Gilbert Ryle (apud GEERTZ, 1978, pág.15), o fazer etnografia produz uma “descrição densa”. Entre a “descrição densa” e a “descrição superficial” estaria contido o objeto da etnografia, na visão Geertziana. A título de exemplo, entenda-se “descrição superficial” como aquilo que alguém está fazendo (uma garota que olha o seu cabelo no espelho), e a “descrição densa” como aquilo que ela está fazendo (olhando se ao se olhar no espelho existe alguém a olhando). Neste intermédio há uma “hierarquia estratificada de estruturas significantes”, um conjunto de significantes, ou, melhor, “um mundo que tem vida”. Percebe-se que a partir deste aspecto, Geertz considera os significados e suas interpretações como núcleo de sua antropologia, isto é, como se fossem textos. Tratados como se fossem textos, as culturas devem ser lidas de diversas formas.

O antropólogo seria como um “crítico literário”, e menos como um decifrador de códigos (uma alusão à análise estruturalista proposta por Lévi-Strauss). Pois o primeiro constrói o significado, e o segundo o decifra, como se houvesse apenas um código. O antropólogo, por sua vez, igualmente ao crítico, captura do comportamento dos nativos informações diversas com múltiplas referências. Por isso a etnografia é uma atividade complexa: É muito mais que uma descrição superficial. É uma descrição densa, uma vez que os comportamentos se embaraçam em “teias de significado”. Primeiro o antropólogo irá capturar a teia, logo após, desembaraçá-la.

II – O símbolo como domínio público

A cultura e, por seu turno, os símbolos são públicos, já que o comportamento humano é uma ação simbólica. Geertz rechaça o argumento de que se deve buscar o status ontológico do comportamento, advogando que a questão central é buscar a importância, a saber: o que está sendo comunicado, “transmitido” com a sua realização. Por sua via, o autor critica a doutrina de Ward Goodenough (e sua antropologia cognitiva) segundo a qual a “cultura está [localizada] na mente e no coração dos homens”. Geertz assevera que a elaboração de tal corrente possui defeito grave ao unir um subjetivismo extremo a um formalismo extremo, produzindo, ao final, a dúvida se as análises particulares projetariam o modus vivendi dos nativos, ou não passariam de quadros simulados racionalmente, afastando, em substância, o pensar dos nativos.

Sob este panorama, Geertz afirma que “a cultura é pública porque o significado o é”. (GEERTZ, 1978, pág.23) Tal aferição deixa clara que sua intenção (fortemente influenciada pela filosofia da linguagem, de Husserl até Wittgenstein) possui, em nossa análise, duas acepções. A primeira é afastar, como nos diz Geertz, a “falácia cognitiva”, que insiste em dizer que a cultura consiste “em fenômenos mentais que podem ser analisados através de métodos formais similares aos da matemática e da lógica” (é uma crítica a Stephen Tyler, aos behavioristas e aos idealistas) (GEERTZ, 1978, pág.22) . Pois, o ato de uma piscadela – com toda sua carga axiológica – só pode ser entendido se aquele que pisca compreende o conteúdo desse piscar. Entender o contrário seria embaralhar o conteúdo de uma simples contração de pálpebras com o ato de piscar como meio de comunicação numa determinada situação. Ou, como nos diz Geertz, entender as descrições superficiais como densas. A lição de Wittgenstein, sob este prisma, é singular. Di-lo, brilhantemente, que normalmente “as pessoas são transparentes para nós”, isto é, absorvemos sem dificuldades o conteúdo das relações inter-pessoais; contudo, saliente-se que em um país distinto do nosso esta realidade cai por terra, já que, mesmo dominando por completo o idioma, a compreensão de um povo se nos afigura como algo distante; não porque não entendemos o que eles falam, senão porque não conseguimos nos colocar inseridos naquele contexto, ou seja, nos contextualizar.

A questão colocada por nós de se contextualizar, Geertz chama de “situar”. Aqui está o objetivo da etnografia como atividade do sujeito. Assegura o autor que se situar entre os nativos não se mostra como copiá-los ou nos transmutarmos neles. Contrariamente, significa conversar com eles. Deste modo, o objetivo da antropologia – de modo que abarque o conceito de cultura como elemento semiótico – é a amplificação do universo discursivo. A cultura vista desta maneira, é um símbolo, e como tal configura-se a partir de um contexto, dentro do qual podem ser descritos com densidade.

O antropólogo busca, então, compreender este sistema de símbolos, relacionados uns com os outros, “expor sua normalidade, sem reduzir sua particularidade”. É normal, para o grupo; é, também, particular no momento em que é dessemelhante a cultura de outro grupo. Conseqüentemente, afirma Geertz, mais compreensivo tornar-se a visualização da cultura do nativo, à medida que se tornar mais lógico para o antropólogo o seu contexto. Com esmero o autor sintetiza nesta passagem: “Isso os torna acessíveis: colocá-los no quadro de suas próprias banalidades dissolve sua opacidade”. (GEERTZ, 1978, pág.24)

Tais táticas, também chamadas de “ver as coisas do ponto de vista do ator”, “abordagem verstehen” (termo alemão plasmado por Max Weber para discutir a compreensão dos significados) , “analise êmica”, devem ser abordadas, diz Geertz, com cuidado, pois, nada melhor do que compreender a interpretação antropológica – nos termos explanados pelo próprio autor –, creditando uma compreensão exata do que a antropologia se proponha a dizer, das suas formulações - através da interpretação dos atos dos sujeitos estudados- dos sistemas simbólicos de outros povos.

Dizer isso é afirmar que nossas interpretações desses atos são construções imaginativas, descrições que passam longe da própria interpretação que fazem de sua cultura os próprios nativos. São assim análises científicas, oriundas da antropologia, e da experiência daqueles que as descrevem. Diz Geertz: “começamos com as nossas próprias interpretações do que pretendem nossos informantes, ou o que achamos que eles pretendem, e depois passamos a sistematizá-las”. (GEERTZ, 1978, pág.25) Em suma, o antropólogo, distintamente do nativo que faz uma interpretação de primeira mão, faz uma interpretação de segunda ou terceira mão. São “ficções”, “construídas” e “modeladas” igualmente a uma fantasia narrada em um livro, sendo, entretanto, que na descrição do antropólogo a situação ocorreu e foi anotada, enquanto a descrição de um livro de fantasia a situação é hipotética, não ocorreu. Muda-se o enfoque, mas ambas são fabricadas.

Portanto, deve o etnógrafo separar em seus trabalhos a piscadela da simples contração da pálpebra, ou a piscadela verdadeira da imitada, para assim concluir uma descrição densa, concentrada, produto da interpretação, distante da mera descrição superficial.

As formas culturais encontram articulação, nos diz Geertz, nos passos largos ou curtos do comportamento, isto é, formam uma teia ou rede de significados. Esta teia de significados deve ser inscrita pelo etnógrafo, deve ser anotada. As coisas passam, os sujeitos perecem, mas o que ocorreu entre eles permanece plasmado no texto, “conservado para estudo”. Fica bastante claro o empréstimo da noção de inscrição da ação de Paul Ricoeur por Geertz. Para aquele o que fica inscrito é “o significado do acontecimento, não o acontecimento como acontecimento”, o que impõe igualmente em ratificar o entendimento segundo o qual o dito é apreendido, tornando-se enunciado. E o que escrevemos é a substancia deste enunciado.

Mesmo entendendo que o etnógrafo é aquele que escreve, é necessário pontuar que a mera inscrição não pode ser entendida como uma realidade absoluta, um “discurso social bruto”, como diz Geertz, senão como aquilo que realmente está na margem, aquilo que é possível, através dos meios existentes, isto é, o compreender. Entretanto, longe está a antropologia de se tornar uma Weltanschauungen (concepção de mundo ou cosmo-visão – termo cunhado por Wilhelm Dilthey(1833-1911) para definir o processo de conhecimento que orienta o indivíduo a ascender a consciência de si mesmo e do mundo); propor tal conclusão é chegar ao final do labirinto da ciência, portanto uma realidade que não pode ser encontrada.

III – A dimensão teórica da antropologia interpretativa

Um argumento elucidativo, e ao que parece, maior preocupação de Geertz, é aquele que se refere a incapacidade de construção conceitual no seio de uma epistemologia interpretativa. Tal preocupação reside na (in) possibilidade de apreender uma interpretação, uma vez que determinada construção cai por terra face uma análise sistemática. Já que a interpretação é construída a partir da carga sensitiva daquele que a constrói, quaisquer tentativas de enxergá-la de forma distinta de como foi proposta é vista, nas palavras de Geertz, como um “travesti”.

Isso leva a uma conseqüência nefasta: que o antropólogo está limitado a “insinuar” teorias, jamais expressá-las. Geertz argumenta, também, que esta limitação se constitui em barreira à interpretação cultural ou ao fazer vôos mais longos, como em outras ciências. A antropologia interpretativa se restringe, assim, a pequenos saltos, ou de outro lado, cair-se-ia em “sonhos lógicos”, ou “simetrias formais” (GEERTZ, 1978, pág.34-35) (mais uma referência crítica ao estruturalismo lévi-straussiano, concorrente teórico à abordagem proposta pelo autor). Por via obliqua, a análise semiótica possibilita a apreensão do mundo de conceitos no qual vivem determinados grupos, favorecendo um contato mais denso.

Geertz argumenta que seria possível amplificar os conceitos, mas dificilmente isso levaria a uma construção de uma Teoria Geral de Interpretação Cultural, pois o objetivo fundamental não seria, como já foi dito algures, construir códigos regulares, senão que possibilitar descrições mais densas.

Respectivamente, os significantes seriam atos simbólicos ou conjuntos de atos simbólicos e o objetivo do estudo da cultura centra-se na análise do discurso social, utilizando a teoria para “investigar a importância não-aparente das coisas”. (GEERTZ, 1978, pág.36)

Sob esta perspectiva, critica-se que a interpretação cultural seria post facto, isto é, após o fato, e Geertz assume, em parte, tal crítica. Mas pontua que estas interpretações funcionam como estabilizador de situações já sob controle, não foram construídas para supervenientes experimentos ou para deduzir sistemas determinados. O objetivo destas interpretações, por outro lado, não é ficar estanque em relação à situações do passado. Deve, isso sim, projetar-se para o futuro na medida em que favorece o surgimento de novas interpretações para outros fenômenos. Funcionariam como um pressuposto epistemológico para que aquele que inicia a pesquisa não se sinta desamparado, “intelectualmente vazio”. Podendo ser, inclusive, re-elaboradas e de uma forma ou de outra continuam a ser utilizadas.

Deste ponto, saliente-se que Geertz trabalhará com conceitos gerais e sistemas de conceitos: “integração”, “ethos”, “revolução”, “identidade”, “visão”, “cultura”, que fazem parte de sua etnografia descritivamente densa. A partir daí pode-se dizer que a cultura colocada, sob análise, é retirada de pequenos fatos e projetada com vistas a produzir uma rede complexa de significados. Eis, o que a sua produção etnográfica faz, com uma habilidade extraordinária.


Referências bibliográficas:

Artigo acessado via web: http://www2.fcsh.unl.pt/edtl/verbetes/W/Weltanschauungen.htm
GEERTZ, Clifford. 'Uma Descrição Densa: Por uma teoria Interpretativa da Cultura'.
In A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Editora Guanabara. 1978. págs.13-41.

[1] Acadêmico do curso de Ciências Sociais da UFBA. A presente resenha foi apresentada à disciplina Antropologia I no segundo semestre de 2009. Meus sinceros agradecimentos à Profa. Dr. McCallum pelas sugestões de alteração do texto e pela paciência na hora da correção.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

quarta-feira, 10 de junho de 2009

COMO ESCREVER UMA REDAÇÃO ARGUMENTATIVA

  1. Planeja – escreva um plano da redação, em três partes: Introdução, Meio, Conclusão. Não se limite a 30 linhas. Em uma hora pode escrever duas ou três páginas, quando bem preparado.
  2. Na Introdução – deixe claro qual o problema ou tema a ser examinado e como você pretende argumentar. A explicação deve estar escrita em forma resumida, curta e deve ir diretamente ao ponto. Use um estilo direto, não escreva frases vazias e não generalize (por exemplo, "Desde o começo da humanidade... , ou "Em todas as sociedades....". Não use palavras desnecessárias.
  3. No Meio – diga ao leitor o que pretende dizer, indo de ponto em ponto.
  4. Na Conclusão, junte os distintos pontos, apontando as implicações do que você disse. Não deveria haver dúvida sobe o seu argumento.
  5. Do começo ao fim, deve levar o leitor ponto por ponto, até a conclusão, sempre defendendo o seu argumento, utilizando a razão, conduzindo o leitor a partir de uma clara lógica, explicando, e sempre ilustrando cada ponto com etnografia.
  6. Escreva para convencer. Defenda apenas um ponto principal na redação. Decida o que será antes de começar.
  7. Você é o/a autor/a! Coloque-se em comando. Tome atitude. "Eu mostro que..." ; "Eu argumento que..." "A minha analise evidencia que (nome de autor) está equivocado(a) quando afirma que...". Esse uso de uma posição de autoria forte implica na necessidade de tomar cuidado – é necessário saber o assunto e pensar bem sobre o seu argumento, os pontos que pretende expor, a etnografia que pretende usar para ilustrar os pontos - antes de começar a escrever.
  8. Por isso, não utilize a voz passiva e não se esconda atrás de outros autores.
  9. Não inclua informação desnecessária e irrelevante.
  10. Seja claro sobre a ordem da exposição dos pontos. Um precede o outro – porque? Como é que um ponto leva ao outro?
  11. Seja claro sobre quais pontos derivam de quais autores – é importante citá-los – e quais pontos são seus. Nunca deixe parecer que você é autor de uma idéia ou ponto – a maioria das idéias derivam das fontes – dos trabalhos de autores conhecidos. Mas isso não quer dizer que você não pode tecer um argumento próprio!
  12. Aprenda a ler de uma forma compreensiva e crítica. Fazer anotações detalhadas dos pontos principais e dos dados etnográficos que os sustentam é necessário como um primeiro passo. Uma redação argumentativa na antropologia não deve ser pensada como um resumo de uma só leitura. É importante usar diferentes fontes e ler distintos autores. Assim, pode comparar perspectivas distintas sobre um mesmo tema ou problema.
    Na redação, pode e deve citar esses autores. Para citar, refira ao sobrenome do/da autor/a, data do texto - Por exemplo (Marx 1866)
  13. As citações de trechos de texto devem ser curtas e relevantes, incluídas não como substitutos para texto próprio mas como ilustrações para um ponto, e/ou como desenvolvimento e aprofundamento de um ponto. Para citar, refira ao sobrenome do/da autor/a, data do texto, e no.de página - Por exemplo (Marx 1868:99)
  14. Inclua as referências bibliográficas no final da redação. (Sobrenome, nome, titulo, editora, data)

terça-feira, 26 de maio de 2009

quinta-feira, 21 de maio de 2009

O funcionalismo de Radcliffe-Brown: Resumo da aula de 05.05.09


Autor: Robson Cunha

Alfred Reginald Radcliffe-Brown nasceu em Birmingham, Inglaterra, em 1881. De origem operária, iniciou seus estudos universitários em Oxford na área de ciências naturais, mas, influenciado por seus professores, especialmente Rivers, mudou-se para Cambridge para estudar Antropologia. Após a colação de grau, realizou trabalho de campo nas ilhas Andaman, no golfo de Bengala, a leste da Índia, e redigiu tese marcada pelo estilo difusionista, na época muito bem recebida nos meios acadêmicos. Contudo, logo após, afastou-se da orientação de seus mestres, notadamente Rivers.

Radcliffe-Brown veio a ser severo crítico daquilo que denominou de "a história conjetural" dos evolucionistas cujo método era o da abordagem dos costumes dos povos baseado simplesmente em conjeturas sobre o passado e não em observações diretas no presente. Dizia que esse caráter historicista do método evolucionista não podia dar resultados significativos para a compreensão da vida e da cultura humana, já que os arranjos contemporâneos existiam porque eram funcionais no presente e não como "sobreviventes" de épocas passadas. Para esse antropólogo, como para Malinowski, interessava o estudo do presente, do tempo sincrônico, e não havia espaço para especulações sobre ‘sociedades primitivas’ vistas sob o prisma do tempo diacrônico.

Radcliffe-Brown fundou uma abordagem teórica antropológica conhecida como estrutural-funcionalismo. Cada sociedade estudada era considerada como uma ‘totalidade’, como um organismo cujas partes eram integradas e funcionavam de um modo mecânico para manter a estabilidade social. Como estrutural-funcionalista, as preocupações de Radcliffe-Brown estavam ligadas à descoberta de princípios comuns entre as diversas estruturas sociais, o significado dos rituais e mitos e suas funções exercidas na manutenção da sociedade. A abordagem foi fortemente influenciada por Durkheim.

Radcliffe-Brown tomou conhecimento da obra de Durkheim através da leitura do livro Formas Elementares da Vida Religiosa, que o sensibilizou de tal forma que, na versão final de sua tese, o livro The Andaman Islanders, publicado em 1922, a sociologia durkheimiana estava definitivamente incorporada na sua maneira de pensar a Antropologia. Dois conceitos básicos, então, são utilizados em sua obra: significado e função social. Para compreender um determinado ritual é necessário, inicialmente, encontrar seu significado, isto é, os sentimentos que ele expressa e as razões que os nativos apontam, para em seguida identificar sua função social naquilo que é importante para assegurar a coesão social necessária para a existência do grupo.

A hipótese apresentada no trabalho, no geral, é análoga à hipotese sobre o papel das ‘representações coletivas’ de Durkheim. Para Radcliffe-Brown, os sistemas de sentimentos regulam a atuação dos indivíduos de acordo com as necessidades da sociedade; tais sentimentos, que não são intatos, são desenvolvidos e expressos no indivíduo pela ação da sociedade sobre eles. A sociedade mantêm-se coesa por força de uma estrutura de normas morais e regras civis regulatórias do comportamento que são independentes dos indivíduos que as reproduzem. Estas normas e regras atuam então como uma espécie de ‘consciência coletiva’. Desse modo, o indivíduo submete-se aos desígnios da sociedade e é o seu produto.

Assim, para Radcliffe-Brown os indivíduos são apenas a expressão da estrutura social. Aí reside a grande diferença que o separa de Malinowski, apesar de comungarem princípios funcionalistas (ou pelo menos compartilhar a rúbrica de ‘funcionalista’). Enquanto considera de mais relevante os princípios da estrutura social e os mecanismos de integração social, Malinowski detêm-se nas motivações humanas e define a função dos elementos culturais segundo as necessidades biológicas do indivíduo.

Radcliffe-Brown tinha ambições maiores no campo da Antropologia. Estava em busca de princípios gerais que norteassem uma ciência natural aplicada à sociedade, cujo objeto seriam os fenômenos da cultura, considerando as funções de suas instituições, costumes e crenças como parte de sistemas integrados. Contrariamente aos difusionistas de geração anterior, que comparavam elementos culturais isolados de regiões diversas, advogava o método comparativo de sistemas culturais totais, tipificados, entendendo que somente assim seria possível a descoberta de princípios ou leis universais que atuam em todas as sociedades humanas. Tais princípios, segundo ele, necessitavam da prova da pesquisa de campo para confirmação, rejeição ou modificação.

O sistema de parentesco era um dos elementos fundamentais de sua análise. Considerava-o, mesmo, o elemento fundamental para compreensão da organização social em sociedades de pequena escala, já que expressava um sistema jurídico de normas e regras que impõem direitos e deveres. A busca de princípios comuns, comparando as diferentes sociedades, tornou-se objeto de suas preocupações.

Ao lado do sistema de parentesco, o totemismo tomou parte importante em seus estudos, e foi objeto de pesquisas na sociedade dos aborígenes, durante pesquisa de campo na Austrália, entre 1910 e 1914. Concebia o totemismo como sendo "uma relação mágico-religiosa específica e permanente entre uma pessoa ou um grupo social, de um lado, e uma espécie ou certo número de espécies de objetos naturais de outro"(Melatti, p.16). Considerava sua importância enquanto fenômeno de um tipo geral, que apresentava diferentes formas em diferentes regiões, e preconizava a utilização do método comparativo na busca de princípios comuns. Para Radcliffe-Brown, a associação de determinadas espécies de animais e objetos a pessoas ou grupos não está nas características em si dessas espécies e sim na relação entre as características de uma espécie com as de outra. Para ele, as diferenças e igualdades encontradas nas características das espécies que estão ligadas a cada grupo são expressas nos rituais e mitos pela relação de oposição ente solidariedade e litígio. Esse entendimento tornou-se referencial para a Antropologia.


Referências
Melatti, Júlio Cezar. ‘Introdução’, In Radcliffe-Brown: Antropologia. Orgs. J.C Melatti & F. Fernandes. Coleção Grandes Cientistas Sociais, São Paulo, Ática, 1978. Pp.7-35
Eriksen, Thomas H. & Nielsen, Finn S. História da Antropologia. Petrópolis, RJ, Ed. Vozes, 2007.

sábado, 9 de maio de 2009

"Antropologia Cultural" e Franz Boas

Autora: Paula Danielle Matheus

Na aula do dia 07/05, a professora Cecilia discutiu as origens da escola boasiana de antropologia cultural e explanou sobre o texto de Celso Casto, "Antropologia cultural", que trata das concepções de Franz Boas, grande antropólogo considerado um dos fundadores da moderna antropologia.

Nascido na Prússia (atual Alemanha) em 1858 numa família judia, entrou para a universidade em 1877, porém como estudante de física. Insatisfeito, mais tarde tornou-se geógrafo, até descobrir sua afinidade com o meio etnográfico. Sua vida foi caracterizada por mudanças e não só nesse aspecto: nesse periodo da sua vida vivia numa ponte entre Berlim e Nova York, como também, nas constantes transições de empregos no mercado de trabalho.
O primeiro trabalho de Boas com aspectos antropológicos foi um estudo dos Esquimós (hoje conhecidos como Inuit ) da ilha de Baffin, no norte do Canadá, em meados do ano de 1883. Apesar de não ser correto considerar esse primeiro trabalho de Boas como uma passagem de sua posição de geógrafo para antropólogo, com certeza foi o primeiro passo. Passou um ano em Baffin, convivendo com a comunidade em diversas atividades do dia-a-dia, mas apesar disso, seu método era mais de um observador do que um pesquisador participante, até porque essa característica do método etnográfico só veio a se tornar chave da antropologia trinta anos depois, com Malinowski. Sua experiência com os Inuit gerou-lhe observações as quais o instigou a questionar e se opunhar a idéia de que a "boa sociedade" (a dos europeus) teria vantagem sobre as ditas sociedades "selvagens". Mais tarde, fez outra expedição, agora para estudar os Kwakiutl (Caracterizados pelo Potlach). Seu objetivo principal era estudar a língua e os mitos nativos, como também, reunir objetos para coleções museológicas. Nesse trabalho, ele desenvolveu mais seu método de pesquisa empírico, apesar de passar apenas poucos meses com os habitantes. Ele procurava intelectuais nativos – conhecidos como informantes chaves – para saber de tudo o que lhe interessava na vida daquele povo. Fazia longas entrevistas e anotava tudo que podia e, por conseguinte, não participava da vida nativa. Essa outra forma de abordagem foi realizada porque Boas não ia à suas expedições sozinho, mas sim em grupos de pessoas - geralmente seus alunos - e dessa forma o tempo gasto na pesquisa seria menor.
A vida de antropólogo de Franz Boas foi marcada pelas críticas tanto à doutrina evolucionista quanto à difusionista, porém sem considerá-las completamente erradas. Foi em cima das críticas em relação a Morgan e outros evolucionistas, que Boas começou a fazer seu trabalho. Ele era contra o evolucionismo, pois acreditava na multiculturalidade e não na unilinearidade; e era contra o difusionismo mais radical, acreditando naquele mais tênue - que ocorre entre sociedades reais, ou seja, difusão de traços culturais entre sociedades históricas separadas por pequenas distâncias físicas e geográficas.
Boas defendia a importância de se realizar pesquisas empíricas tomando a antropologia como ciência – assim como fez Malinowski e Radcliffe-Brown. Entretanto, não seria a pesquisa científica de acordo com a linha das ciências naturais e sim a das ciências humanas (dessa vez contrária a concepção de Radcliffe-Brown). A diferença entre as duas formas deriva da diferença entre os seus objetos; por serem 'cientificas', ambas adotam uma postura de objetividade; entretanto, as ciências naturais estudam os fatos reais (objetivos) da natureza, enquanto as ciências humanas estudam (de um modo objetivo) a subjetividade própria dos seres humanos. O objetivo das ciências naturais é chegar a generalizações; em contraste, nas ciências humanas só se pode alcançar descrições bem particulares, uma vez que generalizar teoricamente sobre culturas é totalmente equivocado, enquanto naõ existe uma base empírica etnográfica e histórica solida.
A fonte dos estudos de Boas não era a antropologia física e sim a cultural (na sua formação em alemanha abordava questões folcloristas), mesmo que tenha feito estudos sobre a craniologia. Acreditava que a etnologia deveria ser baseada na história dos povos. Muitas vezes se referem à escola boasiana com o termo "particularismo histórico" – uma forma de criticar Boas, pois se concentrar em ‘particularismos’ não possibilita a teorização sobre a humanidade e a cultura como um todo. Mesmo que esse ponto de vista tem algum valor, seria mais justo com Boas a denominação de "historicismo cultural". Ele queria entender a história, mas não chegar a ela cheio de pré-noções e pré-conceitos. Acreditava, também, que todo trabalho tem que ser feito, nada está pronto – É necessário ir a campo e procurar saber da cultura dos povos a partir dos informantes chaves, aos quais se perguntaria o passado daquela cultura – fazendo então as histórias culturais particulares. Queria uma história baseada nos fatos e era contra as grandes teorias históricas.
Um ponto forte do trabalho de Boas era ser contra o racismo científico e o etnocentrismo. Ele sempre tentou mostrar uma dissociação entre cultura e biologia. Mostrava que a genética não determinava o tamanho do crânio especificamente de acordo com cada povo: Isso era relativo e fez com que ele se tornasse contra os craniologistas do século XIX.
Boas ao longo da sua vida foi professor da Universidade de Columbia em Nova York. Em seus anos como docente conseguiu juntar um grupo de alunos afastados de preconceitos e com visão contra o racismo científico, o que ajudou muito à transmissão do seu trabalho e de seu posicionamento. Acreditava que esse grupo de estudantes deveria fazer uma antropologia de resgate, ou seja, ir a campo e pesquisar povos que estavam passando por um processo quase de extinção. Isso para Boas tinha caráter de urgência.
Dentre seus alunos espetaculares estavam Alfred Kroeber (1876 - 1960) e Robert Lowie (1883 – 1957). Outras alunas de Boas que se tornaram expoentes na antropologia norte americana foram Margaret Mead e Ruth Benedict. Elas fundaram a linha de pensamento boasiana chamada "Cultura e Personalidade", aproximando psicologia e cultura. Acreditava-se que para estudar a cultura teria que se olhar também como que cada indivíduo age na sociedade – teoria um tanto contra as concepções de Durkheim.
Em decorrência do sucesso desses trabalhos realizados em prol da existência de "cultura(s)" e não "cultura", e contra o racismo, que Boas se tornou o fundador da antropologia cultural norte-americana e que sua uma abordagem se tornou das mais bem aceitas e coerentes,. Seu legado nao está apenas presente nos seus escritos acerca de sua concepção de antropologia, e sim nos ensinamentos que transmitiu a seus alunos: os expoentes da antropologia norte-americana.

Engels e as Origens da Opressão da Mulher


Autoras: Élida Franco & Lorena Correia

Resumo da aula de antropologia – 16/04/09

A aula iniciou com a distinção entre diacrônica e sincrônica. Os antropólogos evolucionistas do século XIX se preocupavam com o tempo diacrônico que se caracteriza pelo fluir do tempo e, portanto, pelo processo histórico (cronologia). O seu interesse principal era desvendar as origens da ‘cultura’ ou ‘civilização’. Em contraposição, o tempo sincrônico consiste no momento presente, atual. Os antropólogos modernos, após Malinowski, têm estudado a sociedade e a cultura a partir de um interesse no que ocorre no presente, ou seja, a partir de um enfoque sincrônico. A sua principal preocupação era explicar o presente, e não o que ocorreu antes. A antropologia moderna deixou de se preocupar com as origens da cultura, preferindo explicar o presente,. (Entretanto, após os anos 1980, pensou-se que excluir a história e o passado da mira da antropologia era radical demais e a disciplina voltou a discutir a relação entre presente e passado).

Nas décadas dos 1960 e 1970 algumas antropólogas feministas marxistas ocidentais - até mesmo no Brasil e na América Latina - enquanto se baseavam nesta abordagem sincrônica, se inspiraram com a teoria evolucionista de Marx e Engels sobre as origens da desigualdade sexual (Ver Sacks 1975). Para Engels, a família, a organização econômica e a política resultavam da evolução da sociedade, argumento que esse autor marxista desenvolveu no seu livro “A origem da Família, da propriedade Privada e do Estado” (1884).

Segundo a aula, na antropologia a família é entendida como composta de relações sociais entre pessoas. No senso comum, a propriedade é representada como uma relação entre pessoa e objeto. Entretanto, os antropólogos inspirados pela teoria marxista entendem que a propriedade privada é também uma relação social.
Marx foi o autor de uma teoria sobre a sociedade conhecida como ‘materialismo dialético’. Esta é teoria parte do pressuposto que a existência humana nas suas formas materiais determina a consciência humana.

Engels era amigo e colega de Marx, com quem ele havia discutido as questões trabalhadas no seu livro. Além disso, ele teve como base as anotações que Marx havia feita sobre o trabalho de Morgan, o livro “A sociedade antiga” (1877). Os dois criadores da teoria marxista conheciam as publicações dos evolucionistas culturais, inclusive, os debates sobre a primordialidade - ou não - da matrlinearidade. Baseado nestes autores, no seu livro Engels argumentou que nas sociedades primitivas as mulheres eram livres e que havia igualdade e paridade política entres os sexos. Os gens (que são definidas como um agrupamento de famílias, equivalente a clã) eram as unidades econômicas. Para Engels, nesta época antiga não existia a instituição da ‘família’ e a divisão social era fraca. A produção econômica era de subsistência e os povos eram auto-suficientes. Nesse tipo de 'economia de subsistência', os produtos só tinham valor de uso e não 'valor de troca'. Para exemplificar esse tipo de sociedade, Engels cita as comunidades iroquesas, onde as mulheres possuíam posição elevada.

Para Engels, a época era caracterizada pela igualdade entre os sexos. Como resultado do alto status atribuido às mulheres nessas sociedades, o parto era considerado um ato coletivo, social. A posição das mulheres derivava dos aspectos materiais da vida social. Não havia propriedade privada, apenas pertences particulares. Estes últimos eram ferramentas e pequenos artigos de uso, os quais não produziam excedentes que podiam ser trocado. Desta forma, não havia riqueza. Uma pessoa não ficava mais rica do que outra, porque ninguém produzia mais do que consumia. O surgimento da propriedade privada aconteceu quando os homens domesticaram os animais grandes e começaram a criá-los e reproduzí-los. Assim, havia sobras ou excedentes e este fato possibilitou a troca. Já que apenas o homem era responsável pelos cuidados com os animais, esse começou a enriquecer.

Segundo Engels, os donos dos animais também seriam donos das terras agrícolas e as pastagens onde os animais ficavam. Assim, surge a desigualdade entre homens e mulheres, pois estas não possuíam animais. Ocorria paralelamente que uns homens ficavam ricos e outros não. Desse modo, surgiu a desigualdade social.

Marx e Engels não eram os primeiros a associar o surgimento da desigualdade entre os seres humanos com a invenção da propiedade. Para Rousseau, o surgimento da propriedade privada acarretou na desigualdade social.

Na história contada por Engels, as mulheres tornaram-se propriedade do homem, ou seja, foram subjugadas ao poder masculino. Após disso, a mulher deixou de ser social e seu campo de atuação foi restringido aos afazeres domésticos. O parto antes social deixou de ser público, para ser confinado ao domínio privado. Não havia mais celebrações comunitárias em torno do evento. A mulher, então, era somente vista como reprodutora e progenitora dos herdeiros da riqueza acumulada pelo homem.

A tese defendida pelos antropólogos evolucionistas do séc. XIX de que existia o matriarcado na fase da barbárie em todas as sociedades ditas primitivas foi refutada. Hoje os antropólogos e etnólogos não acreditam que em algum momento da história a mulher teve domínio sobre o homem.

Referências:

Burnicore, Augusto C. “Engels e as origens da opressão da mulher”. In Revista Espaço Acadêmico No. 70 Março 2007. Ano VI
http://pt.wikiversity.org/wiki/Latim/

Sacks, Karen. 1975. ‘Engels Revisited: Women, the organization of production and private property’ In Toward an Anthropology of Women (ed. Rayna R. Reiter), NY/London: Monthly Review Press. Pp.211-234

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Resumo de capítulo 2 do Espetáculo das Raças de Lilia Schwarcz

Notas de Cecilia McCallum para a Aula de 2/4 sobre "A invenção de ‘raça’. Teorias raciais no século 19"


Balanço das diferentes teorias raciais sec.XIX. Marcadas pela noção de evolução social – mas havia diferentes escolas de pensamento.

Não havia um conceito de ‘raça’ no séc. XVIII. Falavam de ‘povos’ e ‘nações’. No entanto, distintas formas de pensar a diferença no Sec. XVIII – bases para duas posturas distintas no Sec. XIX.

Humanismo – Rousseau – ‘defesa da humanidade una’.
Buffon, De Pauw e outros – diferenças essenciais entre os homens.

1 - ENTRE EDENIZAÇÃO E DETRAÇÃO
Sec. XVIII povos selvagens – começarem a ser vistos como ‘primitivos’.
Para Rousseau, os seres humanos – aperfeiçoaveis. A perfectibilidade era marca da humanidade una. Mas o ‘estado de civilização’ deixava o ser humano cheio de vicios, infeliz. Levava a desigualdade entre homens. A liberdade e a igualdade – naturais.

Os bons selvagens mais do que nada = um modelo lógico – são contrapostos aos homens ocidentais. Moralmente superiores.

Contra esta visão – Segunda metade do Sec XVIII – maior conhecimento das Américas. Teorias sobre inferioridade. Anti-americanismo.
Infantilidade, Carência, debilidade dos animais e a terra e os homens - Buffon (1707-88)
Degeneração, espécies inferiores, os americanos não só imaturos mas decaídos, corrompidos - Cornelius de Pauw.

"Portanto, no contexto intelectual do século XVIII, novas perspectivas se destacam. De um lado, a visão humanista herdeira da evolução Francesa, que naturalizava a igualdade humana; de outro, uma reflexão, ainda tímida, sobre as diferenças básicas existentes entre os homens. A partir do século XIX, será a Segunda postura a mais influente, estabelecendo-se correlações rígidas entre patrimônio genético, aptidões intelectuais e inclinações morais" (Schwarcz 1993:46-47)

2 - NATURALIZANDO AS DIFERENÇAS
A emergência da "raça" - A noção de "raça" emergiu nos finais do Sec XVIII / começo do Séc. XIX. Para Schwarcz, citando Stocking, quem introduziu o termo foi Georges Cuvier. Más S.J. Gould menciona Lineu (fundador do moderno sistema de classificação cientifica das espécies: " Na primeira definição formal das raças humanas, em termos taxonômicas modernos, Lineu mesclou traços do caráter com anatomia (Sistema Naturae, 1758). O Homo sapiens afer (o negro africano), afirmava ele, é "comandado pelo capricho"; o Homo sapiens europaeus é "comandado pelos costumes". (Gould 2003:21)]

O importante é que surgiu uma nova atitude à diferença – não mais o de ‘narrar’ – agora de "classificar, ordenar" – e hierarquizar.

ESSENCIALISMO: Embora Schwarcz atribui a Cuvier a invenção "da idéia da existência de heranças físicas permanentes entre os vários grupos humanos" (p.47)., outros veiem essa idéia como bem mais antiga. Gould cita Plato e Socrates como articuladores da noção de que diferentes grupos humanos ( no caso, classes na Grécia antiga – aristocratas, auxiliares, artesãs) tem essências distintas.

"Raça" – a noção fazia parte dos debates sobe o igualitarianismo. Representava uma noção chave para os que se opunhavam às revoluções.

PENSANDO NA ORIGEM: MONOGENISMO X POLIGENISMO
Debate – modelo igualitário contra doutrinas raciais
Pensado em termos de: a origem da humanidade e o problema da relação entre cultura (civilização) e natureza (meninos-lobos)

A visão monogenista – dominante até meados do Séc. XIX – humanidade una
Gradiente – humanos desde os mais próximos ao Eden, aos menos próximos e mais degenerados.

A visão poligenista – contestava o dogma monogenista da Igreja. Dominava a partir dos meados do Sec.XIX. Crescente sofisticação das ciências biológicas. Crença em vários centros de criação, correspondentes às diferenças raciais observadas. Raças humanas = "espécies diferentes". O selvagem não podia ser aperfeiçoado. Igualdade era impossível.

Frenologia – estudo dos traços fisionómicas – teoria ligava estes a capacidades intelectuais e qualidades morais.
Antropometria - tomando medidas do corpo.
Craniologia – estudos quantitativos sobre o crânio.

Determinismo biológico destas novas ciências como nova e poderosa "base" (suposta) na metodologia e rigor da ciência, dos estudos aparentemente empíricos. Ligação – comportamentos humanos – resultado de leis biológicas e naturais.

Cesare Lombroso – Antropologia Criminal. O comportamento criminoso – resultado de aspectos biológicos dos criminosos. Criminialidade – um fenômeno físico e hereditário (1876)

Nina Rodrigues - a antropologia brasileira – estrita ligação com a criminologia e a medicina legal. Problema do Brasil (esp. Bahia) a miscigenação. Raças não eram iguais – a mistura levava a piores problemas. O criminoso era sobretudo um doente – até curável for medidas fisiológicas. A lei tinha que ser aplicada de forma diferente dependendo da raça do criminis. Deveria focar o criminoso e não a crime.
Suas publicações:
As raças humanas e o responsabilidade penal no Brasil. 1894 .
Africanos no Brasil.1933.
Antropologia física desse tipo (poligenista) X. etnologia (monogenista) Guerra entre etnologia e antropologia – sociedades rivais e instituições distintas. "Imutabilidade dos tipos humanos" x "aprimoramento evolutivo das raças".

Paul Broca – Societé Anthropologique de Paris (1859) – Paul Broca – anatomista e craniologista. Procurava identificar ‘raças puras’ através estudo dos cranios. Tese da imutabilidade das raças.
Samuel George Morton - - American School of Poligeny – Crania Americana – 1839; e Crania Aegypta – 1844.

Sociedades etnologicas de Londres, Paris, Nova Yok. Monogenistas, files a Rousseau.

A EVOLUÇÃO ENQUANTO PARADIGMA
1859 – A Origem das Especies – Darwin- Resultou na diluição das disputas. Evolucionismo ganhou. Origem comum da humanidade.

Mas os poligenistas afirmavam que a divisão entre tipos muito antigo. Heranças e aptidões diversas entre raças... Social-darwinismo cresceu. Interpretações que divergem da intenção do próprio autor. Muitos exemplos do uso de conceitos para fins próprios (geografia, psicologia, lingüística etc.) Os darwinistas sociais ressuscitaram as perspectivas poligenistas do inicio do século.

Vínculos do modelo poligenista com o imperialismo europeu – "seleção natural" explicava o domínio ocidental – e o justificava. (Schwarcz 1993:56)

Mistura de raças- Para poligenistas - entre os quais biólogos, médicos, antropologos fisicos etc. – era um fenômeno recente. Mestiços = degeneração – Broca argumentou que a mula é estéril, e o mulato também. Gobineau – argumentou o oposto – lamentava a extrema fertilidade dos misturados.

Para os poligenistas, a Seleção Natural = Degeneração Social. Deveria se opor ao hibiidismo, manter as raças separadas.

Minimizaram a importância da origen comum. Enfatizaram as "leis da natureza" como determinantes (idéia presentes em Darwin, mas não no sentido social e cultural dado pelos novos poligenistas com a sua teoria de ‘raças’).

Determinismo biológico central, portanto, às suas idéias.
"Uma só teoria fundamentava, desta forma, as diferentes interpretações das escolas, que disputavam a hegemonia na representação de sua época" Schwarcz 1993:57

ANTROPOLOGIA CULTURAL: A DESIGUALDADE EXPLICA A HIERARQUIA
Etnologia ou antropologia cultural – (o que já estudamos nas mais recentes aulas)
civilização e progresso – modelos universais, não específicos a uma só sociedade.
Estágios de evolução –
método comparativo.
Princípio otimista – uma só humanidade, progresso ao alcance de todos.

O DARWINISMO SOCIAL: A HUMANIDADE CINDIDA
Seção mais desenvolvida.
2 grandes escolas deterministas:
Determinismo geográfico – Ratzel e Buckle "o desenvolvimento cultural de uma nação totalmente condicionada pelo meio – condições físicas do país.
Determinismo racial – Também conhecido como ‘darwinismo social’ e ‘teoria das raças’.
prezava a preservação dos ‘tipos puros’ – compreendia a mestiçagem como causa de degeneração racial e social.

Os teóricos de raça ensinavam uma antropologia biológica respaldada em 3 proposições básicas:
Realidade das raças. (distintas, como Cavalos vs. Jegues)
Continuidade entre carateres fisicas e carateres morais - A divisão entre raças correspondia a uma divisão entre culturas -
O grupo ‘racio-cultural’ determina o comportamento do sujeito.
Levou a um ‘ideal político’ – a submissão ou até eliminação das ‘raças inferiores’.
Eugenia:
O que é? Fundador Francis Galton – 1869 – Hereditary Genius. –
Tese central: que a capacidade humana é função da hereditariedade e não da educação.
Tornou-se um movimento social e cientifico vigoroso a partir dos anos 1880. Fundou políticas sociais: Intervenções administrativas dos estados – não mais seleção natural, agora seleção social, direcionado por estados.

Oposição entre: O ocidente – da raça ariana – o progresso e civilização.
X
As terras onde ocorria a miscenigação – a degeneração e a ausência de cultura/civilização.

A perfectabildade – privilégio apenas das ‘raças civilizadas’ (não mais de toda humanidade’)
As diferenças – irreparáveis e definitivas – a igualdade, portanto, um problema ilusório. Os darwinistas sociais filiados aos centros de antropologia (biológia) – pensavam que não havia uma humanidade – senão raças humans distintas – especies diferentes.

Ela então trabalha com 4 desses autores poligenistas:
O conde Gobineau (1816-1882) talvez o mais citado "sacerdote do racismo" : Essai sur l’ínegalité des races humaines 1853. Pp. 63- 64. O resultado da mistura sempre um dano. Sub-raças não civilizaveis. Os mestiços sub-racas Decadentes e degeneradas...

Que papel jogava a miscigenação, portanto, na ‘teoria das raças’?
...."grande divisor entre as concepções monogenistas das escolas etnológicas e as interpretações poligenistas...[da] antropologia da época" (p.64.)

O modelo racial fez sucesso no Brasil – até os anos 30 do Século XX. Más foi bastante adaptado para um pais mestiço.
Referência
Gould, Stephen Jay. ‘Introdução’ In A Falsa Medida do Homem. SP: Martins Fontes, 2003. Pp. 3-14
Schwarcz, L.‘Uma história de diferenças e desigualdades: as doutrinas raciais do Século XIX’. In: O Espetáculo das Raças. São Paulo: Cia das Letras, 1993. Pp. 43-66.
Sarah Baartmaan, a "Venus Hottentot". Ver o texto sobre a construção da diferença sexual.

Evolução social e racismo ciêntifico no século XIX



Autor: Erasmo Cachoeira

Desde a época dos ‘descobrimentos’, a era das grandes expedições promovidas pelas potências européias, se justificava a submissão dos territórios que eram o domínio do "outro", e este era sempre visto como estranho, diferente e, portanto, inferior. É nesse cenário que são travados diversos debates e reflexões sobre a diferença entre os homens. A partir do século XIX, mais precisamente 1870, chega ao Brasil às noções de evolução social como paradigma da época e ao mesmo tempo os modelos de teorias raciais.

Não é estranho (e nem por acaso) que se vá buscar uma explicação para essa "diferença" procurando as origens da humanidade. A procura levou a um debate no começo do século XIX, entre teóricos que defendiam o Monogenismo e aqueles que prezavam o Poligenismo. Na segunda linha, defendia, que a humanidade havia diversas origens, enquanto na primeira afirmavam que a origem era única (bem como a doutrina milenar das igrejas cristãs).

Estas duas correntes de pensamento emergiam de diversos antecedentes iluministas. No século XVIII, os humanistas acreditavam numa humanidade una, onde as diferenças estavam nos caminhos que essa humanidade tomava. Para Rousseau o ‘homem’ no estado de natureza era livre e feliz. A civilização trouxe a desigualdade e a infelicidade. Portanto, este autor e os seus seguidores davam valor ao primitivo, representado para os Europeus da sua época nos nativos das Américas. A idéia de ‘primitivo’ era associada ao modo de vida, comportamento e espaço natural onde estes "selvagens nobres" habitavam.

Quanto aos fundadores da antropologia do século XIX, os etnólogos – como Morgan Tylor e Frazer - eram monogenistas e os antropólogos físicos e biológicos eram poligenistas.

O monogenismo, além de se basear numa noção de origem única para a humanidade, estabelecia uma equidade ao nível de evolução: havia uma linha única de evolução aonde alguns de forma rápida e outros de forma mais lenta chegariam ao mesmo grau de evolução. Pensava que a humanidade pertencia a uma única espécie com o mesmo potencial inato. Deste modo, todos teriam a mesma oportunidade de evoluir, independente das suas características físicas superficiais. Além disso, o monogenismo dava uma conotação divina para a origem da humanidade.

Já o poligenismo partia da perspectiva dos escritores do século XVIII como Buffon e De Pauw que enxergavam inferioridade nos ‘primitivos’ habitantes das américas. Para os defensores do poligenismo, as diferentes origens dos distintos grupos de humanos poderiam ser vistas nas diferenças entre as supostas distintas "raças" humanas. Havia, segundo esta teoria, uma hierarquia natural entre as "raças" humanas que correspondia não só a seu grau de evolução, como também a sua capacidade evolutiva. Fazia-se uma justificativa da hierarquia estabelecida pelos poderes coloniais nos territórios conquistados, deixando de lado um foco nos aspectos históricos, políticos, econômicos e socioculturais para explicar as diferenças, para focalizar os aspectos supostamente biologicamente naturais. A interpretação biológica serviu para fundamentar a tese poligenista, junto à "frenologia e antropometria, interpretação da capacidade humana tomando como base o tamanho e proporção do cérebro dos diferentes povos". Segundo Schwarcz (1993:49), isso levou ao surgimento da antropologia criminal, cujo maior proponente no Brasil foi Nina Rodrigues.

De acordo com o pensamento poligenista não há mobilidade entre as raças "inferiores", ou seja, o determinismo biológico não dá possibilidade de uma possível "evolução". Pior que isso é a afirmação de que o cruzamento entre raças proporciona degenerações morais, físicas e sociais – teoria amplamente abraçada por Nina Rodrigues e sua escola de antropologia.

Após Darwin o monogenismo ganhou, mas o racismo cientifico desenvolveu-se baseado em muitas das ideias e abordagens poligenistas.

De acordo com os evolucionistas culturais, Morgan Tylor e Frazer "em todas as partes do mundo a cultura teria se desenvolvido em estados sucessivos (Ibid:57). Esses estágios, entendidos como únicos e obrigatórios - já que toda humanidade deveria passar por ele - seguiam determinadas direções que iam sempre do mais simples ao mais complexo e diferenciado" (Ibid:57-58). Essa proposta tinha um cunho comparativo e ao mesmo tempo delineador, pois traçava as bases de como deveria "seguir" para se atingir "o progresso" alcançado por alguns.

A escola determinista geográfica e o darwinismo social surgiram a partir desse contexto. Tendo como principais expoentes Ratzel e Buckle, a escola determinista geográfica baseou-se na idéia do meio-ambiente como definidor do desenvolvimento cultural de uma nação. O darwinismo social defendia que o cruzamento (miscigenação) era um erro, pois "não se transmitiriam caracteres adquiridos, nem mesmo por meio de um processo de evolução social" (Ibid:58).

Referência
Schwarcz, L.‘Uma história de diferenças e desigualdades: as doutrinas raciais do Século XIX’. In: O Espetáculo das Raças. São Paulo: Cia das Letras, 1993. Pp. 43-66.

domingo, 26 de abril de 2009

Sara Baartman


Sobre o artigo 'A construção da diferença sexual na medicina' de Fabíola Rohden

Autora: Eva Leal Pinho

Data da aula: 14/04/2009

O artigo de Rohden trata da construção histórica da diferença sexual abordando uma série de conceitos e teorias utilizados na Europa durante os séculos para explicar e justificar as diferenças entre homens e mulheres.

O modelo europeu mais antigo era de que existia apenas um sexo biológico. Para os europeus a diferença entre homens e mulheres estava no grau de perfeição, que era determinado pela quantidade de calor recebida pelo corpo. A perfeição era representada pelo corpo masculino. Acreditavam que quando um corpo em formação recebia calor suficiente para externalizar os órgãos reprodutivos, tornava-se um homem. O corpo que não recebia calor suficiente para se tornar ‘perfeito’ ficou com os órgãos internamente e virava mulher. Nessa concepção os órgãos reprodutivos seriam iguais, a diferença era somente que uns eram externos e outros internos.

No final do século XVIII um novo modelo surgiu, que insistia na existência de dois sexos. Vários fatores influenciam para essa mudança - como a revolução científica iluminista e os desenvolvimentos políticos que seguiram as revoluções francesa e americana. As diferenças ditas 'biológicas' constatadas entre homens e mulheres agora justificam a inferioridade feminina, sobretudo pelas suas funções reprodutivas. Outro aspecto deste novo determinismo biológico se destaca: A mulher é vista como um ser natural e o homem como um ser social, ou seja, não é mais uma questão de calor que externaliza órgãos sexuais e assim aperfeiçoa um corpo de tipo único e unisexo, mas uma diferença essencial e profunda que faz dos homens e das mulheres espécies diferentes.

Com a diferença sexual supostamente comprovada e aceita pelos cientistas atribuem-se aos homens elementos como inteligência e razão, e a mulher paixão e emoção.

A partir do século XIX, nos textos de cientistas e médicos, a maneira em que as diferenças entre homens e mulheres é concebida muda: As diferenças se tornam mais rígidas e as mulheres chegam até a serem consideradas desprovidas de razão e dominadas pela emoção. Rohden argumenta que esse tipo de construção ideológica visava manter a ordem social européia, que se baseava na desigualdade sexual e na opressão e exclusão da mulher.

Na época havia uma grande preocupação com as influências do meio social sobre o indivíduo. Por isso Matus defendia que era necessário exercer um maior controle sobre a mulher devido a sua responsabilidade sobre a reprodução. A instabilidade feminina servia como uma justificativa para afirmar sua maior vulnerabilidade e fragilidade física e moral em relação ao homem. Para muitos teóricos as mulheres eram altamente sensíveis, como as crianças, e muito mais passionais do que os homens, em função de algumas peculiaridades de sua natureza, como por exemplo, maior delicadeza de suas ‘fibras’ e a maior irritabilidade do sistema nervoso feminino. (Moscucci, 1996)

As mulheres eram assim consideradas: "São a expressão viva do que seria como um inverso da razão ou a figuração de uma humanidade ainda não tocada pela razão" (Peter, 1980:84).

A construção da diferença entre os sexos também tinha uma dimensão racial. A inferiorização racial também era bastante difundida neste período. De fato os mesmos cientistas que prezavam a diferença biológica entre raças ‘inferiores’ e ‘superiores’ enxergavam diferenças biológicas entre homens e mulheres e alegavam a inata inferioridade feminina. O interesse de anatomistas europeus pela investigação científica do corpo da africana Saartjie (Sarah) Baartmann, também conhecida como a 'Vênus Hotentote', é um exemplo disso. Georges Cuvier foi um dos anatomistas que estudou as características distintivas desta ‘raça curiosa’ a qual Sarah pertencia. Ele publicou em seu livro com Saint-Hilaire ‘História Natural dos Mamíferos’ fotografias dela tiradas no inicio de abril de 1815 no Jardin du Roi. No livro Baartmann aparece como uma das 120 espécies de mamíferos. Sarah possuía nádegas volumosas e foi capturada e exibida em circos e espetáculos na Europa.
(As duas figuras de Baartmann que serão postadas em seguida são pranchas realizadas por Léon de Wailly e litografadas por C. de Last. História Natural dos Mamíferos, 1824.)
"A apresentação em jaula realçava-lhe a natureza supostamente perigosa e selvagem, a qual se associava a noção de sexualidade também perigosa, incontrolável. Para Stephen Jay Gould, a fama da Vênus Hotentote como objeto sexual provinha justamente das duas características que seu próprio apelido realçavam, ao combinar uma suposta bestialidade ("hotentote") com as fascinação lasciva ("Vênus"). O interesse lascivo despertado pelas apresentações de Sarah fica explícito nos inúmeros cartuns que focalizavam suas nádegas" (CITELI, 2001,164).
Criminalistas como Lombroso retrataram as prostitutas da época como excessivamente sexualizadas, condição representada também pela atribuição de um certo tipo de corpo a elas - como Baartmann, supostamente elas geralmente tinham amplas nádegas. Para esses cientistas, era necessário controlar as mulheres para que não se tornassem deviantes de criminosas.
Todas essas concepções mostradas acerca da diferença sexual são fortemente marcadas pela cultura. Por isso, os teóricos do séc. XIX desenvolveram muitos trabalhos para afirmar e/ou criar teorias que colocassem a mulher num plano inferior, com o argumento de que são naturalmente assim. Ou seja, foi nesse século que o determinismo biológico floresceu como ferramenta para a subordinação política das mulheres.

Referências:
ROHDEN, Fabíola. 'A construção da diferença sexual na medicina', Cad. Saúde Pub. 19 (Sup.2)S201-212. 1996.
CITELLI, Maria Teresa. 'Fazendo diferenças: teorias sobre gênero, corpo e comportamento.' Estudos Feministas, Vol9/1. 2001.
CUVIER, Georges, SAINT-HILEIRE, Étienne Geoffroy. História Natural dos Mamíferos, 1824.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

A Confederacia Iroquois


Parentesco Iroquois



Homem e Mulher Iroqueses

Lewis Henry Morgan e a Teoria de Parentesco

Autor: Hugo Santiago Mendes

A aula do dia 31 de março tinha como objetivo central apresentar aos discentes os antropólogos clássicos, Lewis Henry Morgan (1832 – 1917), Edward Burnett Tylor (1832 – 1917) e George Frazer (1854 – 1941), teóricos da corrente evolucionista, a partir da apresentação do livro "Evolucionismo Cultural: textos de Morgan, Tylor e Frazer", do doutor em antropologia social Celso Castro.
Segundo a docente é utilizado o termo "evolucionismo clássico", para diferenciar de uma outra perspectiva evolucionista que retornou a partir do século XX. O evolucionismo social clássico refere-se às teorias que analisa a sociedade a partir de estágios pré estabelecidos: havia um início num estado primitivo e com o passar do tempo tornavam-se civilizadas. Neste contexto estágio primitivo é associado ao comportamento mais animalesco, enquanto o civilizado é visto como a representação máxima do eixo cultural do continente europeu do século XIX.

Possivelmente, partindo de uma opção didática, antes de apresentar as contribuições de Morgan, a docente optou por trabalhar com os antropólogos Sir Henry Maine e John MacLennan. Enquanto o primeiro publicou uma obra sobre a origem da sociedade em que destacava a origem social a partir dos núcleos familiares – unidos por laços de parentesco – criticando assim a concepção de Contrato Social desenvolvida pelo filosofo suíço Jean Jaques Rousseau; o segundo efetuou um estudo destacando os estágios por qual passava a organização social, partindo sinteticamente por um momento de anarquia e promiscuidade, passando pela poliandria (uma mulher se relacionado com diversos homens, em geral, irmãos), para então chegar à matrilinearidade, então patrilinearidade para depois alcançar o status de civilização, que segundo os evolucionistas culturais clássicos, na esfera de parentesco, é representada pela família burguesa.

A partir da descrição destas duas formas distintas de analisar a sociedade foi apresentado o estudo realizando pelo antropólogo norte–americano Lewis Morgan. Filho de latifundiário, Morgan estudou direito no Union College, profissão que desenvolveu por algum tempo. [Segundo a docente a maioria dos evolucionistas eram advogados, sendo possível verificar tal formação a partir da escrita composta de termos jurídicos.] A aproximação com a antropologia iniciou-se com a vinculação do mesmo com uma associação de estudantes denominada "Ordem do Nó Górdio", que tinha como objetivo o estudo dos clássicos; segundo Celso Castro, "por sugestão de Morgan, a associação mudou seu nome para Grande Ordem dos Iroqueses, numa alusão aos índios desse grupo que viviam nas redondezas". (CASTRO, 2005, p. 9). Os iroqueses são um povo indígena conhecido por sua matrilinearidade. Na época do primeiro contato com os europeus os 5 tribos iroqueses estavam unidos numa "Confederacia" onde epersentantes das matrilenhagens eram escolhidas por mulheres e homens, forma de organização que perdurou até o Século XIX (e ainda hoje). Mais tarde, esta organização política levou alguns antropologos de chamar o sistema um estado baseado no parentesco).
A etnografia dos iroqueses ocupa um lugar de destaque na antropologia, por este grupo social ter providenciado um exemplo a primeira mão da importancia das relações de parentesco para organizar as sociedades consideradas 'primitivas'. Morgan se interessou e esta atitude lhe proporcionou uma pesquisa importantíssima em relação aos costumes e às regras sociais deste grupo indígena, fato que irá proporcionar o desenvolvimento de suas primeiras teorias em relação à organização social, tanto que ainda se discute a obra e o legado do autor.

Um dos objetos centrais do estudo de Morgan será o parentesco. Ao analisar os índios iroqueses o antropólogo percebeu que havia uma lógica que determinava as relações familiares. Em sua primeira obra "Sistema de consangüinidade e afinidade" publicada no ano de 1871, irá surgir classificações ainda utilizadas na contemporaneidade: por exemplo, 'primos cruzados' e 'primos paralelos'. Os primos cruzados são filhos de irmãos de sexo diferente. Em muitas sociedades que fazem esta distinção estão ligados por uma relação de afinidade, podendo casar-se no caso de primos de sexo oposto ou a se considerar cunhados potenciais no caso de primos do mesmo sexo. Já os primos paralelos são filhos de irmãos do mesmo sexo; estes passam a ser considerados irmãos consangüíneos e não podem casar ou se pensar como afins (ou seja, não são cunhados potenciais).

Segundo Morgan, esta pesquisa proporciona a identificação de dois sistemas de parentesco: o sistema classificatório e o sistema descritivo. O primeiro era característico das sociedades ditas ‘primitivas’, onde a classificação terminológica das relações familiares podia extrapolar a concepção de família que é geralmente associada aos sistemas judaica–cristãos de origem europeu (mãe, pai e filho). Nos sistemas classificatórios de parentesco, categorias de parentes que são vistos como distintas para os europeus e norte americanos, como irmão e primo ou tio materno e tio paterno, por exemplo, são considerados como uma categoria só. Por exemplo, a tia materna (irmã da mãe) classificada como 'mãe'; e um primo paralelo como irmão. Morgan descreveu 15 variantes desse ‘sistema de parentesco classificatório’, tabulando e apresentando os resultados das suas pesquisas na América do Norte e na Ásia. Já o sistema descritivo era relacionado às sociedades consideradas civilizadas. Nesse sistema, a classificação dos parentes seguia as relações ‘reais’ de parentesco, de um ponto de vista biológica, segundo Morgan. Nesse sentido, ao seu ver as categorias terminológicas de parentesco eram descritivas.

Assim, mesmo com as limitações da época que não conseguia efetuar o exercício da alteridade – compreender e respeitar o outro – caracterizando as sociedades a partir de uma perspectiva evolucionista, Morgan traz uma contribuição bastante importante para o estudo antropológico: demonstrar que nas sociedades ditas "primitivas" havia também um sistema de parentesco.

Devido ao pouco tempo não foi possível finalizar todo o conteúdo proposto para refletir as contribuições deixadas por Morgan, nem iniciar a explanação acerca dos antropólogos Edward Burnett Tylor e George Frazer, objetos de conhecimento desenvolvidos na próxima aula.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Comentários sobre o Evolucionismo Cultural: Edward B. Tylor (1832 - 1917) e J.C. Frazer (1854 - 1941) e o Evolucionismo Cultural


AUTORA: Simone dos Santos Borges

E.B.Tylor e J.C.Frazer juntamente com L.W.Morgan e outros teóricos como H. Maine e J. McLennAn, fomentaram o pensamento evolucionista na antropologia. O trabalho de Tylor e Frazer passa pela discussão sobre as instituições religiosas, daquelas que para esses autores são ancestrais comuns de toda humanidade.
Durante a aula no dia 02/04/2009, tomamos conhecimento que o esquema da evolução da religião de Tylor segue de um modo geral os estágios definidos por Lubbock, outro evolucionista do Sec. XIX.
Lubbock defendeu que a evolução da religião passou pelos seguintes estágios:
  • Ateísmo
  • Fetichismo: (objeto) – {animismo}
  • Totemismo: (natureza) – {animismo}
  • Xamanismo (há um mediador entre o homem e as forcas naturais - Xamã)
  • Idolatria
  • Teísmo (as grandes religiões).
'Totem' - Palavra oriunda do grupo Ojibwa (EUA), a qual possui símbolos com figuras de animais (ursos, lobos etc.), cada um representando um clã.

Totemismo pode ser definido então como representação simbólica do social pelo natural. No caso dos Ojibwa as informações a respeito do totem são transmitidas através da tradição oral. Alem dos totens coletivos, ou seja, de representação clanica há o manitoo, uma espécie de totem individual. Para cada totem há uma ligação com as atividades cotidianas do indivíduo ou grupo.

Mas o que Tylor e Frazer têm a ver com o totemismo?
Tylor tinha como área de interesse para seus estudos a "religião". Procurou defini-la para alem da idéia de deuses separados da humanidade e superiores a ela. Tylor definiu a religião como "crença em Seres Espirituais", pois para ele a experiência do sonho levava as pessoas a crerem que tinham uma parte incorpórea que podia ser separado do corpo. Assim para ele o fato de homens crerem que objetos inanimados possuíam espíritos era a idéia da criança que crer que os objetos a sua volta ganham vida.

Fundador do método comparativo, segundo Lucy Mair, Tylor utilizava em suas pesquisas a "aritmética social", ou seja, dispunha os costumes em tabelas para ver como se relacionavam. Estudou a questão da primordialidade ou da patrilinearidade ou da matrilinearidade – ou seja, que sistema surgiu primeiro? e após descobrir que nas sociedades matrilineares a mulher não exercia a autoridade, rejeitou os termos ‘matriarcal e ’patriarcal’. Frisou a importância do casamento entre filhos de irmãos e irmãs nas sociedades simples, desenvolvendo a frase 'casamento de primos cruzados', e também introduziu em Antropologia o termo "sobrevivência" sendo isto:
  • "processos, costumes, opiniões, etc., que foram transportados pela força do habito para um novo estado da sociedade diferente daquele em que se tinham organizado e, que, desta forma permanecem como provas e exemplo de uma condição cultural mais antiga de onde a mais nova se desenvolveu" [Tylor em Primitive Culture, 1913, vol.i, p.16, citado por MAIR 1985. Pp31]

Tylor é considerado por alguns como o pai da Antropologia Cultural. Foi o primeiro a tentar formular o conceito através de uma definição formal. Ao definir cultura como objeto de estudo antropológico, Tylor criou as bases para a antropologia cultural:

  • "Cultura ou Civilização, tomada em seu mais amplo sentido etnográfico, é aquele todo complexo que inclui conhecimento, crença, arte, moral, lei, costumes e quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem na condição de membro da sociedade". [Tylor, em Primitive Culture, citado por CASTRO 2005, Pp17].

Enquanto isso, Frazer mantinha interesse pelos estudos clássicos, o que não o impediu de tornar a Antropologia conhecida de todos. Seus estudos focalizaram o campo religioso, sobe o qual reuniu uma grande quantidade de dados tratando de diferentes temas, como mitos e rituais,. Frazer começou consultando autores da tradição Greco-Romana, passando depois a observar e estudar as características das religiões das sociedades simples.

Sua principal obra "O ramo de Ouro" explica o tema da mitologia clássica, no templo do Bosque Nemi, onde qualquer indivíduo poderia se tornar sacerdote, caso arrancasse o ramo de ouro da arvore sagrada e matasse o sacerdote. Frazer também salientou a importância de catalogar as informações sobre os selvagens antes que fosse tarde, pois percebia que já eram quase escassos, visto que para este autor os indivíduos "selvagens" constituíam uma fonte viva de informações sobre os estágios mais primitivas na evolução humana. Segundo Castro (2005), uma palestra dada por Frazer em 1908 sobre ‘O escopo da antropologia social', pode ser vista como o momento inaugural da a Antropologia Social.

Porém enquanto seu prestigio e reputação crescia com a comunidade leiga, decaia com os antropólogos que o sucediam. A partir de 1920 o evolucionismo cultural havia passado.

Assim, Frazer e Tylor trouxeram em sua época esclarecimentos sobre a relação do ‘homem’ com a instituição religiosa, além de revolucionarem o estudo da Antropologia que até hoje servem de base para os novos antropólogos que não negam seu pioneirismo, mas devido ao avanço nos estudos antropológicos acabam por rejeitar tais teorias, sem lhes negar a devida importância e respeito que merecem.

Referencias
CASTRO, Celso. 2005. Apresentação. In: CASTRO, Celso. ‘Evolucionismo Cultural. Textos de Morgan, Tylor e Frazer.’ Jorge ZAHAR Editor. RJ. Pag. 7 – 38.
MAIR, Lucy. 1985. ‘Como se desenvolveu a antropologia social.’ In: MAIR, Lucy. Introdução a Antropologia Social. ZAHAR editores, RJ. Pag.24 – 36.

Difusionismo e Evolucionismo

AUTORAS: Marina Rute Pacheco & Dilaze Mirela Fonseca

A aula do dia 26 de março de 2009, respaldada no texto de Lucy Mair: ‘Como se desenvolveu a antropologia social’ foi dirigida pela professora Cecília McCallum. A partir da leitura do texto e da discussão em classe pudemos fazer uma síntese geral do que foi abordado.

A história da antropologia está indissociavelmente ligada à busca pelo conhecimento de nossa origem, isto é, das formas mais simples de organização social e de mentalidade até as formas mais complexas das nossas sociedades. No século XIX, a etnologia se aderiu à teoria do monogenismo enquanto a antropologia física defendia o poligenismo. Foi nesse período que surgiram dois linhas de pensamento teórico entre os etnólogos acerca da origem do ser humano: o evolucionismo e o difusionismo.

Evolucionismo cultural clássico
O evolucionismo foi influenciado pela teoria da seleção natural de Charles Darwin que se consistia na tentativa de explicar a diversidade de espécies de seres vivos através da evolução. No entanto, a teoria de evolução empregada pelos etnólogos deve mais a outro autor, o sociólogo e filósofo Herbert Spencer, cujo conceito de evolução difere em importantes aspectos daquela desenvolvida por Darwin. Mesmo assim, posteriormente, a abordagem Spenceriana ficou conhecido como ‘darwinismo social’.

Os étnologos evolucionistas consideravam a sociedade européia da época como o apogeu do processo evolucionário. Portanto, este pensamento estava inserido em uma visão etnocêntrica que coloca a organização sócio-políco-econômica européia como grau máximo de civilização. Entretanto, mesmo considerando esse pressuposto, a antropologia cultural da época não se tornou uma pseudociência racista.

A tese evolucionista apoiava o princípio da unidade psíquica da humanidade de Adolf Bastian, e defendia a existência de apenas uma espécie humana idêntica inicial (monogenismo), que se desenvolve tanto em suas formas tecno-econômicas como nos seus aspectos sociais e culturais. A evolução ocorre em ritmos desiguais, de acordo com as populações e localizações geográficas, passando pelas mesmas etapas, para alcançar o nível final de "civilização". Assim, a proposição básica era de que o desenvolvimento humano seguiu estágios. Em cada étapa a experiência humana acumulava, levando a formação cultural cada vez mais avançada. Esta ideia - de que a experiência humana acumula - foi inspirada no raciocínio empírico de John Locke e outros filósofos do ‘empirismo’ do Séc XVIII.

Dois argumentos davam suporte ao evolucionismo: movimento unilinear e o determinismo tecnológico ou social. Segundo a tese evolucionista, haveria um caminho só a ser trilhado por todas as sociedades, numa trajetória vista como obrigatória, seguindo uma única linha ascendente, de estágios mais simples aos mais complexos (do mais selvagem ao mais civilizado). O determinismo social e cultural defende que o indivíduo é determinado pelo meio sócio-cultural, portanto define o estagio de maior evolução de uma sociedade, pelo grau de complexidade de sua tecnologia; já o determinismo biológico defende que a biologia é que determina o indivíduo, implicitamente os sujeitos de pele mais alva seriam os mais evoluídos. Os evolucionistas culturais clássicos não pregaram esta postura abertamente, sendo os antropólogos físicos e os biólogos do Sec.XIX os maiores defensores desse ‘racismo cientîfico’.

Os tópicos de interesse dessa corrente teórica eram basicamente casamento, família e organização sócio-política; religião, magia e outros sistemas ideológicos; relação indivíduo-sociedade. Interessavam-se, portanto no estudo das tecnologias, idéias e formas de organização social.

O método científico usado na antropologia (etnologia) é a comparação de dados, retirados das sociedades e contextos sociais, classificados de acordo com o tipo (religioso, de parentesco, etc), determinado pelo pesquisador. Os dados coletados lhe serviriam para comparar as sociedades entre si, fixando-as num estágio específico, inscrevendo estas experiências numa abordagem linear, diacrônica, de modo a que todo costume representasse uma etapa numa escala evolutiva.

Não se pode generalizar e atribuir as características acima a todos os autores que foram adeptos a essa corrente. Apesar da maioria dos pensadores evolucionistas terem trabalhado em gabinetes, um dos mais conhecidos: Lewis H. Morgan realizou pesquisas com algumas tribos dos Estados Unidos. Morgan compreendeu que grande parte da complexidade da cultura nativa americana em pouco tempo seria destruída como conseqüência do fluxo de europeus, por isso considerava tarefa crucial documentar a cultura tradicional e a vida social desses nativos. Outros pensadores importantes para o evolucionismo cultural são: Edward Burnett Tylor, considerado o pai do conceito moderno de cultura; John Lubbock, primeiro a rejeitar a cronologia bíblica que dizia que o mundo teria uns meros 6 mil anos: introduziu os termos paleolítico e neolítico, Velha e Nova Idades da pedra, hoje reconhecidas como períodos-chave do passado pré-histórico. A partir do estudo desses pesquisadores podemos perceber a relação existente entre arqueologia e etnologia que resultou na quebra do historicismo universal.

Difusionismo
A antropologia difusionista veio em resposta ao evolucionismo e foi sua contemporânea. Foi caracterizada pela anti-unilinearidade, ou seja, não admitia a reta constante e ascendente cultural defendida pelos evolucionistas. Portanto, a cultura para o difusionismo era um mosaico de traços advindos de outras culturas precussoras com várias origens e histórias.

Privilegiava o entendimento da natureza da cultura, em termos de origem e extensão, de uma sociedade a outra. Para os difusionistas, o empréstimo cultural seria um mecanismo fundamental de evolução cultural. O difusionismo acreditava que as diferenças e semelhanças culturais eram consequência da tendência humana para imitar e a absorver traços culturais, como se a humanidade possuísse uma "unidade psíquica", tal como defendia Bastian.

Dentro do difusionismo existia duas correntes principais: uma britânica e outra alemã. Na escola Alemã, conduzida por Wilhelm Schmidt e Fritz Graebner, acreditava-se que os traços culturais difundiam-se em círculos para outras regiões e pessoas através de áreas culturais variadas. Esses círculos culturais eram chamados de 'Kulturkreise'. A escola alêmã foi a principal especialização, uma vez que o evolucionismo foi questionado por Herder, que foi inspirado pela unidade psíquica proposta por A. Bastian, trazendo a questão da singularidade e da geografia da herança cultural de cada povo.

Na versão britânica do Difusionismo existia apenas um centro cultural primordial (difusão heliocêntrica, alusão ao Deus Sol egípcio) que era o Egito Antigo, do qual todos os traços culturais derivaram. Os principais adeptos dessa teoria inglesa foram G. Elliot Smith e William J. Perry.

O difusionismo tem respaldo científico, a partir do momento que suas inferências são baseadas em achados arqueológicos e pesquisas etnográficas.

BIBLIOGRAFIA
ERIKSEN, Thomas .H. & Nielsen, Finn S. História da Antropologia. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007
LAPLANTINE, F. Aprender Antropologia. São Paulo: Brasiliense, 2003. [1988]

www.antropologia.com;
www.wikipedia.org.

quarta-feira, 11 de março de 2009

O que é Antropologia?

Autora: Luana Nascimento Vieira

Na aula do dia cinco de março 2009 a palestra abordou os seguintes temas:
O que é antropologia, seu objeto de estudo e suas vertentes: (1) a antropologia física( biológica) e (2) a antropologia social/cultural.

A antropologia é uma ciência que estuda todos os aspectos, experiências e história da humanidade. Estuda a capacidade, as noções e as formas de comportamento que as pessoas adquirem enquanto membros de uma sociedade. A palavra vem de ‘antropos’ e ‘logos’, termos gregos que podem ser traduzidos como ‘ser humano’ e ‘saber’, ou seja: a antropologia é o estudo dos seres humanos.

Dentro da discussão da disciplina e do seu objeto de estudo, outro questionamento foi levantado na sala, "o que é cultura"?
A palavra "cultura" vem de uma expressão do latim "colere" que quer dizer cultivar o solo, cuidar. Na antropologia, cultura representa a identidade de uma sociedade, seus costumes, tradições e organizações. Existindo em todo o mundo e ao longo da historia da humanidade diferentes culturas e não culturas superiores ou inferiores. Daí o equívoco em utilizar o termo "primitivo" para identificar certos povos.
Dentro das suas segmentações, a antropologia física(biológica) estuda os aspectos naturais do ser humano e a evolução. Inclui o trabalho dos paleontólogos, por exemplo. Para melhor compreensão desse ramo foi passado dois textos da reportagem de Scientific American, "Novo olhar sobre a evolução humana (n.2, 2003), um artigo de Ian Tattersal e um artigo de Rebecca L. Cann E Allan C. Wilson, " A recente gênese africana dos humanos". Os textos discutem a prosota de que os seres humanos modernos têm como ancestral comum uma africana que viveu há menos de duzentos mil anos. Isso é importante porque a antropologia fisica apoia a unidade da humanidade, e desmente a sua divisão em distintas raças com origens separadas.
A antropologia social/cultural foi desenvolvida de formas distintas em diferentes países e regiões. Na Grã-Bretanha foi desenvolvida a antropologia social, que estuda as interações entre os membros da sociedade. Nos EUA, foi desenvolvida a antropologia cultural, dividida em ‘quatro campos’:
  • antropologia biológica(física),
  • antropologia cultural,
  • antropologia arqueológica
  • antropologia lingüística.

Na França, os antropologos dividiram o trabalho antropológico em etnologia e etnografia. A etnologia compara diferentes sociedades e culturas, a etnografia estuda um determinado grupo que vive num dado presente.

Enfim, foi visto nessa aula que a antropologia é uma ciência holística que estuda a complexa unidade humana e as diferenças entre os povos.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Site fantastico - documentários antropológicos, entrevistas com antropologos conhecidos e muito mais... http://www.nextimagem.com Ver "referências" para filme sobre Malnowski.